Voltando à Realidade

 | 21.07.2014 12:42

Passada à Copa do Mundo, quando nos transportamos para um mundo de fantasia, segurança, prazer e futebol, voltemos agora à nossa dura realidade e encaremos “nossos fantasmas”, tanto na área econômica como política.

Na política, as pesquisas seguem ocorrendo e ditando os rumos do mercado. Na última, coletada pela Datafolha, Dilma Rousseff continuou na sua trajetória vacilante e em tendência de queda, recuando de 38% a 36%, mas beneficiada pela “estagnação” de Aécio Neves (20%) e do terceiro candidato, Eduardo Campos (8%). Na verdade, é ela que vem perdendo terreno, pelos seus movimentos erráticos e desastrados, pouco aproveitados pela oposição. Sobre a pesquisa, chama atenção também a redução da distância numa disputa de segundo turno entre Dilma e Aécio, agora em quatro pontos, praticamente empate técnico. Era de sete pontos (46% a 39%) e nesta última caiu a quatro pontos (44% a 40%). Outros dados importantes foram os que mostraram a necessidade de mudança e a rejeição da candidata Dilma, o que pode reforçar esta tendência de segundo turno.

Por outro lado, toda cautela é pouca nestas pesquisas, visto que estas mostram um momento (analogia com as nuvens, segundo analistas, a cada momento de um jeito), ainda tem muita coisa para acontecer e as campanhas mal começaram. Em política, dois meses e meio é uma “eternidade” (a eleição ocorre no dia 5/10). Aguardemos como os estrategistas de marketing devem conduzir, a partir de agosto, a campanha na TV. Por tempo de TV, Dilma possui vantagem considerável de onze minutos e meio, contra 4 minutos e meio do Aécio e um minuto e meio de Eduardo Campos. As pesquisas recentes, no entanto, indicam a ocorrência de segundo turno, entre Aécio e Dilma. A partir daí será outra eleição.

Voltando ao tema deste espaço (economia), continuamos empacados no baixo crescimento, com a Indústria em queda e o varejo crescendo pouco, os investimentos adiados, o desemprego aparecendo aos poucos, a inflação em recuo, mas ainda resiliente, com o IPCA em 12 meses batendo o teto do sistema de metas (6,52%) e as contas externas e fiscais em deterioração.

Neste quadro, o BACEN, na reunião da semana passada, resolveu manter o juro em 11%, no aguardo de novos indicadores nas próximas semanas, mas deixando no ar dúvidas, ao afirmar que “neste momento” decidiu por manter o juro nos 11%. Isto abriu a possibilidade de novas mexidas na taxa nas próximas reuniões, crescendo as apostas dos que acreditam na sua redução até o final deste ano ou mesmo no início do próximo.

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Lembremos que neste ano, praticamente definido no terreno econômico, não dá para imaginar nenhum choque exógeno que impacte na trajetória de preços. Pelo gráfico ao fim, observamos que todos os índices, a não ser pelo IPCA, devido aos movimentos passados dos últimos 12 meses, apontam para uma inflação abaixo de 5,0% ao fim deste ano. O problema, no entanto, seria 2015, diante da necessidade de reajuste de vários preços administrados, usados no controle da inflação e represados, como energia, transporte público e gasolina.

Cabe observar também que os indicadores de atividade mostram que os vários agentes se posicionam em compasso de espera, no aguardo do que vai acontecer nas eleições deste ano. Investimentos foram adiados pelas empresas e os consumidores estão mais seletivos ao contraírem novas dívidas. Com isto, a economia segue parada. A indústria recuou 0,6% em maio, o varejo registrou pequeno movimento de alta, de 0,5%, influenciado por fatores pontuais como a Copa do Mundo e o Dia das Mães (segundo período mais forte, depois do Natal). Somado a isto, indicadores antecedentes, divulgados pela FGV, mostram que junho e julho (até a semana passada) foram muito ruins, impactados pela Copa e pela parada (total ou parcialmente) de algumas cidades nos dias de jogo.

Num demonstrativo que mais parece um “dominó sendo derrubado”, o último elo da cadeia, o mercado de trabalho já começa a refletir esta paralisia da economia. Pelo Caged, indicador de geração de empregos formais, por exemplo, o recuo foi 79% em junho deste ano contra o mesmo de 2013, com a indústria despencando e os serviços segurando a geração de empregos, devido aos temporários no evento esportivo.

Por fim, como já dito neste espaço, não nos parece factível uma reação da economia neste ano, diante do “estado de espírito” dos agentes, na sua maioria, voltados para as eleições. Neste caso, observa-se uma sociedade em contradição, rachada ao meio; de um lado, as camadas de baixa renda, satisfeitas com os “programas de transferência de renda”, não tendo motivos para reclamar, do outro, os segmentos de mais alta renda, mais bem informados, descontentes com os descaminhos da política econômica do governo Dilma.

Neste quadro, temos com clareza um quadro de baixa confiança dos agentes nas ações governamentais, o que vem segurando as decisões de consumo e investimento. Tudo será definido depois das eleições. Antes, nada deve acontecer de relevante. Como bem disse José Oreiro, economista da UFRJ, keynesiano, mas com viés mais iconoclasta e crítico em relação à caótica política econômica atual:

“economias capitalistas são sujeitas a incerteza, a mudanças repentinas nas expectativas empresariais, o que inviabiliza a alocação ótima de recursos e o equilíbrio simultâneo de todos os mercados, de maneira a gerar renda e riqueza compatível com uma boa distribuição de renda. Isto coloca a necessidade de se avaliar profundamente a natureza da política econômica que favoreça criar um ambiente favorável ao investimento na magnitude necessária para um crescimento que seja ao mesmo tempo sustentável, estável financeiramente e socialmente justo”.

Nada mais acertado.