Indústria de café do Brasil vê alívio na oferta só em 2024, diz presidente da Abic

Reuters

Publicado 11.07.2022 07:49

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - Com a colheita de uma safra abaixo do potencial em 2022, o Brasil deve ver um aumento na produção de café em 2023, mas um alívio para os estoques apertados só deve ser sentido a partir de 2024, avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

Pavel Cardoso, eleito em junho para comandar a associação das empresas torrefadoras do Brasil até 2025, comentou em entrevista à Reuters que a firmeza das exportações e do consumo nacional de café não dá margem a problemas climáticos, o que explica os preços futuros sustentados da commodity, enquanto o mercado físico não recua apesar da colheita já avançada no país.

Desde o final de março, quando os produtores no Brasil começam a se preparar para a colheita, os preços do café arábica subiram cerca de 100 reais por saca, para cerca de 1.350 reais, segundo indicador do Cepea/Esalq. Até momento, o total colhido está próximo de 50% da produção prevista.

"A partir de 2024, é possível que tenhamos oferta maior, mas no horizonte de 18 meses não se vislumbra mudança no cenário de aperto", disse ele à Reuters.

Para justificar sua avaliação, Cardoso citou projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que em seu último levantamento reduziu a previsão para a safra nacional de 2022 a 53,4 milhões de sacas, com a colheita de arábica sentindo os efeitos de geadas e seca de 2021.

Ele disse ainda que o país tem exportado 40 milhões de sacas ao ano, enquanto a demanda brasileira se aproxima de 22 milhões de sacas ao ano, o que resulta na redução de estoques.

As projeções da Conab tradicionalmente ficam abaixo das do mercado. O Rabobank, por exemplo, projeta a safra nacional deste ano em 64,5 milhões de sacas --ainda assim, o saldo é relativamente apertado, considerando exportações e consumo.

O presidente da Abic avalia que as geadas de 2021 colaboraram para uma inversão de ciclo bianual do arábica em 2022, o que o leva a crer que em 2023 a produção poderá superar a deste ano.

"Mesmo com uma boa oferta em 2023, considerando safra de 65 milhões de sacas, por exemplo, a exportação de 40 e consumo de 22... dentro deste cenário, se não tiver boas chuvas na florada (para 2023) e se tiver qualquer evento climático negativo, novamente teremos oferta justa na próxima safra", afirmou.

DESAFIOS

Cardoso, sócio-gestor da torrefadora Sobésa, maior indústria de café da Bahia e uma das maiores do Brasil, disse que o setor ainda não conseguiu repassar todos os custos da matéria-prima, que subiram mais de 150% em 12 meses --desde as geadas--, tendo repassado cerca de um terço disso.

Assim, o cenário é de preços sustentados também para os consumidores do Brasil, segundo maior mercado global em consumo de café, atrás apenas dos Estados Unidos.

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Cardoso comentou ainda que uma das diretrizes de sua gestão à frente da Abic será promover o café torrado e moído brasileiro internacionalmente, cujas exportações giram em torno de apenas dezenas de milhares de sacas ao ano, enquanto os embarques do produto verde somam dezenas de milhões.