Se Quiser Ir Longe, Vá Acompanhado: Vale a Pena Investir em ETF de Supply Chain?

 | 04.06.2021 12:18

Você já se perguntou qual seria o retorno e o risco de uma carteira que refletisse um supply chain (cadeia de suprimentos) ao invés de empresas ou setores? Esta foi a pergunta que me fiz e apresento o racional e os resultados neste artigo.

Até a Segunda Guerra Mundial, a Toyota (NYSE:TM) (SA:TMCO34) era uma fabricante de automóveis sem nenhuma expressão, enquanto as três gigantes americanas GM (NYSE:GM) (SA:GMCO34), Ford (NYSE:F) (SA:FDMO34) e Chrysler disputavam a primeira colocação, e as montadoras europeias também já tinham grande porte e completavam o Top 10 do setor.

Em 1970, a Toyota atingiu a sexta posição; em 2005, a segunda posição; e em 2007, se tornou a maior (e melhor) montadora do mundo. Como uma montadora saiu do nada e chegou ao Top 1? A resposta sempre esteve no seu supply chain.

Como mostra uma série de estudos do Professor Jeffrey Dyer, a Toyota conseguiu implementar um modelo de colaboração vencedor com seus fornecedores. Durante o período de 1970 a 1990, por exemplo, enquanto a Toyota melhorou sua produtividade em 8 vezes, as três grandes americanas aumentaram sua produtividade em apenas 2,5 vezes.

Como ela conseguiu isso? Levando seus fornecedores junto com ela. No mesmo período de 1970 a 1990, enquanto os fornecedores das montadoras americanas ficaram estagnados na produtividade (isso mesmo: aumento de zero por cento em 20 anos), os fornecedores da Toyota aumentaram sua produtividade em 6 vezes! Este é um dos melhores exemplos do clássico ‘ganha-ganha’ que tanto se fala.

Mas porque isto importa para o investidor? De lá para cá, diversos setores da economia implementaram modelos de colaboração no supply chain. Uns se esforçaram mais que outros, uns foram mais bem sucedidos que outros.

O Professor Gary Gereffi mapeou diversos setores da economia globalmente, e classificou-os em termos de governança, grau de colaboração e equilíbrio de poder entre compradores e fornecedores. Esses estudos mostram que o setor automotivo avançou muito, com empresas investindo em práticas similares ao modelo Toyota.

Enquanto outros, como o setor de vestuário, seguem muito pulverizados, com alto grau de terceirização (e quarteirização), baixa adoção de tecnologia e baixo grau de colaboração. Em um estudo recém-publicado feito por mim e colegas do Coppead, comparamos empresas brasileiras de diferentes setores a partir da classificação de governança e mostramos que, enquanto desequilíbrio de poder pode melhorar a performance de compradores ou fornecedores isoladamente, o equilíbrio de poder melhora o desempenho financeiro da dupla fornecedor-comprador (ou seja, o supply chain), medido pelo ciclo cash-to-cash (C2C) do negócio. Em outras palavras, mostramos que com equilíbrio de poder, o supply chain como um todo fica mais saudável financeiramente. E possivelmente mais resiliente em uma visão de longo prazo.

No meu texto do mês passado aqui no Investing.com, chamei atenção para a necessidade da governança - ‘G’ do termo ‘ESG’ (Environmental, Social and Governance) - ser estendida para o ‘supply chain’, dando origem ao termo ESEG, ou seja, Environmental, Social and Extended Governance. Este mês resolvi transportar a lógica do artigo recém-publicado para a perspectiva do investidor e perguntar: A governança estendida é boa para quem investe na empresa? Empresas com melhor colaboração no supply chain se refletem em maior retorno e menor risco ao acionista?

Para responder a esta pergunta, eu e Rodrigo Freire Lins, Mestre pelo Coppead, selecionamos dois setores da bolsa brasileira: Automotivo e Vestuário, para representar respectivamente alta colaboração e baixa colaboração no supply chain, conforme exposto anteriormente. Focamos em retorno e risco da ação no lugar de performance financeira, e recortamos dois períodos: um período de crise (2015-2016) e um período de valorização (2017-2019) das ações nos dois setores. Os números repetem a conclusão do artigo científico, agora na visão do investidor, conforme mostra a Tabela abaixo.