'Fora Bolsonaro!' falam ex-apoiadores em protestos por resposta do Brasil à Covid-19

Reuters

Publicado 24.01.2021 19:11

Por Gabriel Stargardter

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Meggy Fernandes votou em Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018 no Brasil, atraída pela promessa do ex-capitão do Exército de extrema direita de sacudir uma estrutura política atolada em infindáveis escândalos de corrupção.

Mas depois de vê-lo abandonar suas promessas anticorrupção, fazer pactos com os políticos que ele prometeu evitar e, o mais importante, estragar a resposta do Brasil ao coronavírus, Fernandes, 66, agora diz que errou ao confiar no Bolsonaro.

"Estou revoltadíssima com o meu voto", disse ela em um estacionamento de supermercado no Rio de Janeiro, em uma manifestação pró-impeachment incomum convocada por grupos de direita. "Bolsonaro está fazendo um péssimo governo. Ele está fazendo um desserviço à nação. Ele está fazendo uma orientação totalmente errada quanto à pandemia."

Apesar de negar repetidamente a gravidade da pandemia e comandar uma resposta que deixou o Brasil com o segundo maior número mundial de mortes por Covid-19 depois dos Estados Unidos, Bolsonaro encerrou 2020 em alta nas pesquisas, impulsionado por um generoso pacote de apoio ao coronavírus.

2021, porém, começou menos amistoso. O programa de auxílio emergencial agora acabou, enquanto uma segunda onda da doença ganha força. Outros ficaram irritados com o atraso e lentidão da campanha de vacinação contra o coronavírus pelo governo federal e com a promessa pessoal de Bolsonaro de não tomar nenhuma nenhum imunizante contra o vírus.

Um aumento recente de casos na cidade de Manaus (AM), que foi um dos primeiros locais gravemente atingidos pelo vírus durante a primeira onda, provou ser outra mancha na resposta do presidente ao coronavírus. A cidade ficou sem oxigênio na semana passada, deixando hospitais dependendentes de cilindros do mercado negro, ou tanques importados da Venezuela.

O apoio a Bolsonaro teve a maior queda desde o início de seu governo em 2019, segundo pesquisa Datafolha na sexta-feira. Sua administração foi classificada como ruim ou péssima por 40% dos entrevistados, em comparação com 32% no início de dezembro. Pouco menos de um terço dos entrevistados classificou o governo de Bolsonaro como bom ou excelente, contra 37% antes.

Em Brasília, porém, Bolsonaro parece estar em terreno mais estável. A maioria dos brasileiros rejeita seu impeachment, revelou uma segunda pesquisa do Datafolha na sexta-feira. O levantamento mostrou que 53% dos entrevistados eram contra a abertura de processos de impeachment pelo Congresso, contra 50% em pesquisa anterior. O percentual a favor caiu de 46% para 43%.

Os candidatos apoiados por Bolsonaro também devem ganhar o controle do Congresso no mês que vem. Sua crescente disposição para discutir negociações políticas o ajudou a garantir uma base de parlamentares de centro-direita que poderiam eliminar qualquer chance de impeachment.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Mas foram exatamente essas parcerias que trouxeram um punhado de manifestantes a um estacionamento na Barra da Tijuca, no Rio, neste domingo.

Convocados pelo Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre, dois grupos de direita cujos protestos em todo o país em 2016 ajudaram a precipitar o impeachment e posterior destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, os protestos deste domingo foram repletos de ex-apoiadores do Bolsonaro revoltados. Eventos semelhantes aconteceram em São Paulo e Brasília, com protestos de esquerda pró-impeachment em todo o Brasil no sábado.

Ainda que de posições antagônicas no espectro ideológico, as organizações envolvidas nos protestos do fim de semana têm em comum os argumentos utilizados para criticar o governo e o presidente.

Temas como a corrupção, as trocas de cargos e emendas por apoio político, a necessidade do retorno do auxílio emergencial e os problemas relacionados à gestão da pandemia, além dos problemas em torno da vacina e do próprio impeachment, foram levantados como motivos para as manifestações deste fim de semana por ambos os lados

Embora a participação no Rio tenha sido pequena, se os números aumentarem nos próximos meses, isso pode representar um problema para o presidente antes de 2022, quando ele certamente buscará a reeleição.

Até dezembro do ano passado, quando o Congresso encerrou seus trabalhos, Bolsonaro já era alvo de cinco pedidos de abertura de processo de impeachment, segundo a Agência Câmara, um deles já arquivado.

Partidos da oposição -- PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB, e Rede -- preparam um novo pedido a ser apresentado à Câmara, motivado pela questão sanitária. Eles apontam a omissão do governo.

Como outras pessoas no protesto, Patricia Resende, uma funcionária pública de 57 anos, disse que Bolsonaro dificilmente sofrerá impeachment.