Valuation e WACC: Os Cinco Principais Erros Cometidos!

 | 16.10.2020 07:51

(Texto #5 da Série: Conceitos Teóricos em Valuation)

No primeiro texto desta série sobre Valuation, chamei o WACC de “famigerado” porque ele é amplamente utilizado em diferentes tipos de análises (empresas, projetos e produtos), mesmo quando sua utilização não é consistente sob o aspecto teórico-conceitual (e haveria alternativas simples). Se você está chegando por aqui agora, sugiro que leia os quatro textos anteriores desta série, pois eles constroem o racional teórico para chegarmos até aqui.

Neste quinto texto da série, dividirei com vocês cinco erros comuns que vejo no mercado em relatórios de avaliação que utilizam a metodologia de fluxos de caixa descontados via WACC.

1) O WACC, quando utilizado como taxa de desconto, tem como premissa utilizar os fluxos de caixa gerados pelos ativos após todas as despesas (inclusive impostos) CONSIDERANDO QUE OS ATIVOS SEJAM 100% FINANCIADOS POR ACIONISTAS, ou seja, supondo uma empresa sem nenhuma dívida. O ajuste da estrutura de capital (ou seja, da dívida) se dá precisamente pelo ajuste na taxa de desconto (WACC): o benefício fiscal não pode ser contabilizado no fluxo de caixa porque já é considerado na taxa de desconto. No exemplo da semana passada, aqui nesta coluna, o fluxo correto para ser descontado pelo WACC correspondia aos R$ 264 milhões e a nenhum outro valor (vale a pena você revisitar o exemplo didático da semana passada). Já vi relatórios de valuation trabalhando com os fluxos de caixa efetivos da companhia, ou seja, considerando o efeito fiscal da dívida e descontando pelo WACC: um erro crasso, pois o benefício fiscal é considerado DUAS vezes, no fluxo e na taxa.

2) O WACC tradicional tem a premissa fundamental de que a estrutura de capital da empresa (razão entre dívida e patrimônio líquido) se manterá constante. A maioria dos relatórios sequer comenta que essa premissa está sendo considerada. Um bom relatório de valuation que utilize o WACC de maneira tradicional precisa esclarecer que esta é uma importante premissa e, o que talvez seja mais importante, argumentar em prol dessa premissa. Já vi relatórios de valuation de startups usando o WACC com a estrutura atual e pronto, acabou... Quando na verdade, a estrutura de capital mudaria radicalmente com o passar dos anos, isto inclusive estando implícito pelos fluxos de caixa (a acionistas e a credores) explicitados no mesmo relatório. Neste caso, o correto seria utilizar WACCs que variam ao longo dos anos com a variação da estrutura de capital da empresa, até se atingir a estrutura considerada ótima e “de voo de cruzeiro”, que poderá ser levada ad aeternum (da mesma forma como fazemos com o fluxo de caixa, que se estabiliza somente na perpetuidade).

3) Há casos bastante comuns no mercado (ou seja, longe de serem exceções) nos quais a fórmula tradicional do WACC, presente nos livros-textos e em buscas no Google (NASDAQ:GOOGL), não funciona e que, portanto, precisa ser ajustada. No terceiro texto dessa série, apresentei as fórmulas ajustadas para dois casos corriqueiros no Brasil: companhias com ações preferenciais e companhias que remuneram seus acionistas com juros sobre capital próprio. E agora apresento um terceiro exemplo no qual a fórmula tradicional não funciona: quando aplicamos a perpetuidade com taxa de crescimento, a fórmula tradicional para o WACC não deve ser aplicada. Em meu artigo publicado pela Applied Mathematical Sciences , demonstro que o crescimento (g) precisa ser considerado no WACC. Matematicamente, a fórmula do WACC nesse caso ficaria conforme abaixo (com a premissa, claro, de que a razão dívida e capital próprio se mantenha constante):