Será que fake news afetam a sua carteira?

 | 21.10.2022 07:55

Por Rodrigo Leite e Matheus Moura

Como estamos em um mês eleitoral, as famosas Fake News estarão presentes a fim de influenciar a tomada de decisão dos eleitores indecisos. Estudos passados já documentaram que programas de TV afetam os votos de eleitores [1], enquanto uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center for the People and the Press, revela que 21% dos indivíduos entre 18 e -29 anos regularmente assistem regularmente programas satíricos de televisão para obter informações sobre a política presidencial [2].

A desinformação tem sido características da comunicação desde pelo menos os tempos romanos, quando Júlio César conheceu Cleópatra. Registros históricos sugerem a existência de propagandas falsas feitas por César contra a reputação de Marco Antônio gravadas em moedas em 44 A.C. [3]. Todavia, essa nova versão que chamamos de Fake News é diferente. A ascensão da internet e das redes sociais tornou possível que qualquer um pudesse realizar um comentário com potencial de alcançar milhões em questão de minutos. Enquanto isso engrandece a sociedade quando feita com a correta responsabilidade social. O, o poder da palavra para multidões também pode ter efeitos devastadores a vida de milhões. Exemplo recente foi o “hackeio” da conta do Twitter da Association Press, em 2013. Foi escrito que a Casa Branca havia sido bombardeada e que o Presidente Obama tinha sido ferido. Em questão de cinco minutos o S&P 500 caiu 1%, levando aproximadamente 130 bilhões de dólares consigo.

Apesar do ocorrido e outros exemplos sobre o Fake News e manipulação de mercado, o que continua sendo um campo pouco explorado e de grande relevância é se essas mesmas Fake News, quando usadas para denegrir ou enaltecer uma empresa, conseguem afetar o mercado sistemicamente a fim de beneficiar um pequeno grupo de investidores. Será que, partir de uma simples postagem em uma rede social ou blog, investidores (profissionais e não profissionais) são levados a esquecer os fundamentos e a acreditar que o fluxo de caixa futuro de uma empresa será afetado? Será que Robert Shiller [4] está correto ao afirmar que dicas de investimentos se espalham como epidemias entre investidores, criando uma exuberância irracional? Ou será que Eugene Fama [5] estava sempre correto com seu trabalho na teoria do mercado eficiente? Eis a batalha entre aqueles que acreditam que o mercado é eficiente e aqueles que creem que seres humanos possuem vieses que influenciam nas suas tomadas de decisões financeiras, tais como aversão ao risco, viés de ancoragem, viés da confirmação, entre outros.

A fim de responder esses questionamentos e trazer maior conhecimento e segurança para o mercado, realizamos um estudo onde investigamos a resposta do mercado frente as Fake News. Dada a robustez do mercado e participação no mercado de ações, analisamos o Estados Unidos e as Fake News feitas pelos ex-presidentes Donald Trump e Barack Obama [6].

Enquanto ambos os presidentes realizaram comentários verdadeiros e falso ao longo de seus mandatos, o mercado parece responder de maneira diferente dado o emissor. Enquanto as Fake News feitas pelo Obama não afetavam o mercado de uma forma geral, as Fake News feitas pelo Trump correspondiam por uma queda de 0,6% no preço das ações. Pior, quando as Fake News eram negativas (denegriam a imagem de uma indústria ou empresa), o preço das ações chegava a cair mais de 1% em até três dias após o comentário ser feito.

Portanto, não só fica demonstrado que as Fake News influenciam o mercado, mas que o que importa mais ainda é o emissor: a depender da credibilidade e da reputação de quem está emitindo as fake News o mercado reage de forma diferente.

Tal literatura precisa ainda ser mais explorada e novos especialistas investigarão seus efeitos em mercados locais ao longo dos anos. No entanto, a pergunta mais eminente que fica entre nós continua sendo: Será que nossas carteiras estão preparadas para os próximos meses?

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*Rodrigo Leite é Professor Adjunto de Finanças e Contabilidade Gerencial do COPPEAD/UFRJ e Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ (2022-2025). É Doutor e Mestre em Administração pela EBAPE/FGV e Contador formado na FAF/UERJ.

**Matheus Moura é Consultor da Fundação COPPETEC. É Doutorando e Mestre pela EBAPE/FGV e Contador.

Referências

[1] Holbert, R. Lance, Lambe, Jennifer L., Dudo, Anthony D., Carlton, Kristin A. 2007. Primacy Effects of The Daily Show and National TV News Viewing: Young Viewers, Political Gratifications, and Internal Political Self-Efficacy. Journal of Broadcasting & Electronic Media. Volume 51,- Issue 1. DOI: https://doi.org/10.2307/2325486

[6] Behr, Patrick, Leite, Rodrigo, Moura, Matheus. Can Fake News Impact the Stock Market. Evidence from Politicians’ Statements.

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