Vieses Comportamentais e seus efeitos nas transações de M&A

 | 04.10.2022 09:58

Apesar de termos, aqui no Investing, leitores mais interessados nas negociações em Bolsa, achei que seria interessante trazer a perspectiva do tema de vieses comportamentais de dentro das transações de M&A. 

É verdade que a venda de uma empresa exige um processo mais demorado e complexo do que vender uma ação na Bolsa mas, no final do dia, ambos convergem em relação à dependência de pessoas para tomada de decisões. 

Pessoas que, por sua vez, estão sujeitas as nuances e fragilidades do comportamento humano, muitas vezes distantes da racionalidade e pragmatismo previstos nas teorias clássicas de economia. 

Vivemos num mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (características conjugadas usualmente no acrônimo “VUCA”), que reforça a importância de reconhecer e compreender as limitações da racionalidade dos seres para avaliação e tomada de decisões cada vez mais complexas. 

São muitos os artigos aqui no Investing que tratam do tema de vieses comportamentais, então irei direto aos exemplos das armadilhas e desafios que cercam as negociações das empresas. Mas, antes disto, não posso deixar de recomendar a leitura do livro: “Rápido e devagar”, best seller de Daniel Kahnemann, que resume grande parte da pesquisa do psicólogo e economista israelense-americano, ganhador do prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2002, junto com Amos Tversky Source, pelo desenvolvimento da “Teoria Prospectiva” e “behavioral economics”. 

Na minha opinião, estes são os vieses mais frequentes nas negociações de M&A: 

1. Ancoragem: muitas vezes o decisor usa uma referência de preço que pode não ser mais coerente. É comum em situações em que o vendedor já recebeu uma proposta maior no passado e quer, no mínimo, uma proposta equivalente — mesmo depois do negócio ter se deteriorado e não merecer mais o valuation anterior. Outro exemplo recente envolveu um empresário que insiste em vender o negócio, no mínimo, pelo valor investido, mesmo sem ter previsão de retorno daquele investimento. Este viés também é chamado de "falácia do sunk cost". 

2. Aversão à perda: o prazer do ganho é menor do que a dor de uma perda, mesmo para resultados simétricos, podendo ocasionar decisões precipitadas. Difícil argumentar quando um cliente prefere garantir um dinheiro no bolso ao invés de ter a chance de receber um valor potencialmente maior no futuro. A frase "vale mais um na mão do que dois voando" costuma ter seu mérito, mas por vezes acaba induzindo decisões sub-ótimas. Já vivi algumas situações em que uma pequena melhora na forma de pagamento foi mais valorizada do que um acréscimo relevante no preço total. 

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

3. Viés de Confirmação: usualmente buscamos conforto nos sinais que confirmam nossas crenças e nos afastamos das situações que as desafiam, evitando o transtorno de revisitar uma opinião. É frequente um comprador estratégico achar que já sabe tudo do setor sem antes conhecer a empresa em mais detalhes. Podemos usar este viés para o bem ou para o mal, a depender de que lado estamos da mesa. 

4. Efeito Halo: é quando avaliamos o todo por apenas uma parte. Um viés parecido com o anterior. Já tive um chefe que quis encerrar uma negociação apenas porque o alvo se situava em uma cidade menor da região norte, mesmo sendo líder local e com desempenho superior aos pares de São Paulo. Coincidência ou não, esse ex-chefe se aposentou precocemente. A intuição tem sua utilidade, mas também tem suas falhas. 

5. Ilusão de Controle: acontece quando temos a impressão errônea de que externalidades são previsíveis e controláveis. Um exemplo que me marcou foi a morte repentina de um dos acionistas da empresa vendedora na reta final da negociação. A transação acabou sendo concretizada, mas não antes de ser adiada em várias semanas e quase ter sido descontinuada. 

6. Excesso de Confiança: este viés não precisa de explicações. Infelizmente, ego em excesso é um mal recorrente entre meus colegas de profissão. Humildade é sempre bom, evita constrangimentos e reduz a chance de perdermos dinheiro. 

7. Efeito de enquadramento: a primeira impressão não é a única que fica, mas certamente tem muita relevância. Nada como um bom powerpoint para enfeitar a noiva. 

8. Heurística da Disponibilidade: é uma forma complicada de dizer que temos a tendência de acreditar que os eventos conhecidos serão repetidos no futuro. É o famigerado “arrastar a célula” nas planilhas de projeção. Outro acrônimo ligado a este viés é WYSIATI (what you see is all there is). 

9. Efeito posse: tudo que é nosso tem valor maior do que aquilo que não está em nossa mão. Difícil convencer os empresários que sua empresa não é mais valiosa do que outras só porque ele quer. O contrário também é verdade, pois por vezes aumentamos a importância de um risco além da conta, mesmo já tendo visto casos precedentes ou jurisprudência formada acerca do tema. 

10. Prova Social: também confundido com o efeito FOMO (fear of missing out) ou a famosa “dor de cotovelo”. Como seres coletivos, somos motivados de forma desproporcional pela comparação com os pares. Tem vezes que basta um empresário anunciar que ficou rico vendendo a empresa para fazer todos os concorrentes se movimentarem. 

Costumamos brincar que não precisamos nos preocupar em sermos substituídos por máquinas. Enquanto tivermos pessoas à frente das negociações, sempre teremos que lidar com o processo de tomadas de decisão enviesado e subjetivo, difícil de ser previsto apenas por algoritmos. Quem trabalha comigo ouve esta frase com frequência: "o ser humano é um animal". Parece óbvio, mas preciso sempre reforçar a existência dos instintos e reações repletas de vieses — muitas vezes distantes da racionalidade que idealizamos. 

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações