Boi Gordo: Varejo de alimentos sobe 12% na movimentação do último trimestre
Hyberville Neto | 29.09.2022 10:01
Embora tenhamos inúmeros indicadores melhorando, o escoamento doméstico da carne bovina tem sido um ponto fraco da cadeia da pecuária ao longo de 2022.
Os patamares de preços que a carne bovina atingiu nos últimos anos, puxados pela fase do ciclo e aumento das exportações, colaboraram com as cotações do boi gordo e estimularam a produção no campo. Com isso, a oferta de boiadas já aumentou em 2022, embora ainda esteja historicamente tímida.
Vamos pontuar algumas questões que devem influenciar o escoamento de carne bovina no mercado doméstico no último trimestre.
Cenário econômico e conjuntura/h2
Com o desemprego diminuindo mês a mês, já nos melhores patamares desde o final de 2015, além de dados efetivos e projeções para PIB e inflação melhorando, temos uma população com mais capacidade de compra.
Outro ponto é a questão de a pandemia ter ficado para trás. Em 2021, tínhamos um momento de queda de casos da doença no final do ano, mas as fases críticas eram muito recentes, o que manteve a cautela de uma parcela importante da população, no que diz respeito a aglomerações, confraternizações e festas. Atualmente, o “jogo segue” e com a vacinação a Covid-19 se tornou mais uma dentre inúmeras doenças com as quais convivemos.
Em outras palavras, devemos ter um número maior de confraternizações. Um fato que subsidia essa expectativa foram as festas juninas, que se estenderam até agosto em alguns casos.
Outro exemplo vem dos eventos corporativos, que têm ocorrido em grande número e lotação. Não há por que achar que o final do ano será menos “forte” no sentido de movimentação de pessoas, o que influencia consumo.
Reta final do ano/h2
Dentre outros fatores, a demanda (não saciada) é definida pelo efeito da renda da família, o efeito dos preços (da carne) e o preço de outras proteínas (substitutos).
Por um lado, a renda média sentiu fortemente os efeitos da pandemia, por outro, a sazonalidade deste indicador é muito pronunciada, com melhoria no período de final de ano, que se aproxima.
Paralelamente, temos visto um movimento de redução do desemprego, que ainda deve se acentuar com as contratações temporárias, outro fator positivo para o escoamento nesta reta final do ano.
É esperado que haja espaço para melhoria nas vendas de carne bovina nos próximos meses, com alguma ajuda da Copa do Mundo, que normalmente ocorre no meio do ano e em 2022 vai se somar ao cenário de festas em novembro e dezembro.
Não esperamos uma explosão de consumo, mas estamos entrando no melhor momento de vendas do ano, com contratações temporárias, bonificações e décimos terceiros salários.
A figura 1 mostra como o índice de vendas do varejo, calculado pelo IBGE, se comporta no último trimestre do ano, em relação aos nove meses anteriores. No gráfico estão as melhorias observadas para o varejo geral e para o grupo “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo”, relacionado ao mercado da carne e boi gordo.
Figura 1. Variação do índice de vendas do varejo no último trimestre, na comparação com o período de janeiro a setembro de cada ano.
Obs: média do último trimestre, na comparação com o índice médio de janeiro a setembro.
Fonte: IBGE / HN AGRO
Em nenhum dos 22 anos da série analisada, houve recuos no último trimestre, tanto para o varejo geral como para hipermercados. Na média do intervalo analisado, o índice do último trimestre foi 12% maior que o resto do ano para os hipermercados e 18% superior, no caso do varejo geral.
Considerações/h2
O cenário de vendas de carne no mercado doméstico deve melhorar e isso tende a aumentar a necessidade de compra de gado pela indústria que não acessa as exportações e tem trabalhado mais. Justamente este grupo de frigoríficos possui menos escalas e menos animais contratados a termo.
A melhoria das vendas de uma parcela dos frigoríficos que possui menos programações de escalas garantidas (termo) pode ajudar a firmar o mercado nos próximos meses.
Paralelamente, a China tende a diminuir as compras na reta final do ano, pela sazonalidade relacionada ao período de maior consumo deles (Ano Novo Lunar). O maior volume de compras ocorre enquanto há tempo de a carne chegar para esta época. Depois disso, são reposições de estoques, mas em ritmo bem menor.
Resumindo, esperamos que haja espaço para um cenário mais sustentado de preços nessa reta final de 2022, mas o intervalo para valorizações do boi gordo até o final do ano está encurtando, o que limita o patamar de preços a ser atingido, mesmo que o mercado ganhe, efetivamente, força.
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