Respostas Simples… e Falsas

 | 29.11.2021 15:34

A razão é uma grande emoção, é o desejo de controle. Há algo curioso na frase de Nietzsche: a razão não é o controle em si; ela é somente um desejo, uma sensação (falsa) de controle. Controle mesmo nunca teremos. Existem apenas algumas situações em que, por confundir risco com volatilidade ou dispersão de resultados, tem-se uma menor sensação de controle.

Prefiro a versão da Artemis Capital, de que a volatilidade não é nada além da revelação da verdade. Risco mesmo está na verdade não dita ou não percebida. A chance de as coisas saírem diferente do esperado — se algo já está nas suas expectativas, você está preparado para aquilo. Perda permanente do capital: é com isso que deveríamos estar mais preocupados, não propriamente se tal ação ou título subiu ou caiu hoje.

“Para onde vai o dólar?”
“Vai ter rali de fim de ano?”
“Quem vai ganhar a eleição?”

Ninguém sabe. E o mais engraçado: todos sabem que ninguém sabe. São exercícios ridículos, mas repetidos ad nauseam . Você pega a projeção do Focus em 2 de janeiro para o respectivo final do ano. Em 31 de dezembro, confere a estimativa. Identifica um erro gigante. E o que faz no ano seguinte? Vai lá de novo conferir o Focus. É uma das definições de loucura: repetir um experimento esperando um resultado diferente. O princípio da contraindução de Mario Henrique Simonsen. Vamos repetir algo que deu errado até que dê certo.

Preferimos respostas fáceis. O investidor não quer a resposta honesta, a única possível sob o mínimo de humildade e honestidade intelectual: eu não sei. O bom analista reconhece suas limitações e não é um adivinhador de preços de ativos — essa atividade cabe aos charlatões. Procuramos boas assimetrias ponderadas pela distribuição estimada de probabilidades. É pouco? Talvez, mas é o único caminho possível, que, se repetido com rigor científico no longo prazo, traz bons retornos lá na frente. Com erros e acertos, um resultado final positivo.

Estamos todos, porém, sempre ávidos pelas respostas prontas, simples e diretas, sem nuances ou tergiversações. Sabemos que os embates dialéticos são vencidos por melhores regras de retórica; não por superação positiva. Isso é mais grave do que gostaríamos de supor. Passa para a história apenas a versão mais convincente, não necessariamente a mais correta ou honesta.

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A simplicidade é uma das regras vencedoras da retórica. A resposta pronta é simples, mas desejada. Ela nos passa a sensação de controle. Preferimos ser enganados a enfrentar as nuances da dúvida e da incerteza. É insuportável conviver com o não saber, com a imperiosa necessidade de reconhecer nossa completa ignorância. Como se fôssemos lembrados a cada instante de nossa insignificância cósmica. Jogamos um jogo sem saber direito as regras, sem necessariamente um vencedor ou um juízo final. Ou talvez as regras sejam aquelas que nós mesmos decidimos impor, dando à vida o sentido que achamos pertinente. O prêmio da virtude é a própria virtude. Nada além.