Um Olhar do Paraíso

 | 18.10.2018 09:39

O mercado financeiro brasileiro segue animado com a perspectiva de vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. À medida que a data de votação em segundo turno se aproxima, no dia 28 de outubro, e o cenário eleitoral não muda, os investidores vão embutindo nos preços dos ativos a possibilidade de um governo liberal-reformista a partir de 2019. Mas essa expectativa ainda depende dos detalhes das propostas econômicas do candidato.

Os investidores têm minimizado o fato de Bolsonaro ainda não ter apresentado uma sólida proposta para resolver o problema da deterioração fiscal, cuja solução é bem menos fácil do que muitos parecem acreditar. Muitas dúvidas ainda persistem, com os planos econômicos sendo uma grande incógnita e sua implementação uma incerteza ainda maior, a despeito do otimismo nos negócios locais.

Sem participar de debates para detalhar as propostas, é perceptível o tom de Bolsonaro abaixo das promessas eleitorais e sua frágil visão econômica, em entrevistas concedidas na TV. Ele não tem solução pronta para a economia e sempre atribui a responsabilidade da pauta econômica a Paulo Guedes, seu “Posto Ipiranga”.

Com isso, os investidores se tranquilizam com promessas rasas, de manutenção do atual tripé macroeconômico e respeito à independência do Banco Central. Ninguém sabe, portanto, o que vai ser um governo Bolsonaro. Ainda assim, o mercado começa a apostar que ele pode conseguir fazer as reformas necessárias com rapidez, com aval do Congresso.

O fato é que o mercado financeiro brasileiro não está se iludindo com a promessa de programa econômico em um governo Bolsonaro, pois desconfia do viés liberal do deputado - após passar a carreira defendendo a ditadura e a tortura - e da pauta reformista de Guedes - outrora chamado de Beato Salu, o pregador catastrófico de uma antiga novela. Por ora, o importante (ou conveniente) é a alternância de poder, tirando o PT do Palácio do Planalto.

É essa visão que derrubou o dólar para abaixo de R$ 3,70 ontem, pela primeira vez em quase cinco meses, fechando no menor nível desde maio e acumulando perdas de quase 10% somente em outubro. A confiança dos investidores não se dá, portanto, por causa de uma euforia com as propostas (ainda muito obscuras) para retomar o crescimento econômico e conter a trajetória de alta da dívida pública.

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Essas incertezas impedem a Bolsa de atingir máximas recordes, bem com as taxas de juros futuros testarem pisos sustentáveis. Assim, o rumo do país e o desempenho do mercado financeiro (e dos investimentos produtivos) dependerão cada vez mais de como Bolsonaro e sua equipe econômica vão explicar a meta de zerar o déficit primário, recuperar a confiança dos empresários e reorganizar o Estado depois do período petista.

Hoje, porém, a moeda norte-americana está mais forte no exterior, o que pode abrir espaço para uma correção no câmbio doméstico. Lá fora, os investidores ainda digerem o tom mais duro (“hawkish”) do Federal Reserve na ata da reunião de setembro, quando a autoridade monetária mostrou-se favorável a mais aumentos na taxa de juros, colocando-a acima de um nível neutro para a economia no médio prazo.

O rendimento (yield) dos títulos norte-americanos (Treasuries) avança, com o papel de 10 anos (T-note) voltando à faixa de 3,20%, na máxima em sete anos. Nas bolsas, os índices futuros de Nova York estão no vermelho, penalizados pelas duras perdas na Ásia, onde a Bolsa de Xangai caiu quase 3%, adentrando ainda mais em um mercado de baixa (bear market), ao passo que o yuan chinês (renminbi) se enfraqueceu mais.

Já as principais bolsas europeias exibem ganhos, embaladas pela safra de balanços. Nas commodities, os metais básicos caem, diante de preocupações com o crescimento econômico na China. O petróleo também recua, um dia após fechar abaixo de US$ 70 por barril pela primeira vez em um mês.

Com a agenda econômica esvaziada nesta quinta-feira no Brasil, as atenções se voltam para a segunda pesquisa do Datafolha sobre o segundo turno das eleições presidenciais, à noite (20h30). O novo levantamento, realizado entre ontem e hoje, deve captar os efeitos do início da propaganda eleitoral gratuita e da ausência dos debates entre os candidatos na TV.

Aliás, a equipe médica que acompanha Bolsonaro deve fazer um novo diagnóstico sobre o estado de saúde do candidato, que se recupera do ataque a faca sofrido em ato de campanha no início do mês passado. Porém, ele mesmo já admitiu ser uma estratégia de campanha não enfrentar o rival Fernando Haddad no horário nobre da TV.

Na primeira sondagem, o Datafolha apontou 16 pontos de vantagem de Bolsonaro sobre Haddad, com 58% contra 42% dos votos válidos. Os números a serem conhecidos hoje tendem a manter a distância entre ambos próxima a 20 pontos, com a rejeição ao candidato de extrema-direita (far-right) caindo e o porcentual de eleitores convictos em votar nele subindo.

O movimento contrário tende a ser apontado para o petista, mostrando que a posição de Haddad segue desconfortável, com um número crescente de eleitores não votando nele de jeito nenhum por causa da rejeição ao PT. A tentativa do candidato de sair da esquerda em direção ao Centro ainda não se concretizou, com muitos preferindo a neutralidade.

No exterior, o destaque também fica reservado para o fim do dia, quando a China publica os números do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano. A previsão é de desaceleração em relação à taxa anualizada de 6,7% apurada no período anterior, entre abril e junho deste ano.

Juntamente com os dados do PIB, saem o desempenho da indústria e do varejo em setembro, além dos investimentos em ativos fixos. Durante a manhã, destaque para os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos (9h30), além do índice regional de atividade na Filadélfia neste mês (9h30) e dos indicadores antecedentes em setembro (11h).

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