BC reduz projeção de expansão do PIB em 2019 a 0,8% por ausência de sinais de recuperação

Reuters  |  Autor 

Publicado 27.06.2019 10:27

BC reduz projeção de expansão do PIB em 2019 a 0,8% por ausência de sinais de recuperação

Por Isabel Versiani

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central reduziu sua projeção de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2019 para 0,8%, de uma estimativa anterior em março de expansão de 2,0%, mas não alterou sua mensagem de condicionar novos cortes de juros a avanços na reforma da Previdência.

No Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira, o BC atribuiu o corte expressivo na projeção para o PIB à retração da atividade no primeiro trimestre e à ausência de sinais nítidos de recuperação nos primeiros indicadores divulgados para o segundo trimestre.

O BC também citou o recuo dos indicadores de confiança de empresas e consumidores, destacando os impactos sobre as perspectivas de consumo e investimento, e salientou que a economia segue operando com elevado nível de ociosidade dos fatores de produção.

Com a redução da projeção, o BC segue a leitura do mercado, que vem repetidamente revisando para baixo seu cenário para a economia. A última pesquisa Focus, feita pelo BC junto a economistas, aponta um crescimento de 0,87% no ano.

A expectativa do BC para a indústria em 2019 foi reduzida a um crescimento de apenas 0,2%, de 1,8% antes, refletindo recuos nas expectativas de crescimento para todos os segmentos do setor, exceto produção e distribuição de eletricidade, gás e

água.

O setor de serviços também teve seu cenário piorado, a um crescimento de 1,0% sobre 2,0% em março. Por outro lado, o BC praticamente manteve as expectativas para a agropecuária, vendo expansão de 1,1% em 2019 de 1,0% antes.

Já o consumo das famílias deve crescer na visão do BC 1,4% no ano, uma redução sobre a expectativa de 2,2% no relatório anterior. A projeção para o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) passou de 4,3% para 2,9%, enquanto o consumo do governo deverá crescer 0,3%, sobre 0,6% visto em março.

O BC já havia estimado nesta semana que a economia brasileira deve ficar perto da estabilidade neste segundo trimestre, com uma "nítida" interrupção em seu processo de recuperação como reflexo de uma mudança na dinâmica da atividade depois do segundo trimestre de 2018.

POLÍTICA MONETÁRIA

No relatório, o BC ainda manteve suas projeções para a inflação em relação ao divulgado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Em cenário que considera trajetórias de juros e câmbio previstas pelo mercado, o BC vê inflação de 3,6% em 2019 e de 3,9% em 2020. As metas para o ano são de 4,25% e 4,0%, respectivamente, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Em cenário que considera juros e câmbio constantes, a estimativa é de inflação de 3,6% em 2019 e de 3,7% em 2020.

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No relatório, o BC reiterou avaliação da ata do Copom de que o cenário básico de inflação aponta que o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado e que eventual frustração das expectativas para reformas pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação.

"O Comitê avalia que o balanço de riscos para a inflação evoluiu de maneira favorável, mas entende que, neste momento, o risco (das reformas) é preponderante", reforçou o BC no relatório.

Para Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina, as projeções de inflação do BC e algumas avaliações que ele considerou "dovish" (favoráveis ao afrouxamento monetário) acrescentadas ao relatório sugerem que o Copom pode considerar um corte de juros no curto prazo, mas "particularmente se houver progresso tangível na aprovação de reformas, particularmente da Previdência".

"Essencialmente, parece que nesse momento, dados os recentes desenvolvimentos domésticos e externos, é a incerteza em torno da perspectiva para as reformas e os riscos associados de fracasso nos avanços das reformas necessárias que estão detendo o Copom de adicionar mais estímulo monetário à economia", afirmou Ramos em relatório a clientes.