Eficácia geral da CoronaVac fica em 50,38% e supera por pouco mínimo exigido por Anvisa

Reuters

Publicado 12.01.2021 14:21

Atualizado 12.01.2021 17:10

Por Eduardo Simões e Leonardo Benassatto

SÃO PAULO (Reuters) - A CoronaVac, vacina contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac, tem uma eficácia geral de 50,38% apontada em estudos clínicos de Fase 3, disse nesta terça-feira o Instituto Butantan, ao apresentar um número bem abaixo da eficácia clínica de 78% informada anteriormente e que supera por pouco o mínimo recomendado para que uma vacina seja considerada eficaz.

O número da eficácia geral confirma que a vacina está acima dos 50% requeridos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para considerarem um imunizante viável.

O dado, no entanto, é significativamente menor ao anunciado na semana passada pelo Butantan, que disse em entrevista coletiva na quinta-feira que a eficácia da CoronaVac era de 78%. Na ocasião, a falta da divulgação de dados sobre o estudo clínico provocou um forte questionamento da comunidade científica.

Nesta semana, o instituto esclareceu que aquele dado se referia à eficácia clínica da vacina, não à sua eficácia geral, que considera toda a população do estudo clínico, incluindo casos muito leves, que não precisaram de ajuda clínica.

A pressão gerada pela falta de dados levou o Butantan a realizar uma nova entrevista coletiva nesta quinta para detalhar os dados do estudo e divulgar a eficácia geral da vacina, que há meses vem sendo parte da disputa envolvendo o governador de São Paulo, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro, que são desafetos políticos.

Durante a entrevista coletiva desta terça, o diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palácios, reiterou que a CoronaVac mostrou ter 78% de eficácia contra casos leves que precisaram de alguma assistência clínica por causa da Covid-19 e 100% contra casos graves e moderados da doença, o que significa que nenhum voluntário do estudo que recebeu a vacina desenvolveu este tipo de quadro mesmo quando infectado e que nenhum precisou de internação hospitalar.

Mas, quando considerados também os voluntários que se infectaram e desenvolveram a doença, inclusive os classificados como muito leves e que não precisaram de assistência clínica, a eficácia global ficou em 50,38%.

"Precisamos de melhores comunicadores", disse à Reuters o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina Neto, indagado sobre a diferença de divulgação de quinta e desta terça.

Para a bióloga e diretora do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, que participou da entrevista coletiva desta terça-feira, a CoronaVac "não é a melhor vacina do mundo", mas uma "boa vacina", que precisa ser rapidamente aplicada no maior número de pessoas.

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"Como todo resultado de um estudo clínico, esse resultado tem os seus sucessos e as suas limitações. E tanto os sucessos quanto as limitações têm que ser comunicados de uma forma clara", disse ela ao parabenizar o Butantan por ter atendido o pedido dos cientistas por maior clareza nos dados.

"Nós temos uma boa vacina, não é a melhor vacina do mundo, não é a vacina ideal. É uma boa vacina, que tem a sua eficácia dentro dos limites do aceitável pela comunidade científica, pela Organização Mundial de Saúde, por parâmetros internacionais", acrescentou.

"A gente não precisa dizer que essa é a melhor vacina do mundo. A gente tem que dizer que essa é a nossa vacina, é a vacina possível, é uma boa vacina e é uma vacina que certamente vai iniciar o processo de nós sairmos da pandemia."

A eficácia de 50,38% da CoronaVac ficou bem abaixo dos 78% anunciados na semana passada, e também foi bastante inferior aos dados anunciados por fabricantes de vacinas como Pfizer para seu imunizante contra a Covid-19. Ao contrário da vacina da farmacêutica norte-americana, no entanto, a CoronaVac pode ser armazenada em temperatura de geladeira comum, o que facilita a logística de distribuição.

Ao comentar os dados de eficácia da CoronaVac, Palácios argumentou que, ao contrário de estudos com outras vacinas, o Butantan incluiu apenas profissionais de saúde entre os voluntários do teste, por se tratar de uma população que tinha contato com o vírus na linha de frente do combate à Covid-19 e que sabe identificar os sintomas da doença em si mesmos.

Ele afirmou também que os critérios de definição de casos adotados pelo estudo do Butantan foram os mais rigorosos, o que aumentou a incidência em relação a outros testes, com o objetivo de colocar a vacina em uma situação de estresse. Segundo ele, isso não deve se repetir quando o imunizante for aplicado na população em geral, o que deve aumentar a eficácia.

"Dentre toda a população, selecionamos aquela que pudesse testar a vacina com a barra mais alta, isso é importante salientar", disse Palácios.

"Se a gente quer comparar os diferentes estudos, isso é mais ou menos como comparar alguém que faz uma corrida de 1km em um trecho plano com uma pessoa que faz uma corrida de 1km em um trecho absolutamente íngreme e cheio de obstáculos. E isso foi o que fizemos, colocar esses obstáculos".

Palácios também destacou os resultados que apontaram que a CoronaVac é 100% eficaz na prevenção de casos moderados, que levam à hospitalização, e de casos graves, que levam à internação em unidades de terapia intensiva (UTI).

"Se a gente consegue que a vacina controle os atendimentos no sistema de saúde, seja ambulatorial, seja hospitalar, o impacto vai muito além da Covid-19", disse, ao lembrar que atendimentos de outras doenças ficaram represados durante a pandemia por causa da prioridade dada à Covid.

De acordo com a apresentação feita pelo Butantan na coletiva, de uma amostra de 9.242 voluntários dentro do estudo, 252 contraíram a Covid-19, sendo 167 que tomaram placebo e 85 que tomaram a vacina, o que fez com que se chegasse ao número de eficácia global de 50,38%.