Angelo Pavini | 18.03.2018 23:48
A agenda da semana traz importantes decisões de política monetária, tanto no Brasil como nos EUA, ambas com reuniões que começam na terça e terminam na quarta-feira, mas em direções contrárias. Segundo a maioria dos analistas, a tendência é que por aqui o Comitê de Política Monetária (Copom) promova novo corte na taxa básica de juros Selic, de 6,75% ao ano para 6,50%, encerrando assim o ciclo de cortes de juros iniciado em 2016, quando a taxa estava em 14,25% ao ano. Já o Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, poderá ir na direção oposta e elevar os juros dos Fed Funds, a taxa básica de lá, com projeções apontando para alta de 1,5% para 1,75% — mantendo aberta a porta para quatro altas em 2018 e abrindo a possibilidade de pressão sobre o fluxo de recursos para os países emergentes.
Mais do que a decisão no Brasil e nos EUA, porém, os mercados estarão atentos aos comunicados que acompanharão os anúncios, que podem trazer pistas sobre o comportamento futuro dos juros nos dois países. Começam a aumentar as apostas em outro corte de juros no Brasil, para 6,25% , mas ainda de forma muito discreta. A maioria ainda espera que os juros fiquem em 6,5% até o fim deste ano, pelo menos.
O mercado local também estará de olho no nível de atividade (janeiro) a ser apontado segunda-feira pelo IBC-BR, do Banco Central, e na prévia da inflação oficial de março, medida pelo IPCA-15, que será divulgada sexta-feira (23) pelo IBGE.
No cenário político, a eleição presidencial deverá manter as atenções ao longo da semana, embora ainda se esteja longe de definições — com muitas especulações envolvendo desde o presidente Michel Temer ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Temer, segundo a manchete deste domingo do Estadão, a despeito de sua baixa popularidade, teria dito a interlocutores que poderá, no futuro, se candidatar à reeleição, embalado pela eventual recuperação da economia. Meirelles, por sua vez, mantém a expectativa de uma possível filiação ao MDB.
Ainda no campo governista, as expectativas estão nos desdobramentos das prévias do PSDB paulista para escolher o candidato a governador na pré-candidatura de Geraldo Alckmin. A confirmação do prefeito João Doria mostrou novamente a divisão do partido, com reações contrárias dos três pré-candidatos – José Aníbal, Floriano Pesaro e Luiz Felipe d´Ávila.
Liderança histórica dos tucanos, José Aníbal afirmou que o formato da disputa favoreceu Doria. Ele chegou a pedir, na Justiça, a anulação das prévias. Em relação a Alckmin, que defendia o nome do vice-governador Márcio França (PSB) para sua sucessão, fica a expectativa de como ele se conduzirá no processo, que deverá deixar sequelas na sigla.
No lado da oposição, o ambiente também é marcado por incertezas. Sobretudo em relação a Lula , com os advogados do ex-presidente e lideranças de seu partido, o PT, buscando articulações e tentando colocar o julgamento de habeas corpus na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) e, assim, evitar que seja preso até o fim do mês.
O governo Temer deve, ainda, sofrer desgaste por conta de manifestações, previstas para os próximas dias, em protesto contra o assassinato, no Rio de Janeiro, da vereadora do PSOL, Marielle Franco . A morte da vereadora poucos dias depois de Temer decretar a intervenção na segurança do Rio causou um grande desgaste para o presidente, mostrando que a medida está sendo inócua ou até mesmo favorecendo os grupos de extermínio ligados a policiais militares.
O Departamento de Estratégias de Investimento do Credit Suisse (CS) projeta para o IPCA-15 variação de 0,13% em comparação com o mês anterior e expansão do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC–Br) de janeiro de 3,0% ante janeiro de 2017.
A equipe de economistas do Santander (SA:SANB11) espera crescimento de 3,2% no IBC-Br (comparação anual), com o indicador contraindo 0,5% no mês. Para o IPCA-15, os analistas do banco espanhol estimam uma inflação mensal de 0,08%, e desaceleração para 2,78% no acumulado em 12 meses.
“Esperamos variação de 0,12% para o IPCA-15, menor do que a variação do mês anterior, de 0,38%; na comparação em 12 meses, a inflação deve arrefecer, de 2,86% para 2,83%”, projetam os economistas da Rosenberg Associados.
De volta à comparação mensal, diz a Rosenberg, o destaque vai para a desaceleração do grupo Transportes, reflexo da reversão da pressão recente observada sobre os combustíveis. Em contrapartida, diz relatório da consultoria, o grupo Habitação deve ficar mais pressionado, em linha com o fim do efeito deflacionário sobre energia elétrica residencial, influenciado pela queda da cobrança via bandeiras tarifárias (de vermelha para verde).
Já para a taxa Selic, a estimativa da equipe do Credit Suisse é que o Copom reduza a taxa básica de 6,75% para 6,50%. A consultoria LCA também estima queda da Selic para 6,5%, mesma projeção feita pela Rosenberg Associados.
“A ata da última reunião do Copom indicou o fim do ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em setembro de 2016, ao assinalar que “para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”, destacam os analistas do Credit Suisse em relatório.
