Sebastião Buck Tocalino | 19.06.2021 12:50
Tudo muda. Por isto, na economia e nos mercados financeiros, precisamos estar atentos. Constantemente. Por melhor que seja uma análise, ela não é definitiva ou permanente.
Não sou de publicar análises com frequência e, muito menos, citar os papeis em minha carteira pessoal. Mas, este ano, muitos amigos me pediram sugestões. No início de março, resolvi fugir ao costume e escrevi sobre quatro papeis, nos quais, eu me posicionara (artigo). Quem seguiu aqueles palpites, não se arrependeu. Da publicação, até o fechamento desta terça-feira (15/6/2021), as rentabilidades obtidas foram:
Lembre-se que a maior demanda por títulos aumenta seus preços e, consequentemente, abaixa seus juros. Juros são a diferença entre o preço pago na aquisição e o valor do título na data do vencimento.
Os leitores daqueles meus três artigos, todos publicados no mês de março, deverão ter isto em mente. Assim como minhas considerações atuais. Paradoxalmente, elas contradizem as declarações do presidente do Federal Reserve (banco central americano), divulgadas na tarde desta quarta-feira.
Jerome Powell advertiu sobre a possibilidade de uma elevação antecipada da taxa básica de juros americanos, embora não em 2021. Ficou a ideia de que o Fed reconhece uma maior ameaça inflacionária. Tal risco justificaria a elevação dos juros.
Desde o ano passado, até algumas semanas atrás, eu realmente temia a inflação. Baseava-me em alguns fatores. Entre eles:
O gráfico abaixo mostra a inflação anual no custo de vida americano, em contraposição à variação anual nos preços do petróleo. Fica clara a correlação entre ambas.
Também existem restrições legais e constitucionais impedindo o banco central de criar dinheiro para que o governo distribua à população. A justificativa institucional de um banco central é justamente promover estabilidade de preços e menores níveis de desemprego.
Para monetizar a dívida pública, mais fácil seria uma enorme desvalorização do dólar perante o ouro, promovida pelo Tesouro americano. Isto diminuiria rapidamente o endividamento público, através das próprias reservas de ouro do governo americano. Mas não acredito que possa acontecer tão facilmente ou tão cedo... Diante da minha perspectiva de desinflação nos EUA, diminuí muito a minha exposição ao ouro, bem como minha aposta na desvalorização do dólar. Foi em fevereiro do ano passado que me posicionei no ouro. Foi bom até agosto de 2020. De lá para cá, o ouro só devolveu parte daquela alta. Voltarei a aumentar minha posição no metal precioso só quando enxergar novos indícios de maior inflação da economia e uma desvalorização do dólar. E o ouro, caindo mais esta semana, parece endossar mais a minha análise, do que embasar o discurso do Fed. Não há muitas dúvidas de que o banco central é muito mais reativo, do que preventivo.
Desde abril, os próprios juros de dez anos nos EUA já mostravam uma menor expectativa de inflação.
Enfim, o tempo dirá quem está certo...
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