Por que o Fed poderia receber bem uma onda de venda no mercado de títulos

Reuters

Publicado 20.09.2021 16:13

Atualizado 20.09.2021 16:31

Por Stefano Rebaudo

(Reuters) - Um forte movimento de venda nos mercado de títulos que impulsione os rendimentos pode ser uma perspectiva assustadora para os bancos centrais, mas o Federal Reserve pode receber bem uma liquidação que eleve as taxas dos Treasuries para níveis que reflitam melhor a condição robusta da economia.

Rendimentos persistentemente baixos são uma característica dos mercados de títulos em todo o mundo desenvolvido, com os bancos centrais em sua maioria sem pressa para aumentar as taxas de juros, enquanto um excesso de economia de dinheiro global mantém a dívida em constante demanda. As taxas dos títulos caem quando os preços sobem, e vice-versa.

Mas é nos Estados Unidos que a contradição entre a recuperação econômica e os rendimentos dos títulos é mais gritante.

Mesmo com o crescimento em curso para ultrapassar 6% neste ano e expectativa de redução do programa de compra de títulos do Fed no final deste ano, os rendimentos de dez anos dos Treasuries ainda estão presos em pouco acima de 1,3%.

O Fed provavelmente se alegrou com os baixos rendimentos nos estágios iniciais da recuperação econômica, mas agora precisa dos títulos para responder ao fim da recessão associada à pandemia, disse Padhraic Garvey, chefe de pesquisa para as Américas do ING Bank.

Os preços atuais, dizem os analistas, parecem mais consistentes com o aumento da incerteza econômica, ao passo que rendimentos mais altos alinhariam os mercados aos sinais vindos dos bancos centrais.

"Para facilitar isso, argumentamos que é preciso haver um 'tantrum' (onda de vendas). Se o Fed fizer um anúncio de redução de estímulos... e não houver nenhum 'tantrum', isso na verdade é um problema para o Fed", disse Garvey, do ING.

Analistas dizem que um 'tantrum' no mercado de títulos envolveria uma alta de 75 a 100 pontos-base nos rendimentos dentro de um par de meses.

O "taper tantrum" original, de 2013, impulsionou os rendimentos dos EUA em pouco mais de 100 pontos-base nos quatro meses após o então chefe do Fed, Ben Bernanke, sugerir uma redução das medidas de estímulo.

Mas esse tipo de salto repentino nos rendimentos parece improvável agora, dada a clareza com que o Fed tem desenhado seus planos de reduzir a compra de títulos. E, como 2013 mostrou, os "tantrums" do mercado de títulos trazem efeitos colaterais desagradáveis, incluindo fortes vendas de ações e custos de empréstimos mais elevados em todo o mundo.

Uma média favorável, dizem analistas, pode ser alta de 30 a 40 pontos-base nos yields, para 1,6% a 1,8%.

h2 NECESSIDADE DE MUNIÇÃO/h2

Além de desejar rendimentos mais altos para refletir melhor o ritmo de crescimento econômico, o Fed também precisa recuperar alguma munição para conter quedas econômicas futuras.

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A taxa básica de juros "overnight" do Fed é de zero a 0,25%, e as autoridades dos EUA, ao contrário do Banco do Japão e do Banco Central Europeu (BCE), não estão inclinadas a considerar juros negativos.

O Fed não vai querer se ver na posição do BCE e do banco central japonês, cujas opções de estímulo no momento se limitam a cortar ainda mais as taxas a território negativo ou comprar mais títulos.

Jim Leaviss, diretor de investimentos da M&G Investments para renda fixa pública, disse que os formuladores de políticas provavelmente gostariam que a taxa dos fundos do Fed fosse de 2% "de forma que quando chegarmos à próxima desaceleração, o Fed tenha algum espaço para cortar taxas de juros sem atingir o limite inferior de zero rapidamente".