BC diz que arcabouço fiscal impacta inflação indiretamente e defende foco em expectativas

Reuters

Publicado 28.03.2023 08:23

Atualizado 28.03.2023 10:31

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - Em meio à espera pela proposta de arcabouço fiscal do governo, o Banco Central afirmou que a relação entre a apresentação do texto e a convergência dos preços para as metas não é direta, enfatizando o foco em melhorar as expectativas para a inflação, que seguem desancoradas, além de pregar paciência na condução da política monetária.

Apesar de fazer aceno ao governo ao afirmar que o pacote do Ministério da Fazenda para ajustar as contas públicas reduz o risco de alta da inflação no curto prazo, com efeitos já sentidos em estatísticas oficiais, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta terça-feira, manteve tom duro, na visão de analistas.

"Não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços de ativos", avaliou.

O documento afirmou que a materialização de um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo mais benigno de baixa de preços ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco dos ativos domésticos.

O destaque dado às expectativa, que, segundo a ata, foi um tema "bastante debatido" na reunião do Copom, ocorre em meio a uma deterioração nesse indicador, com o mercado e o BC projetando uma desancoragem, especialmente em prazos mais longos.

Segundo a ata, o movimento também é impactado por questionamentos sobre uma possível alteração na meta de inflação, que chegou a ser debatida no governo. Para o BC, a credibilidade da meta contribui para o bom funcionamento do canal de expectativas.

A equipe econômica aposta na apresentação do novo arcabouço fiscal nas próximas semanas para melhorar o ambiente econômico e abrir caminho para que o BC corte juros.

O economista chefe do Banco Original, Marco Caruso, afirmou que a ata mostra a importância de manutenção de postura austera diante de um descolamento das expectativas.

"O BC está aguardando o (arcabouço) fiscal, que ainda não saiu, e mais importante, que ainda não tramitou. Ele faz questão de mostrar a importância da tramitação e do que vai sair do Congresso no final", disse. "É um Copom firme naquilo que enxerga como as melhores práticas para a política monetária, e que não vai mudar isso por conta de pressão política".

Para o economista da CM Capital Matheus Pizzani, o Copom advertiu que, apesar do avanço em medidas de ajuste, ainda há incerteza em relação à situação fiscal.

"A apresentação e aprovação do arcabouço fiscal se mostra condição fundamental para melhoria do ambiente macroeconômico em nível suficiente para se debater a reversão do atual ciclo de aperto monetário", afirmou.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

O BC decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano em reunião na semana passada, sem apresentar sinal concreto sobre um eventual afrouxamento monetário à frente, contrariando expectativas no mercado e no governo por uma indicação sobre o momento em que poderia iniciar os cortes nos juros. A ata também não trouxe sinalização nesse sentido.

PERSEVERANÇA

O documento desta terça reafirmou mensagem do comunicado da semana passada de que o BC irá perseverar até que ocorra a desinflação e a ancoragem das expectativas, voltando a dizer que não hesitará em retomar ajustes nos juros se necessário.

Diante de pressões no governo por cortes de juros bancários, com intenção de buscar linhas de crédito mais baratas no BNDES, o Copom voltou a destacar que a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas pode diminuir a potência da política monetária e elevar a taxa neutra de juros.

A estimativa do BC para a taxa neutra --aquela que não estimula nem contrai a economia-- foi mantida em 4%, mas a autarquia avaliou cenários alternativos. Segundo a autoridade monetária, uma elevação no indicador impacta mais fortemente as projeções de inflação a partir do segundo semestre de 2024, que atualmente está em seu foco de atuação.

"O Comitê reforça a importância de que a concessão de crédito, público e privado, se mantenha com taxas competitivas e sensíveis à taxa básica de juros", disse.

EXTERIOR DETERIORADO

O BC afirmou que o ambiente externo se deteriorou e citou a liquidação de bancos nos Estados Unidos e a crise do europeu Credit Suisse (SIX:CSGN) como fatores que geram viés negativo para as condições financeiras e o crescimento global, apesar de elevada incerteza.

Segundo o documento, o BC analisa possíveis canais de contágio desses incidentes sobre o Brasil, mas avalia que o impacto direto sobre o sistema financeiro doméstico é, até o momento, limitado.

A ata afirmou que a melhor contribuição da política monetária segue sendo o combate à inflação e suavização de flutuações econômicas, com membros do Copom ressaltando que não há dilema entre controle inflacionário e estabilidade financeira, havendo separação de instrumentos para atingir os diferentes objetivos.

O documento apontou que houve aperto adicional nas condições de crédito no Brasil, com parte dos membros do Copom avaliando que o movimento está em linha com o esperado, enquanto outros acreditam que a mudança está mais intensa que o projetado, mas focalizada em mercados específicos.

"O Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para endereçar fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram", disse, em meio a avaliações no governo de que a possível crise bancária internacional e o resfriamento do crédito poderiam levar o BC a cortar juros.

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações