Virada de Estação

 | 24.09.2021 08:53

Temos o início da primavera no Brasil e do outono na Europa. É um momento de “lenta adaptação” para o ápice, o verão e o inverno. Podemos dizer que são estações de transição que nos preparam para o calor de rachar no Brasil e o frio rigoroso no Hemisfério Norte. Retornando ao “mundo real”, no Brasil, na semana, tivemos reunião do Copom, nos EUA, do FOMC e na China, alguma discussão sobre a renegociação da astronômica dívida da China Evergrande Group (HK:3333). Em todos os eventos, observamos a preparação para algo. Nesta sexta-feira, Powell tem mais uma chance de relativizar sobre a expectativa do tapering, já sinalizado para novembro, com os treasuries em escalada, o mesmo ocorrendo no Brasil, com o câmbio. Por aqui, estejamos atentos para o IPCA-15 de setembro, devendo chegar a 1,0%, em 12 meses próximo a dois dígitos. 

  1. Na reunião do Copom, a leitura é de que é preciso fazer o mal de uma só vez, logo, para trazer a inflação para próxima do centro da meta de inflação no ano que vem. É o BACEN se preocupando em se antecipar à curva de juro, ancorando as expectativas dos mercados, e mostrando estar “mobilizado”. E isso acontece num momento em que o mundo se debate sobre a “inflação transitória”, fenômeno na qual a reabertura da economia gera um choque de preços, pois faltam insumos em diversas cadeias produtivas. Por este viés, a inflação repica, mas depois perde fôlego. No Brasil, no entanto, isso não acontece, pois além desta transição, ainda se tem muita volatilidade cambial, o que se reflete em reajustes de vários insumos agrícolas (trigo) e combustível (gasolina e diesel). Temos também os impactos no reajuste da energia elétrica, dada a crise hídrica em curso. Portanto, nossa inflação, de transitória nada tem, sendo muito é permanente, piorando ainda mais com as confusões políticas de sempre. 

  2. Diante deste cenário, o IPCA ameaça chegar a 10% neste ano, patamar perigoso e que pode propagar mecanismos defensivos pelos agentes e mais indexação na economia. Por isso, a atitude hawkish do BACEN, mesmo que o seu objetivo seja o ano que vem, ou seja, trazer a inflação para o centro da meta. Hoje temos o IPCA-15 de setembro, previsto em 1,0%, depois de 0,89% em agosto, e 9,3% nos 12 meses (deve ir a 9,8%).  O problema aqui é que o fantasma do racionamento segue assustando a todos. O presidente da ONS, no entanto, nega esta possibilidade, nem no ano que vem, embora o ambiente seja de muita incerteza.  

  3. Sobre a ata do Copom da semana que vem (dia 28) espera-se uma inflação menos pressionada no ano que vem, dada a leitura do BACEN neste ano, de antecipar as elevações da Selic, mas também pela perspectiva de menos dinamismo nas economias da Ásia, e chances de alívio nos preços da energia.  

  4. Uma boa notícia é a arrecadação federal de agosto, R$ 146,4 bilhões, recorde para o mês, crescendo 7,2% contra o mesmo mês do ano passado, mas recuando 15,2% contra julho. O problema, bom que se diga, é que este bom desempenho da arrecadação se dá pela “normalização” da economia, é conjuntural, e não por mudanças estruturais.