Angelo Pavini | 11.06.2018 08:57
A pesquisa eleitoral do Datafolha, que traz neste domingo as intenções de voto para presidente da República, e as decisões dos principais bancos centrais do mundo sobre trajetória dos juros e seus impactos nos mercados de inflação , subiu mais que o esperado, mas ainda está longe da meta.
Como o puxada nos juros da semana passada.
Pesquisa mostra Bolsonaro e Marina na frente em cenário sem Lula
Em semana marcada pelo início da Copa do Mundo, a repercussão da última pesquisa Datafolha e a movimentação dos partidos e dos pré-candidatos à Presidência da República devem dominar a pauta na política. A incerteza deve continuar elevada. Os aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, devem manter a estratégia de sua candidatura, mesmo ainda preso, por conta da manutenção de sua liderança nas intenções de voto. Com isso, a disputa deverá contar ainda com recursos judiciais para o registro da candidatura, além dos recursos normais relacionados ao fim da prisão.
No lado do governo, persistem as dificuldades de projetar um nome para disputar o segundo turno, agravadas pela rejeição recorde do presidente Michel Temer, de 82%, segundo o DataFolha. O número reflete desde a greve dos caminhoneiros, as revisões (para baixo) de crescimento do PIB, até as recentes investigações da Polícia Federal envolvendo a família do presidente.
Principal rival do PT nas últimas eleições, o PSDB continua com seu pré-candidato, Geraldo Alckmin, não se mostrando competitivo, ainda mais agora, com projeções de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) disputarem o segundo turno, segundo a pesquisa, em um cenário sem a candidatura Lula.
Perspectivas para a economia têm revisão para pior
Diante dos impactos da greve dos caminhoneiros, pressões sobre o dólar e indefinição no cenário eleitoral, bancos e consultorias já estão revendo estimativas para o crescimento do PIB deste ano, que eram de 3% há alguns meses, para perto de 1,5%. Também revisam para pior as principais variáveis da economia. As projeções para o dólar variam de R$ 3,60 a R$ 4,20 e já se fala até em possível alta da Selic nos próximos meses, o que reduziria ainda mais o crescimento.
De olho nas decisões de política monetária nos EUA e na Europa
Parte dessa piora do dólar e dos juros é provocada pelo cenário externo, e pela perspectiva de alta dos juros americanos e menor crescimento na Europa. Por isso, lá fora, os destaques da semana são a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, banco central americano), que definirá o novo patamar dos juros na quarta-feira. Na quinta-feira, será a vez do Banco Central Europeu (BCE) decidir sobre os juros na região e também se começará a retirar os subsídios via recompra de títulos dados aos bancos. A decisão do BCE ocorre no momento em que há turbulências políticas na Itália, com um governo contrário ao euro, e na Espanha, com um novo governo socialista.
Na avaliação da maioria dos bancos e consultorias, o Fed deve voltar a subir a taxa básica de juros em 0,25%, atingindo o intervalo 1,75% a 2% ao ano. “Além disso, teremos a divulgação das projeções dos integrantes da instituição para juros, desemprego, PIB e inflação”, enfatiza a equipe da Rosenberg Associados em relatório a clientes.
Analistas estimam novas altas para os juros americanos
Segundo esses analistas, a atenção do mercado vai estar toda direcionada à projeção de juros. “Em março, a expectativa era de alta de 0,75% em 2018, contudo, os dados mais recentes levaram o mercado a apostar em mais altas para o ano, o que eleva o temor de ritmo mais intenso do que o se esperava no começo do ano”, ressalta a Rosenberg, lembrando que isso tem influenciado a turbulência recente sobre os mercados emergentes. “Além disso, o BCE pode dar mais indícios acerca do encerramento do programa de compra de ativos, pré-programado até o final deste ano”, completa a equipe da Rosenberg.
Para os economistas do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas (Depec) do Bradesco (SA:BBDC4), na quarta-feira o Fed deverá optar pela elevação, pela segunda vez no ano, da taxa de juros, para 2%. “Em nossa visão, o forte crescimento da atividade, em condições de pleno emprego e elevação de salários, deverá levar a mais duas altas subsequentes de juros neste ano e duas em 2019, finalizando o ciclo de normalização da política monetária em 3%”, destacam em relatório.
BCE poderá retirar estímulos de forma gradual no último trimestre
Na Área do Euro, de acordo com os analistas do banco, a expectativa de convergência da inflação à meta levará o BCE a sinalizar o início do fim do programa de compra de ativos em setembro. “Acreditamos que a retirada dos estímulos ocorrerá de forma gradual no último trimestre”, avaliam, destacando que as surpresas negativas de curto prazo com a atividade reduzem a probabilidade de alta nos juros antes do segundo semestre de 2019.
Na agenda externa, a equipe do Depec-Bradesco ressalta ainda eventos não econômicos, como a reunião entre os líderes dos EUA e da Coreia do Norte no dia 12, a reunião do cúpula do G-7, a votação do Brexit no Parlamento inglês e possíveis avanços nas negociações comerciais entre EUA e China.
