Sobe e Desce da Bolsa em 2020: Que Ações Mais Perderam? Que Ações Menos Perderam?

 | 24.04.2020 12:38

Tive o cuidado de analisar o comportamento dos 100 ativos que compõem atualmente o IBrX 100 ao longo de 2020 (ações e units, em rigor, mas doravante apenas ações por simplicidade). Este índice é um pouco mais abrangente do que o Ibovespa (hoje com 73 ações) e escolhe seus 100 constituintes pelos maiores índices de negociabilidade, funcionando como um bom filtro de liquidez. A análise parte do preço de fechamento do último pregão em 2019 e vai até o fechamento da última quarta-feira, dia 22/04. Espero que seja bacana e útil para todos vocês!

Comecemos pelas ações que mais sofreram neste ano. Cinco companhias tiveram suas ações desvalorizadas em mais de 60% ao longo de 2020! Vamos a elas: AZUL4 (-72,0%), IRBR3 (-71,6%), GOLL4 (-67,7%), CVCB3 (-66,1%) e SMLS3 (-61,6%). Interessante notar que essas mesmas cinco empresas foram exatamente as que conheceram os maiores fundos do poço, ou seja, que mais despencaram no ápice da crise do Covid-19 em relação a 30/12/19, ainda que em ordem diferente: CVCB3 (-85,2%), GOLL4 (-84,8%), AZUL4 (-82,2%), IRBR3 (-82,0%) e SMLS3 (-76,9%).

Note que duas delas são companhias aéreas (Gol e Azul), uma é de um programa de fidelidade fortemente ligado à Gol (Smiles) e outra representa uma agência de turismo (CVC). Todas essas quatro empresas têm seus negócios altamente correlacionados. A crise pela qual estamos passando afetou seus negócios de modo avassalador no curto prazo (isolamento social) e há indícios de que no médio prazo também. Vejo dois pontos. O primeiro é a previsão, quase que unânime, de forte crise econômica mundial, que acaba por frear, e muito, o turismo. No Brasil, penso que não será diferente e a recessão afetará em cheio, e por algum tempo, o turismo nacional. Além disso, arrisco a dizer que muitas pessoas descobriram o mesmo que eu: as ferramentas para reuniões online estão bastante eficazes e hoje tenho convicção que muitas viagens a trabalho que eu fazia pelo Brasil não serão mais necessárias: o ganho de eficiência (tempo de deslocamento e de espera em aeroportos) é enorme, com limitadíssima perda de eficácia na maioria das vezes. Com isso, por exemplo, me pergunto se os inúmeros voos diários Rio-São Paulo permanecerão. Creio que essa demanda sofrerá uma quebra estrutural após essa crise.

Mas e o IRB, como se explica tal intruso? Bom, nesse caso, são fatores alheios ao Covid-19. A empresa teve problemas administrativos que se tornaram públicos, o que ocasionou a troca de alguns altos executivos (incluindo o CEO e o CFO) e membros do seu Conselho de Administração. Para mais detalhes, é possível encontrar toda a história aqui mesmo no Investing.com através de ferramentas tradicionais de busca.

Em média (aritmética, ou seja, sem ponderação por valor de mercado), o fundo do poço até o presente momento para as 100 empresas analisadas foi de desvalorização de 47,3%. Por outro lado, com os fechamentos de quarta-feira, a desvalorização média no ano ficou em 28,2%. Isso indica que parte das perdas já foi recuperada. Para efeito de comparação, o Ibovespa (principal índice da B3, ponderado por valor) teve seu fundo do poço em 23 de março (-45,0%) e fechou na última quarta com perda de 30,2% em relação a 30/12/2019. Levará algum tempo para recuperar toda a perda. Quanto tempo? Essa é a pergunta do bilhão! De um lado, os mais otimistas querem acreditar que até o fim do ano! Por outro lado, os pessimistas apostam que tal recuperação só se dará em 2022! No meio termo, claro, aqueles que acreditam na recuperação total em 2021.

Agora vamos para a outra parte da lista. E aqui tem boa notícia: há cinco ações que não apenas recuperaram toda a perda, mas já viraram para o positivo em 2020! São elas: B3SA3 (+0,2%), MRFG3 (+3,7%), MGLU3 (+6,1%), WEGE3 (+18,6%) e BTOW3 (+20,5%). Prezados, é isso mesmo: empresas como a WEG S.A. e a B2W estão dando cerca de 20% de retorno em 2020! Notem que todas essas empresas sofreram menos que a média de mercado, pois tiveram seus fundos do poço “menos fundos que a média”: B3SA3 (-28,5%), MRFG3 (-35,3%), MGLU3 (-39,6%), WEGE3 (-23,4%) e BTOW3 (-31,6%). Uma característica em comum às cinco empresas que ajuda a explicar esse bom desempenho em meio à pandemia? São empresas de setores com fundamentos menos impactados pela crise, mas que, principalmente, responderam muito bem a ela no meu entendimento. Aliás, cabe notar o feito da ação BTOW3, que chegou no fechamento de quarta-feira última a um valor (R$ 75,75) muitíssimo próximo ao seu valor máximo de fechamento em 2020, ocorrido no dia 21 de janeiro (R$ 76,56) – feito único dentre todas as 100 ações analisadas. Percebam a evolução da BTOW3 em 2020 no gráfico abaixo (para facilitar, parte-se de R$ 100,00 investidos):