BC pode investigar efeito da volatilidade da inflação e não apenas seu nível, diz Campos Neto

Reuters

Publicado 25.11.2022 13:13

Atualizado 25.11.2022 17:15

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - Pensamos em investigar a possibilidade de olhar a volatilidade da inflação ao invés de observar apenas seu nível, disse nesta sexta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ao mencionar um estudo produzido pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) sobre o comportamento dos preços em diferentes economias.

Em evento promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Campos Neto afirmou que as pressões inflacionárias globais estão mais persistentes, argumentando que por conta de uma adaptabilidade menor da oferta, sempre que houver choque, a inflação será mais volátil.

O presidente do BC afirmou que o estudo do BIS mostra que países que têm a inflação baixa permitem aumentar a oferta de moeda na economia gerando um efeito menor na inflação. Ele disse considerar o estudo "interessante", mas disse que ele "não demonstra causalidade" e fez a ressalva.

"Uma coisa que a gente está pensando em investigar é: ao invés de olhar simplesmente o nível de inflação, olhar a volatilidade da inflação. Porque se a gente está dizendo que a oferta vai ser menos adaptável daqui para frente, a gente está dizendo que os diversos choques virão pela frente, a inflação será mais volátil”, disse.

Ao fazer as afirmações sobre o estudo, Campos Neto não disse se essa análise da volatilidade poderia trazer impactos sobre a política monetária.

Em recado sobre a questão fiscal, ele disse que colocar mais dinheiro na economia vai gerar maior volatilidade de inflação, reafirmando que "não vencemos a batalha da inflação ainda" e dizendo ser "importante persistir".

O ex-ministro Fernando Haddad, cotado para ser o futuro ministro da Fazenda do novo governo, também participou do evento, como representante do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, e falou logo após Campos Neto.

Campos Neto também disse na apresentação que "não podemos ter política monetária de um lado e política fiscal do outro", ressaltando que a incerteza em relação ao arcabouço para as contas públicas no Brasil fez o mercado passar a ver elevações de juros à frente.

"Tem uma incerteza em relação ao arcabouço fiscal que, uma vez sanada, (...) o mercado possa entender que a trajetória da dívida é sustentável, e a gente consiga reverter o quadro recente", disse.

"Usamos a política fiscal como parte da nossa modelagem, mas é importante destacar que grande parte do trabalho já foi feito", acrescentou.