De olho na conjuntura e nos movimentos do BC no câmbio
Analisando os acontecimentos da semana passada, o Depec-Bradesco destaca que os últimos indicadores já evidenciam efeitos da paralisação dos caminhoneiros e reforçam um cenário de retomada lenta da atividade. A equipe lembra que o BC, em resposta à rápida depreciação da moeda brasileira e ao fortalecimento do dólar em escala global, optou por intensificar suas intervenções no mercado cambial, e que serão ofertados US$ 20,0 bilhões adicionais até o final da semana que vem.
“O montante total de swaps ofertados até o dia 15 de junho será, salvo intervenções adicionais, de US$ 24,5 bilhões; além disso, o presidente do BC destacou que não utilizará a política monetária para controlar a taxa de câmbio e que as próximas decisões de juros serão pautadas por projeções, expectativas de inflação e o balanço de riscos”, escrevem os economistas.
Varejo, serviços e IBC-Br devem ter melhora na variação mensal
O Depec-Bradesco projeta ligeiro crescimento do indicador de atividade econômica do Banco Central, o IBC-Br, relativo a abril, refletindo não só a expansão já registrada na indústria, “mas também o melhor dinamismo no comércio e, em menor escala, em serviços”.
“Em abril, apesar do maior número de dias úteis, a ausência da Páscoa traz para baixo a variação interanual do comércio. Na margem (variação mensal), esperamos evolução positiva; já a Pesquisa Mensal de Serviços e o IBC-Br também devem mostrar um bom desempenho na variação mensal — últimos números benignos antes dos efeitos da greve, em maio”, estima a Rosenberg Associados.
Também a equipe do BNP Paribas (PA:BNPP) espera alguma melhora nesses indicadores. “Na quarta-feira, esperamos crescimento ligeiramente positivo nas vendas reais mensais do varejo (+ 0,5%)”, dizem os analistas em relatório a clientes. Para o IBC-Br de abril, a estimativa do banco francês é de alta. “A economia se mostrou positiva em 2017, e acreditamos que a tendência será continuar indo para a frente; no entanto, as divulgações de dados recentes foram mais brandas do que o esperado”, escrevem os economistas, acrescentando que o consumo “deve ser importante impulsionador do crescimento do PIB” e estimando uma expansão de 2,0% em 2018,
Risco eleitoral piora a percepção dos preços dos ativos
Alvaro Bandeira, economista-chefe da ModalMais, enfatiza em seu comentário que a semana anterior foi marcada por forte tensão em todos os mercados de risco no mundo, com ativos mostrando forte volatilidade — mas com Dow Jones e Nasdaq fechando com bom desempenho. “No segmento doméstico, tivemos ainda estresse na área política e econômica, com os investidores assimilando que o risco eleitoral piora a percepção dos preços dos ativos”, escreve o economista.
Soma de fatores negativos faz mercados realizarem lucros
Na avaliação de Bandeira, os investidores se anteciparam à Copa do Mundo na tomada de decisão sobre suas estratégias. O risco eleitoral piorou a percepção sobre o real valor dos ativos e a greve dos caminhoneiros, provocando desabastecimento em todos os níveis, acelerou as decisões de saída, levando os mercados a realizaram lucros com força. “Como pano de fundo, surgiu a previsão de que pode haver um segundo turno das eleições entre Bolsonaro e Ciro Gomes, ambos com posturas radicais contra os mercados, pela tributação de fortunas e suspensão das privatizações”, analisa.
Dólar e juros em alta, segundo Bandeira, quase chegaram a simular um ataque especulativo que, de resto, já tinha acontecido anteriormente na Argentina e na Turquia. “Juntando isso com indefinições sobre sistemática de preços de combustíveis na Petrobras (SA:PETR4), e exposição de empresas e instituições ao dólar, o segmento Bovespa foi perdendo sistematicamente zonas de suporte”.
Quadro é de tensão e pode se complicar ainda mais
Para o economista-chefe da ModalMais, o quadro presente “é de larga tensão”, e não há como prever onde a situação pode ir parar. “Uma coisa é certa: os analistas estão mudando suas projeções de indicadores para números bem piores; parece possível prever que o Bacen pode controlar por algum tempo a escalada do dólar, como fez mais para o final da semana mas, se as pressões forem mais fortes e mais longas, a situação pode se complicar”, alerta.
Lembra ainda que o cenário externo não ajuda, marcado por disputas comerciais, relações conflituosas sobre Brexit no Reino Unido, sanções impostas à China, Europa, México e Canadá e expectativa de mudanças nas políticas monetárias de países desenvolvidos, o que afeta o fluxo para os países emergentes.
Análise técnica: limite na faixa dos 70.000 pontos
“Na semana, ficou clara a migração de recursos de emergentes para títulos de desenvolvidos”, enfatiza Bandeira. Mas acrescenta que, apesar disso, “podemos ter boas notícias no final de semana da reunião do G-7, e também do possível encontro entre Trump e Kim Jong-Un, da Coreia do Norte”.
“Estamos precisando de boas notícias no ambiente doméstico, sem as quais vamos seguir descolados para pior do resto dos mercados”, alerta o economista da Modal. “Do ponto de vista da análise técnica, não podemos perder a faixa de 70.000 pontos, sob pena de o mercado cair ainda mais”, conclui.
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