Inflação: IPCA deve ter aceleração em junho, mas tendência é de ritmo mais fraco

Investing.com

Publicado 05.07.2022 16:38

Atualizado 05.07.2022 19:02

Por Jessica Bahia Melo

Investing.com - A inflação em alta é uma grande pauta do momento para o mercado, pelo impacto na Selic. Em meio a reajustes na gasolina, diesel, planos de saúde, bandeiras tarifárias, entre tantos outros, medidas são tomadas para tentar frear a alta dos preços. Como o teto para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) dos combustíveis nos estados. Enquanto as altas na eletricidade em até 63,7% não tem efeito imediato, a queda nos valores nas bombas dos postos já pode ser sentida pelo consumidor.

Nesta sexta-feira, a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dará mais indícios do impacto dessas ações e do ciclo de aperto monetário no país. A expectativa, porém, é de que os preços voltem a acelerar. O IPCA registrou 0,47% em maio, levando o indicador anual a 11,73%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para junho, a média das estimativas dos analistas consultados pelo Investing.com é uma inflação mensal de 0,70% e de 11,90% em doze meses - uma aceleração na comparação com o mês anterior. Já o IPCA-15 de junho, considerado a prévia da inflação oficial, apresentou uma alta mensal de 0,69%. Na variação anual, a taxa foi de 12,04%.

Pablo Bittencourt, professor de economia da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC), acredita, no entanto, que apesar de uma possível alta no indicador desta semana o momento é de desinflação e a taxa de juros está fazendo o trabalho que dela se espera. “Ela visa provocar uma contração da demanda na economia para que isso se reverta em desestímulo ao aumento de preços. Ela diminui a demanda dentro do país e estimula a entrada de dólares, que freiam uma eventual desvalorização da taxa de câmbio. O crédito fica mais caro, a demanda fica menor, o que tende a impactar a inflação”, detalha.

Segundo a JB3 Investimentos, o país passa por um processo de desinflação artificial devido às medidas de isenção tributária até o final do ano, abdicando de receita em cima de alguns produtos como combustíveis e energia elétrica - o que pressionaria os juros e a dívida pública. 

IPCA em junho/h2

Em relatório divulgado ao mercado, o Banco Santander (BVMF:SANB11) informou que espera uma alta de 0,71% no IPCA de junho, levando a uma taxa anual de 11,9% ao ano. Já o economista do Banco Original Eduardo Vilarim acredita que os preços administrados devem ser o destaque do mês, levando a inflação a 0,71% no mês, o equivalente a 11,9% em 12 meses. “Consequência do reajuste de 5,18% na gasolina e 14,26% do diesel sobre os transportes, anunciado pela Petrobrás no dia 17. Sinalizamos que nesta divulgação, não há mais os efeitos positivos (em termos de menor inflação) decorrentes de energia elétrica”. 

Segundo o economista, sobre os preços livres, há risco de alta nos alimentos superior ao observado no IPCA-15, sinalizando que a queda foi pontual, além de menores impactos de comunicação e vestuário. O banco estima um IPCA de 8% ao final do ano, com taxa Selic em 13,75% e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 1,80%.

Rodrigo Ashikawa, economista-chefe da Claritas, espera um avanço do IPCA para 0,79% em junho, aceleração explicada também pela alta nos preços administrados. “Nessa divulgação teremos uma dissipação do efeito baixista da bandeira tarifária verde, o que deve contribuir para uma queda bem menos intensa dos preços de energia elétrica dentro do indicador”. 

Além disso, os efeitos dos reajustes dos planos de saúde autorizados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) contribuem com a alta, assim como a pressão da alimentação dentro e fora do domicílio, e os preços de serviços e produtos industriais no curto prazo. A Claritas espera inflação próxima de 7% ao final do ano, Selic também em 13,75% e crescimento em 1,6%.

O exterior e a inflação/h2

A depreciação do real impactou de forma mais acentuada o Brasil, país emergente e com problemas nas contas públicas, segundo o professor da UFSC. Com a pandemia de covid-19 e a depreciação do real, muitos dos preços internacionais foram repassados mais caros a nível local. O mercado de commodities continua pressionado, ainda há dificuldades no fornecimento de produtos, mas já existe perspectiva de desaceleração dos preços com aumentos nas taxas de juros pelas autoridades monetárias mundo afora. No entanto, os efeitos devem demorar alguns meses ainda para aparecer.

Leonardo Mendes, economista e sócio da JB3, acredita que gargalos de produção na China trazem choque de oferta em cadeias produtivas que sofrem restrições devido à política de covid zero, o que deve ser normalizado nos próximos meses. Na Europa, com os preços de energia elevados na comparação histórica, o Banco Central Europeu já sinalizou que deve elevar as taxas de juros, mas isso ainda não ocorreu. Como a continuidade da guerra da Rússia na Ucrânia vem aumentando os preços de commodities energéticas, não há tendência ainda de reversão desse quadro. “Também por conta de uma política monetária do BCE que talvez esteja atrasada em relação a outros países do mundo, com uma dificuldade de tomar decisões tendo em vista as diferenças de dívidas dos países do bloco”, completa. 

Para Mendes, a pressão inflacionária permanece nos Estados Unidos, com um receio de que  futuros aumentos nas taxas de juros do Federal Reserve possam acarretar em uma recessão. 

“Juros mais altos pelos Estados Unidos e uma recessão poderiam dar uma acomodada nos preços no futuro. Mas, por enquanto, ainda vemos inflação alta, nível de consumo e de poupança altos”, conclui o economista.

h2 Perspectivas 2022 sem Boletim Focus/h2

Para o final do ano, a XP (BVMF:XPBR31) espera um crescimento de 1,6%, IPCA de 7% e Selic em 13,75%. Já o BTG (BVMF:BPAC11) estima uma inflação de 8,8% em 2022, PIB de 1,50% e Selic em 13,75%.

Os dados do Boletim Focus estão defasados devido à continuidade da greve dos servidores do Banco Central, encerrada nesta terça-feira. Normalmente divulgado às segundas pela manhã, a última publicação ocorreu no dia 02 de maio. No entanto, no dia 06 de junho, a autoridade monetária divulgou os resultados prévios sobre a previsão da inflação no país e a expectativa do mercado era de que o IPCA chegasse a 8,89% em 2022.

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