BC vê risco de desaceleração econômica à frente e reconhece deterioração inflacionária

Reuters

Publicado 10.05.2022 08:18

Atualizado 10.05.2022 10:20

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central avalia que o aperto das condições financeiras observado na economia cria um risco de desaceleração mais intensa da atividade à frente, conforme ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira, reconhecendo que há uma deterioração na dinâmica inflacionária do Brasil apesar do ciclo "bastante intenso e tempestivo" de ajuste nos juros.

O documento mencionou surpresa no movimento de alta de preços e pressões provocadas pela guerra na Ucrânia e a demanda global elevada. E ressaltou que grande parte do efeito contracionista da política monetária ainda não foi observada, assim como seu efeito sobre a inflação corrente.

De acordo com a ata, diante da potencial persistência do processo inflacionário global, a posição mais contracionista da política monetária nos países avançados tem impactado as condições financeiras dos países emergentes.

“O Comitê ressaltou que o crescimento econômico veio em linha com o que era esperado, mas o aperto das condições financeiras cria um risco de desaceleração mais forte que o antecipado nos trimestres à frente, quando seus impactos tendem a ficar mais evidentes”, disse.

O BC incluiu a possibilidade de desaceleração da atividade em seus cenários como fator de risco de baixa da inflação, além de uma possível reversão na alta de preços das commodities. O viés de alta, por outro lado, é motivado pelas pressões inflacionárias globais e incertezas sobre o arcabouço fiscal do Brasil.

Na semana passada, o BC subiu a Selic em 1,0 ponto percentual, a 12,75% ao ano, e disse ser provável uma extensão do ciclo de alta dos juros com um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, em junho, sem especificar se esse seria o último aumento da taxa.

Na ata, a autoridade monetária disse que a sinalização futura da política monetária foi discutida, reforçando que a opção por estender o ciclo com um ajuste menor foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos.

O BC argumentou ainda que a decisão reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário.

A ata manteve a posição adotada pelo BC na semana passada de não deixar claro se o ajuste na Selic na reunião de junho encerrará o ciclo de aperto para conter a inflação ou se é possível que ocorram novos aumentos de juros à frente.

"Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária", disse.

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SURPRESA

O documento apontou que a inflação ao consumidor segue elevada no Brasil, com alta disseminada entre vários componentes, mostrando-se mais persistente que o antecipado. Segundo o BC, a inflação de serviços e de bens industriais se mantém alta, e os recentes choques levaram a um forte aumento em alimentos e combustíveis.

De acordo com a ata, as leituras recentes da inflação vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu inclusive nos componentes associados à inflação subjacente --que exclui itens mais voláteis.

"O Comitê notou que ocorreu deterioração marginal tanto na dinâmica inflacionária de curto prazo quanto em suas projeções mais longas, ainda que o cenário esteja cercado de incerteza e volatilidade acima do usual", disse.

No fim do mês passado, o IBGE informou que os preços dos combustíveis seguiram em forte alta e levaram o IPCA-15 a registrar o maior avanço para meses de abril em quase 30 anos, ultrapassando os 12%.

O mercado também vem revisando para cima suas projeções de inflação. Segundo as estimativas captadas pelo BC no boletim Focus mais recente, divulgado dia 2 de maio, a expectativa para o IPCA em 2022 passou de 7,65% para 7,89%, distanciando-se ainda mais da meta de 3,50% (com tolerância de 1,5 ponto). Para 2023, a previsão passou de 4,00% para 4,10%, acima da meta de 3,25%.

O BC optou por manter em suas projeções a premissa de que o barril do petróleo terminará 2022 em 100 dólares, aumentando 2% ao ano a partir de 2023. Nesse cenário, que inclui bandeira tarifária amarela nas contas de energia elétrica, a autoridade monetária estima que o IPCA ficará em 7,3% neste ano e 3,4% no seguinte.

A ata destacou ainda que o ambiente global seguiu se deteriorando, com pressões inflacionárias decorrentes da retomada após a pandemia exacerbadas pelo avanço nos preços de commodities e, mais recentemente, pela nova onda de Covid-19 na China.