No entanto, lembram que a autoridade monetária manteve a possibilidade de continuidade do processo d e afrouxamento monetário ao apontar em seu documento que essa visão para a próxima reunião poderia se alterar e levar a uma flexibilização monetária adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e no balanço de riscos.
“No nosso entender, o cenário evoluiu favoravelmente desde a publicação da ata, tendo em vista que a inflação corrente ficou abaixo das expectativas e as estimativas de inflação para 2018 e 2019 recuaram”, diz a equipe.
Assim, a previsão do CS é de manutenção da taxa básica de juros em 6,50% ao longo de 2018 e início do aperto monetário a partir do primeiro trimestre de 2019, com aumentos de 50 pontos base em cada reunião até a taxa Selic alcançar 9,0%. “Nossa expectativa para a dinâmica da taxa de juros supõe o fechamento do hiato do produto no início do próximo ano e a normalização gradual dos preços dos alimentos, fazendo com que a inflação IPCA aumente para 3,9% em 2018 e 4,5% em 2019”, dizem os economistas.
Para o Departamento Econômico do Santander, a perspectiva é que o ciclo de flexibilização monetária iniciado em outubro de 2016 continue, com a taxa Selic caindo para 6,50% ao ano. “O Copom, provavelmente, em nossa opinião, deixará a porta aberta para um corte adicional em maio, se as expectativas de inflação continuarem a cair”, destaca a equipe em seu relatório.
Na agenda econômica internacional o destaque, de acordo com a Rosenberg Associados e outras consultorias e bancos, deve ser a reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto – EUA) — a primeira com Jerome Powell ocupando a cadeira de presidente do Fed (Federal Reserve).
“A expectativa é de uma elevação de 0,25 ponto percentual na taxa básica, apoiado no desempenho sólido da atividade econômica e do mercado de trabalho, com a estimativa de que a inflação volte a orbitar a meta de 2% no horizonte de projeção da instituição”, destaca relatório da RA, acrescentando que também deverá ser divulgada atualização das projeções de inflação, PIB, desemprego e juros.
As atenções devem se voltar também para Vladmir Putin, diz a RA, que foi alçado ao quarto mandato como presidente da Rússia. No país, lembram os analistas, há limite para uma reeleição apenas, porém o presidente ocupou o primeiro e o segundo mandato durante 1999-2008, tendo sido substituído por Dmitry Medvedev (satélite de Putin) e retornado ao poder em 2012 – com perspectiva de se manter até 2024.
Na avaliação de Alvaro Bandeira, economista-chefe de Home Broker da Modalmais, o cenário continua a ser de volatilidade para os mercados de risco no plano internacional, afetando o plano local, com investidores temerosos diante da possibilidade de volta da tensão internacional das chamadas guerra fria e guerra comercial. As mudanças na equipe de Donald Trump, com a saída do secretário de Estados Rex Tillerson, de visão mais ponderada que a do presidente, e sua substituição por Mike Pompeo, que comandava a agência de inteligência CIA, mais nacionalista, não ajudam a acalmar os ânimos
Além das ameaças veladas de Putin, que anunciou novos mísseis nucleares capazes de escapar dos radares dos possíveis alvos, houve o atentado contra um ex-expião russo exilado no Reino Unido, que deixou ele e a filha e um policial internados. A arma biológica usada contra eles foi criada na antiga União Soviética, o que aumentou as suspeitas contra Putin, que já havia sido acusado de mandar matar outros espiões e desafetos em território britânica. A primeira-ministra, Teresa May, expulsou 20 diplomatas russos e os russos responderam expulsando 23 britânicos.
“Neste momento, é difícil projetar o que pode acontecer a partir de decisões tomadas pelo Reino Unido contra a Rússia, apoiadas por aliados históricos como França, Alemanha e EUA”, diz o economista. Para completar, analisa Bandeira, os EUA lançaram mais sanções contra a Rússia, que promete resposta à altura.
A outra possível guerra, de caráter comercial, tem desfecho imponderável, na visão do economista. “A implementação de tarifas elevadas para o aço e alumínio, pelos EUA, pode gerar retaliações, denúncias na OMC (Organização Mundial do Comércio) e travar o comércio transnacional; no final da linha, isso pode afetar o crescimento econômico global”.
Ainda no campo das possibilidades, ele ressalta os sinais de aperto monetário por bancos centrais da Europa e EUA, podendo afetar o fluxo de recursos para os países emergentes. “No Brasil, a possibilidade é de redução da Selic em 0,25% , deixando espaço para novas quedas. Nos EUA, (temos) a expectativa de que possam elevar a taxa básica em 0,25%, mantendo aberta a porta para quatro altas em 2018.”
Para o economista, portanto, o cenário estabelecido “é de grande nervosismo e ajustes de posições”, que podem significar redução da exposição ao risco, até que o quadro esteja melhor definido.
Levando em conta a análise técnica, Bandeira avalia que o Ibovespa mostra certa acumulação na faixa entre 87.200 pontos e 85.000 pontos mas, para o final da semana, mostrou nova fraqueza. “O importante, agora, parece ser não perder a faixa de 83.700, quando pode mostrar maior precipitação; melhor seria conseguir passar o patamar de 86.000 pontos”, analisa.
Por Sandra da Motta
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