Da mudança climática à desigualdade, Lagarde torna Banco Central Europeu mais politizado

Reuters

Publicado 26.10.2020 10:13

Por Balazs Koranyi e Francesco Canepa e Frank Siebelt

FRANKFURT (Reuters) - Desde que assumiu o comando, um ano atrás, Christine Lagarde voltou a atenção do Banco Central Europeu (BCE) a questões sociais como a mudança climática e a desigualdade, ampliando seus horizontes mas também sujeitando-o a ataques que podem testar sua independência.

Os esforços de Lagarde de usar a alavancagem do banco para combater o aquecimento global, a desigualdade de gênero e a disparidade de renda podem ter sido ofuscados pela pandemia de coronavírus e a recessão profunda que ela desencadeou.

Mas eles ainda podem remodelar a instituição mais poderosa da união monetária e ajudar a redefinir o papel do BC em uma era na qual a ameaça da inflação desenfreada saiu de cena.

Como instituição, o BCE é único. Sua presidente tem um poder incomparável para influenciar a formulação de políticas monetárias e o debate econômico mais abrangente – como o antecessor de Lagarde, Mario Draghi, demonstrou em 2012 ao dizer que o banco faria "todo o necessário" para salvar o euro, pegando mercados e alguns colegas de surpresa.

O papel do banco também está aberto a interpretações por causa de um tratado cuja redação é vaga.

Diferentemente do Fed norte-americano, que tem o mandato duplo de zelar pela estabilidade dos preços e do emprego, o BCE precisa primeiro manter os preços estáveis e depois apoiar as "políticas econômicas gerais" da União Europeia.