Economistas esperam corte da Selic no 2º semestre de 2023; mercado projeta antecipação

Reuters

Publicado 22.09.2022 14:45

Atualizado 22.09.2022 16:35

Por José de Castro

(Reuters) - O juro básico da economia brasileira deve permanecer em 13,75% até o fim do primeiro semestre de 2023 antes de finalmente começar a ser reduzido, disseram economistas, avaliando que o comunicado do Copom divulgado na noite de quarta-feira reforçou leituras de espaço para alívio monetário na segunda metade do ano que vem.

"Com a desaceleração da economia, não só pela política monetária, mas também pelo juro mais alto lá fora, é improvável que a inflação não ceda", disse o economista-chefe da Neo Investimentos, Luciano Sobral, que vê espaço para corte de 3 pontos percentuais nos juros no segundo semestre do ano que vem, levando a Selic a 10,75%.

"O cenário que o BC está buscando parece esse: juro parado no primeiro semestre e depois reduções."

Na noite de quarta-feira, o Banco Central decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano, pausando às vésperas da eleição presidencial um agressivo ciclo de aperto monetário, com 12 altas seguidas da taxa.

A interrupção do aperto no país se deu no mesmo dia em que o Federal Reserve promoveu a terceira alta seguida de 0,75 ponto percentual da taxa de juros dos Estados Unidos e indicou mais altas significativas à frente.

Mesmo parando a alta da Selic, a decisão da autoridade monetária no Brasil foi permeada de elementos "hawkish" --ou seja, por uma postura mais dura sobre a inflação--, como a dissidência de dois diretores que votaram por alta de 0,25 ponto. O Comitê de Política Monetária (Copom) ponderou que não hesitará em retomar as altas nos juros se a redução da inflação não transcorrer como o esperado.

"No geral, o tom do comunicado foi 'hawkish', mas não acreditamos que os participantes do mercado deixarão de precificar mais cortes na curva de juros", disseram em relatório Solange Srour e Rafael Castilho, do Credit Suisse (SIX:CSGN).

"Isso porque o Banco Central decidiu interromper o ciclo de aperto... e suas projeções de inflação não mostram um cenário desafiador para a inflação."

O movimento das taxas dos contratos de juros futuros negociados na B3 (BVMF:B3SA3) em geral referendava percepção dos economistas sobre a queda da taxa. O DI janeiro 2024 --que capta as expectativas para os rumos da Selic entre hoje e o fim de 2023-- caía 12 pontos-base, enquanto o DI janeiro 2023 cedia cerca de 4,5 pontos-base.

A curva nesse trecho, que já estava invertida, aprofundava essa tendência nesta quinta-feira, com o spread saindo de -0,65 ponto percentual para -0,715 ponto. Isso por si só já indica projeções de mais cortes dos juros em 2023. Mas a curva mostra quedas mais firmes nos vértices do segundo semestre, evidência de que o mercado coloca mais fichas em reduções da Selic nos últimos seis meses do próximo ano, ainda que também revele apostas em corte antecipado, ainda no primeiro semestre.

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Para David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America (NYSE:BAC) para Brasil, a decisão e a comunicação do Copom vieram em linha com a expectativa da casa para o fim do ciclo de aperto, com a tônica "hawkish" também como esperado. Com isso, ele vê a Selic em 13,75% até dezembro deste ano, mas indo a 10,50% ao fim de 2023.

O Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) lembrou que na ata da reunião do Copom, a ser divulgada na próxima semana, será possível obter mais informações sobre o racional do BC, mas afirmou não esperar que o colegiado revise a estratégia de manter os juros altos por bastante tempo, "por pelo menos algumas reuniões".

Com base na última revisão de cenário para Brasil, de dez dias atrás, o Itaú espera alívio monetário apenas no segundo semestre do ano, ao término do qual a Selic ficaria em 11,00%.