Após opção mínima do governo, Queiroga buscou na OMS maior número de vacinas do Covax

Reuters

Publicado 18.06.2021 18:20

Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Depois de o governo brasileiro optar por contratar o mínimo possível de vacinas contra a Covid-19 no consórcio Covax Facility, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pediu à Organização Mundial de Saúde o aumento da cota brasileira para 20% da população brasileiro, mas o pedido foi negado.

A informação consta de um do telegramas diplomático em que é relatada uma reunião entre Queiroga e o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, realizada no dia 4 de junho e que foi remetida para a CPI da Covid do Senado. A correspondência sigilosa foi obtida pela Reuters com uma fonte da CPI.

Na conversa, Queiroga, que assumiu o ministério em abril, diz que o número contratado -suficiente para imunizar 10% da população, 42 milhões de doses-- era baixo frente à demanda do país e da força da pandemia nas Américas.

O diretor-geral da OMS concordou que havia atraso na entrega de imunizantes pelo consórcio e revelou que as farmacêuticas não estavam cumprindo adequadamente os contratos, mas deixou claro que o volume destinado ao Brasil não seria aumentado.

A posição de Queiroga demonstra uma mudança de postura do governo em relação à compra de vacinas, fato esse que está sendo investigado pela comissão parlamentar. Nesta sexta, o atual ministro da Saúde passou à condição de investigado pela comissão de inquérito.

Procurada, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde não respondeu de imediato aos pedidos de comentário sobre a posição de Queiroga.

O acerto para compra das vacinas pelo mecanismo foi feito no final de 2020, ainda sob a gestão de Eduardo Pazuello. Já na época a decisão do governo brasileiro de contratar o mínimo possível oferecido pelo Covax foi criticada, em um momento em que o Brasil ainda tinha poucas perspectivas de obter grandes volumes de vacina.

Em depoimento à CPI no mês passado, Pazuello disse que foi dele a decisão de comprar apenas a cota de 10% da população brasileira de vacinas pelo Covax Facility. Ele alegou ter comprado a cota mínima, chamou de "muito nebulosa" a negociação e reclamou do preço, dizendo que a oferta inicial seria de 40 dólares por dose.

"Bem, a negociação com a Covax Facility começou muito, muito nebulosa – vou usar um termo aqui. Não havia bases, o preço inicial era de 40 dólares a vacina. E assim começou a discussão. Não havia garantia de fornecimento. Então, naquele momento, o que nós nos preocupamos era que nós assumíssemos um grau de recursos altíssimo sem uma garantia de entrega efetiva do laboratório", disse Pazuello, que também passou à condição de investigado na CPI.

Fontes ouvidas pela Reuters depois do acerto inicial com o Covax, no entanto, disseram que a avaliação no ministério, à época, era de que os contratos da AstraZeneca (NASDAQ:AZN) (SA:A1ZN34) --que desenvolveu a vacina em parceria com a Universidade de Oxford-- com a Fundação Oswaldo Cruz e da chinesa SinoVac com o Instituto Butantan para a CoronaVac seriam suficientes para abastecer o Brasil.

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Na conversa com o diretor-geral da OMS do início deste mês, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, recapitulou os elementos da participação do Brasil no consórcio pelo qual pagou 150 milhões de dólares em outubro do ano passado para a contratação de doses em volume para 10% da população brasileira, segundo o telegrama diplomático.

Queiroga sinalizou a disposição do governo para elevar o volume contratado para 20% da população brasileira, destacando que o ministério estaria pronto para fazer a alocação de recursos.

De acordo com o telegrama, Tedros queixou-se de que os elevados volumes contratados de vacinas pelo Covax Facility não estavam sendo honrados pelas companhias farmacêuticas, fato esse que estaria prejudicando o Brasil e muitos outros países.

O diretor-geral da OMS disse ter relatado que vários chefes de Estado e governos mandaram-lhe correspondências "frustrados" com o ritmo de entrega de doses pelo consórcio, notando que vários países não teriam sequer começado a receber imunizantes e que o problema não seria específico do Brasil.

"Ao mesmo tempo, disse que envidará seus melhores esforços para ajudar-nos, via contatos seus com os CEOs da AstraZeneca e da Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34)", afirmou Tedros, de acordo com o telegrama diplomático.

Ainda assim, o diretor-geral da OMS deu sinal de que a demanda de Queiroga por mais vacinas via o mecanismo não deverá ser atendida.

Conforme o documento enviado à CPI, Tedros "não deixou de argumentar que, mesmo que o ritmo de entregas do 'Covax Facility' melhore, o volume destinado ao Brasil ainda será limitado (apenas 9 milhões de doses até maio e um total de 42 milhões ao término de 2021)", afirmou.