Com cenário inflacionário, Copom aumenta juros novamente

Investing.com

Publicado 16.03.2022 17:43

Atualizado 16.03.2022 20:03

Por Jessica Bahia Melo

Investing.com - Em meio a tensões geopolíticas com a guerra, alta nos juros americanos, pressões inflacionárias domésticas e de commodities, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar novamente a taxa de juros básica da economia, a Selic. Após reunião de dois dias, os membros definiram nesta quarta-feira (16) por um aumento de 1 ponto percentual,  para 11,75% ao ano, conforme esperado pelo mercado.

A reunião anterior do Copom, finalizada em 2 de fevereiro, havia terminado com a alta na Selic em 1,5 ponto percentual, de 9,25% para 10,75%, maior taxa desde 2017. As reuniões do Copom ocorrem a cada 45 dias. Para os próximos encontros, o comunicado apontou que "é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista".

Segundo o economista Leonardo Mendes, sócio e head de empresas na JB3 Investimentos, a elevação está em linha com o cenário internacional e com os desdobramentos geopolíticos da  guerra.  “Mesmo que a gente saiba que o efeito na inflação brasileira não seja imediato, o Banco Central está aumentando a taxa de juros agora não por uma inflação futura, mas pelo que já acontece na economia brasileira neste momento. A continuidade de um aumento das commodities alteraria ainda mais a projeção de Selic”, acredita.

Mendes destaca que a elevação nos juros traz maior atratividade em títulos públicos, com possível vinda de capital estrangeiro buscando risco-retorno melhor no Brasil. “Somado aos preços das commodities e mais receitas de exportação,  tende a haver um saldo de balança comercial mais favorável. O dólar, que inverteu para uma tendência de queda nas últimas semanas, tende a continuar dessa forma”, completa.

h2 Balanço de riscos/h2

Ao avaliar os possíveis cenários para inflação, o Copom apontou que as tendências vão em ambas as direções. “Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo dos seus cenários. Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país. Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação”, detalha o documento.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, afirma que o BCB deixou claro que o conflito impõe um desafio no curto prazo e há preocupação com orientação da política fiscal, elevando o prêmio de risco do país.  Além disso, não houve nenhuma sinalização sobre o fim do ciclo de aperto monetário. “O comitê adotou um tom firme e duro em relação ao combate do processo inflacionário”, reforça. 

h2 Política contracionista/h2
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A taxa de juros é o principal instrumento de controle inflacionário do Banco Central brasileiro e a Selic é referência para as outras taxas na economia. Essa elevação mantém o ciclo de alta da Selic, que iniciou no mês de março do ano passado – quando subiu de 2,0% para 2,75%. A política contracionista visa diminuir a demanda, mas pode afetar de forma negativa variáveis como o Produto Interno Bruto (PIB).

Isso ocorre porque a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual. No entanto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrado em fevereiro chegou a 1,01%, enquanto a taxa anual atingiu 10,54%.

No último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (14), o mercado elevou as expectativas para inflação neste ano para 6,45%, contra 5,65% na semana passada – bem acima do teto da meta de 5,0%.

CONFIRA: Mercado eleva projeção para inflação este ano a mais de 6% e vê maior aperto monetário, mostra Focus

h2 Confira o comunicado na íntegra/h2

 

Em sua 245ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,75% a.a.

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, o ambiente se deteriorou substancialmente. O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial. Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do quarto trimestre de 2021 apontou ritmo de atividade acima do esperado;
  • A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente;
  • No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,05*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,1% para 2022 e 3,4% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% em 2022 e reduz-se para 8,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,5% para 2022 e 5,9% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária "amarela" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023; e
  • Diante da volatilidade recente e do impacto sobre as projeções de inflação de sua hipótese usual para o preço do petróleo em USD**, o Comitê decidiu adotar também, neste momento, um cenário alternativo. Nesse cenário, considerado de maior probabilidade, adota-se a premissa na qual o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril e passando a aumentar dois por cento ao ano a partir de janeiro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo dos seus cenários.

Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mas considera que esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos utilizados em seus modelos. O Comitê segue considerando uma assimetria altista no balanço de riscos.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 11,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e, principalmente, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista.

A atuação do Comitê visa combater os impactos secundários do atual choque de oferta em diversas commodities, que se manifestam de maneira defasada na inflação. As atuais projeções indicam que o ciclo de juros nos cenários avaliados é suficiente para a convergência da inflação para patamar em torno da meta ao longo do horizonte relevante. O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza. 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

**Valores em torno da média dos preços do petróleo vigentes na semana anterior à reunião do Copom e 2% de variação ao ano a partir de então.

 

 

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