Sebastião Buck Tocalino | 15.07.2014 01:45
(Atenção, consumidor! A sorte está lançada.)
Sou fã das antigas aventuras de Asterix - aquelas assinadas ainda por Rene Goscinny. Depois de sua morte, em 1977, os livros se tornaram cada vez menos interessantes. Mas os primeiros 23 volumes são joias da literatura em quadrinhos. As aventuras cheias de caricaturas históricas e culturais se passam na era antes de Cristo, durante o império romano de Júlio César.
"Obelix & Companhia" foi a última estória escrita por Goscinny. Ali, seu humor abordou vários aspectos da economia (política, formação de mercado, propaganda, consumismo, sindicalismo, protecionismo, comportamento de manada e bolha financeira). Como de costume, Goscinny estava inspiradíssimo e os desenhos de Uderzo não ficaram devendo em nada!
Para quem não conhece, aqui vai uma rápida ideia:
A cautela asiática acaba por financiar a falta de juízo de nossos consumidores incautos. Esse aumento da poupança no leste, levando a uma farta oferta de crédito no oeste, gerou uma crise de endividamento e alavancagem nos países mais avançados. Tanto no consumo, como nos investimentos especulativos. A crise de 2008 deveria evidenciar o elefante na sala, que é o endividamento das famílias, dos bancos e das empresas. Na ocasião, a dívida desses segmentos privados nos EUA totalizava cerca de 300% do PIB norte-americano! Enquanto a dívida pública rondava os 65%. Com o estouro da bolha de hipotecas e especulação imobiliária nos EUA, pudemos ver alguma desalavancagem no setor privado. Seu endividamento desceu para 245% do PIB. Porém, para evitar uma recessão profunda, o governo teve que aumentar seu déficit fiscal, gastando além de suas receitas, e o endividamento público foi daqueles 65% em 2008, para os atuais 100% do PIB.
Mais falado e criticado, o endividamento público desvia a atenção do principal problema. É que o endividamento privado norte-americano é muito maior! Ele retraiu pouco e já foi estimulado a subir novamente. Em valores nominais, atingiu o auge aos US$ 42,6 trilhões em 2008, recuou até US$ 39 trilhões em 2011, e voltou a aumentar para US$ 40,8 trilhões em 2013. O elefante se mexeu, mas não arredou o pé da sala!
Tanto crédito dirigido ao consumo imediato parece omitir certas implicações básicas: A) ou desfalcamos o consumo futuro em prol do atual; B) ou teremos uma onda de calotes de grandes proporções... Talvez ambos ocorram. De outra forma, essa expansão do consumo a prestações só será sustentável enquanto salários, empregos, população ativa e produtividade aumentarem de forma rápida e constante - mas ao ritmo atual, é utopia.
Uma retração do consumo e/ou um grande calote geram um cenário deflacionário. A ameaça é tão clara, que a esperança dos Bancos Centrais dos EUA e do Japão é imprimir dinheiro suficiente para evitar a queda generalizada nos preços de mercadorias e serviços. A deflação só iria piorar as coisas para um setor privado tão endividado (o dinheiro se escasseia e se valoriza, deixando as dívidas mais caras que os bens ainda não quitados). Nesses países mais "ricos" (paradoxalmente cheios de dívidas), a única inflação óbvia até agora vem ocorrendo no mercado de ações - nos EUA principalmente.
É bom deixar claro que a poupança de uns deve realmente viabilizar o crédito a outros (de outra forma não renderiam juros). Mas não para o consumo! E sim para os investimentos privados e públicos em infraestrutura, educação, tecnologia, transporte, saúde, produtividade, vagas de trabalho e formação de mão de obra capacitada e especializada. São esses investimentos que têm o potencial de gerar retornos para todos. O endividamento só é admissível quando tem a perspectiva de se autofinanciar mais adiante. De outra forma, o financiamento de gastos não produtivos (como sapatos e roupas a prestação) ou investimentos apenas especulativos (alavancagem com margens e termos nas corretoras) se tornam semelhantes a um esquema de pirâmide. Um esquema Ponzi que, em algum momento, colapsa!
Consumo compulsivo, obesidade mórbida, crises existenciais, bolhas financeiras, violência fútil e desastres ecológicos parecem cada vez mais motivados pela dominante cultura ocidental de consumo. Se fôssemos observados por alguma espécie mais evoluída, como seríamos chamados? Homo sapiens sapiens ou Homo emptoris incautus?
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