Copom eleva Selic em 1,5 p.p. para 10,75%, maior taxa desde 2017

Investing.com

Publicado 02.02.2022 17:45

Atualizado 02.02.2022 20:15

Por Jessica Bahia Melo

Investing.com - Para conter as pressões inflacionárias, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nesta quarta-feira (02) a elevação da taxa básica de juros Selic de 9,25% para 10,75%, conforme previam especialistas. A decisão foi unânime. Para as próximas decisões, o Comitê informou que deve reduzir o ritmo do ajuste monetário contracionista.

A estimativa do mercado era de um aumento de 1,5%, na mesma magnitude da reunião passada, finalizada em oito de dezembro – que elevou a Selic de 7,75% para 9,25%.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, acredita que o comunicado aponta claramente para o fim do aperto no ritmo atual. "O tom do comunicado nos pareceu marginalmente hawkish ao apontar diversos desafios, em especial a questão fiscal e a inflação mais persistente. Provavelmente o BCB preferiu agir mais duramente agora para abrir espaço para o fim do ciclo. Nossa projeção contempla mais uma alta de 75 pontos base e mais uma de 50 o que faria a taxa fechar em 12%, mas levando em conta tom da ata e a perspectiva que o colegiado do BCB está olhando com mais atenção o ano calendário de 2023, talvez haja espaço para uma alta de 100 pontos base e depois mais nenhuma fazendo a taxa ficar em 11,75%", afirma.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, concorda que havia uma consolidação sobre o que era esperado para essa reunião, mas ainda havia incertezas sobre as próximas. “Em vez de ser tudo na próxima decisão, provavelmente será algo escalonado”, destaca. Segundo Vale (SA:VALE3), como as pressões inflacionárias ainda permanecem, a taxa é elevada, mas necessária para o cenário. No entanto, a expectativa do economista é que, por conta desse aumento dos juros, a atividade econômica fique estagnada em 2022.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse que a autoridade opta por perder graus de credibilidade no combate às expectativas de inflação. "Acreditamos que o BC apresentou um comunicado dovish apontando para uma redução do ritmo de elevação da Selic, mas tentou ser hawkish ao tentar remover a tampa dos juros. Contudo, a autoridade pode estar pautada da rolagem do horizonte relevante visto que março é a última reunião que o IPCA 2022 (altamente desancorado) faz parte da meta do BC. Partindo desse pressuposto, a autoridade deverá ter uma condução dovish, ainda que tenha buscado pontos hawkish para uma eventual saída futura", completa.

h2 Aperto monetário/h2
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Os membros do Copom haviam sinalizado na ata da última reunião que deveriam manter a elevação da Selic no mesmo patamar. O ciclo de aperto monetário iniciou em março de 2021, quando a taxa passou de 2% para 2,75%. Com a alta, a Selic volta aos dois dígitos, patamar que abandonou em julho de 2017. Além disso, registra a maior taxa desde maio daquele ano, quando passou de 11,25% para 10,25% no dia 31.

h2 Balanço de riscos/h2

Em seu balanço de riscos, o Copom notou fatores em ambos os lados. O comitê considerou o ambiente externo menos favorável, com persistência da inflação em outros países, mas uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais . No entanto, políticas fiscais expansionistas podem piorar a trajetória fiscal futuramente, apesar do desempenho mais positivo das contas públicas. “O Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência”, destaca o documento.

h2 Inflação nas alturas/h2

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial para inflação do país, encerrou 2020 em 10,06%, maior inflação anual desde 2015, puxado principalmente pelos preços de energia e combustíveis. O Conselho Monetário Nacional definiu como meta de inflação para 2022 a taxa de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (entre 2% e 5%). Para tentar chegar a esse patamar, utiliza a taxa Selic, o principal instrumento de política monetária. A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) é referência para outras taxas na economia.

h2 Impactos na renda fixa/h2

Ativos pós-fixados, com rentabilidade atrelada a Selic ou ao DI são beneficiados por altas na Selic. No entanto, segundo Vinicius Romano, especialista de renda fixa na Suno Research, no caso dos prefixados e indexados à inflação, os impactos são um pouco diferentes.

"Esses ativos são influenciados pela curva de juros, que é composta pelos juros futuros de diversos vencimentos. Tais juros futuros são precificados e negociados pelo mercado, ou seja, já existe uma trajetória para a taxa Selic embutida nos preços dos títulos. Caso essa trajetória embutida na curva de juros esteja subavaliada, os juros tendem a subir para refletir o cenário mais próximo da realidade, e a marcação a mercado seria negativa nos preços dos papéis de renda fixa pré e indexados à inflação", comenta Romano.

De acordo com o especialista, antes da divulgação da nova Selic, a curva de juros já precificava mais dois aumentos de 100 bps em março e maio. "Ao analisarmos o comunicado do Copom, os ajustes refletidos nos juros futuros estão, de certa forma, alinhados com o caminho que o BC quer seguir (apesar da redução momentânea do ritmo de ajuste). Por isso, considerando somente esse fator, a tendência é de que a curva não sofra alterações bruscas nos próximos dias", pondera.

h2 Leia o comunicado na íntegra:/h2

Em sua 244ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,75% a.a.

A atualização do cenário de referência do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • No cenário externo, o ambiente segue menos favorável. A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo da atividade, ao mesmo tempo que pode postergar a normalização das cadeias globais de produção;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores relativos ao quarto trimestre tiveram evolução ligeiramente melhor que a esperada, em particular os relativos ao mercado de trabalho;
  • A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como principalmente nos itens associados à inflação subjacente;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,4% e 3,5%, respectivamente; e
  • No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,45*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022 e 5,4% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária "vermelha patamar 1" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário de referência para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência.

Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.

Considerando o cenário de referência, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 10,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário de referência e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, em grau maior, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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