Risco Político no Ar

 | 22.07.2021 08:50

Em resumo

Nos EUA, no mundo desenvolvido, os mercados resolveram se apoiar na tese de que a retomada da economia acontece, mesmo com as incertezas sobre a nova variante Delta. Acham que o ritmo de vacinação acelerando deve neutralizar, em grande parte, este risco. Por isso, nos mercados quarta-feira confirmou o dia anterior, em mais uma alta consistente nas bolsas de valores, anulando as perdas de segunda-feira. Contribuiu também, no Congresso americano, o avanço das negociações em torno do pacote de apoio à infraestrutura. No Brasil, não se pode ser tão otimista, até porque o Centrão vem “loteando”, cada vez mais, um governo já acuado e desgastado politicamente. 

Loteamento do governo/h2

De novidade o anúncio de que o presidente resolveu realizar mais uma reforma ministerial, meio que no susto, recriando o ministério do Trabalho (na verdade, “do Emprego e da Previdência”) e esvaziando um pouco mais o ministro Paulo Guedes. Tudo isso para “acomodar” o senador Ciro Nogueira, do PP, na Casa Civil, deslocando Luiz Eduardo Ramos para a Secretaria Geral e também Onyx Lorenzoni para o novo ministério. Ganha ainda mais força o Centrão, já na “ante-sala” do presidente, responsável por toda sua agenda política. Lembremos que lá já está a deputada Flavia Arruda, Secretaria Geral da Presidência, também importante na “articulação política”. 

Pelo jeito, o governo presidencialista de Jair Bolsonaro vai, cada vez mais, se parecer com um governo parlamentarista, refém do Congresso, com o Centrão dando as cartas nas articulações e na agenda política. 

O receio aqui é recairmos na tentação do aumento de gastos eleitoreiros, visando 2022. 

Esta “reorganização ministerial”, este “freio de arrumação”, acabou inevitável depois do desgaste pela decisão do Congresso, com apoio da bancada governista no indecente aumento do fundão eleitoral a R$ 5,7 bilhões. Bolsonaro disse que iria vetar, o que, claro, acabou gerando mal estar entre os políticos mais fisiológicos do Congresso, destaque para as esquerdas, os fisiológicos e o Centrão.

Na saída da área do trabalho da esfera de Paulo Guedes, a necessidade de “turbinar” o emprego, diante do universo de 14 milhões de desempregados no País. Políticas eleitoreiras até 2022 acabarão inevitáveis.

Como fica Paulo Guedes? Sai enfraquecido? Com certeza. Pelo “andar da carruagem”, com o próximo ministério a ser criado, também deve sair de uma “costela” do ministério da Economia de Paulo Guedes. Já se comenta, há algum tempo, sobre a necessidade da recriação do ministério do Planejamento ou da Indústria e Comércio. Mas se ele não reclama... Ora ou outra, observamos alguém do ministério saindo. Claro me parece que caso Bolsonaro emplaque o segundo mandato, Guedes não deve continuar. 

Quem é o senador Ciro Nogueira? Senador do Piauí pelo PP, hoje, principal base de apoio do presidente, tanto por seu tamanho e influência, quanto por lá estar o presidente da Câmara, Arthur Lira. Envolvido no imbróglio da LAVA JATO “até o talo”, foi da base de apoio do PT até 2018. Em 2017, cunhou uma frase lapidar sobre como são estes políticos do Centrão, sempre “gravitando” em torno do poderoso de ocasião: 

“Bolsonaro, tenho muita restrição, porque é um fascista. (...) Lula é o melhor presidente da história deste país. (...) Não me vejo na eleição votando contra o Lula, por tudo que ele fez, por tudo que tirou de miséria desse povo”. Que coisa não?

Concluindo, achamos que a “reorganização ministerial” aumenta a influência do Centrão, cria uma barreira decisiva ao impeachment e envia um sinal para o Parlamento: ainda há confiança na recuperação da popularidade do governo por meio da retomada econômica e do avanço da vacinação. Se ela vier, pode dar certo - com todas as concessões do mundo e um governo quase parlamentarista, nesse ínterim (sobre isso, seguem intensos os debates em torno de um regime semipresidencialista, talvez para 2026). 

Segundo o Relatório Reservado, “o problema é que, por trás disso, o presidente - como fez Dilma - mostra fraqueza e joga todas as suas fichas em uma só aposta. Se Arthur Lira já atua como uma espécie de primeiro ministro e “fiador" do governo, agora esse cargo será dividido com Nogueira. Os adversários - e aliados - sentirão o “cheiro de sangue”. E o presidente, ainda que possa mudar outros ministérios, no fundo passa a não ter mais anéis a dar. Restarão apenas os dedos.” 

Uma boa notícia neste turbilhão veio da economia, depois do aumento da arrecadação federal em junho. Totalizou R$ 137,169 bilhões, melhor resultado para o mês de junho desde 2011, quando chegou a R$ 143 bilhões, alta real de 46,7% contra o mesmo mês de 2020. Ou seja, vão se criando as condições para a reforma tributária e o corte do Imposto de Renda para as empresas. Com a economia voltando a crescer forte, a receita obtida tende a ser usada para compensar esta perda de IR.

Nos mercados, na B3 (SA:B3SA3), o Ibovespa, ajudado pela cotação do petróleo e o otimismo em Wall Street, avançou 0,42%, para 125.929 pontos. Já o Dow Jones Industrial, o S&P500 e o Nasdaq 100 fecharam pertos das máximas do dia e de novos recordes. Os juros longos americanos reverteram as quedas e o rendimento do Treasury de dez anos terminou o dia em 1,29%, ante 1,21% no dia anterior, próximo do nível de 1,30% da semana passada. O de 30 anos subiu de 1,87% ao ano no dia anterior para 1,94%, acompanhando a expectativa de retomada da economia e da inflação. 

Já o dólar, no mercado global, caiu diante das principais moedas, com o índice DXY perdendo 0,20%, o que ajudou o real. No Brasil, o dólar voltou a registrar um dia instável na quarta-feira (21), mas firmou queda e fechou abaixo de R$ 5,20. A moeda norte-americana caiu 0,73%, a R$ 5,1927.

Por fim, o FMI soltou um relatório de Perspectivas Mundiais, mantendo a previsão de crescimento global em 6,0%, mesmo nível  de abril, mas avaliando que “alguns países devem crescer mais rápido e outros mais lentamente”. Acreditamos que os EUA devem manter um bom drive de crescimento, em torno de 6,5% e a China acima de 8%. O Brasil tem tudo para crescer mais de 5%, saindo do “fundo do poço” do ano anterior (-4,2%). 

Na agenda, dois fatores importantes no radar para esta quinta-feira (dia 22): os Pedidos de Seguro desemprego semanais nos EUA e a declaração da Política Monetária do Banco Central Europeu. Pesada é a agenda de sexta-feira, cheia de indicadores de atividade, como os PMI da Alemanha, EUA e Zona do Euro. Será dia também de IPCA-15, importante prévia para o Copom de agosto. Teremos ajuste da Selic em 0,75 ponto percentual ou 1,0 p.p.? 

Vamos conversando.

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