Selic: Copom mantém ciclo de cortes e reduz juros em 0,5 pp

Investing.com  |  Autor Marianne Paim

Publicado 01.11.2023 18:36

Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic em 0,5 ponto porcentual, indo a 12,25% ao ano, de acordo com a divulgação da instituição nesta quarta-feira (1º). Com isso, o órgão do Banco Central corta pela terceira vez a taxa básica de juros, queda que foi iniciada em agosto. Esta é a menor taxa desde maio de 2022.

Assine o InvestingPro: Tenha 15% de desconto com cupom “investirmelhor”

No comunicado, as autoridades destacam a preocupação com a volatilidade para o cenário externo e o alerta para a necessidade de o governo cumprir as metas fiscais. Para os analistas, a decisão veio dentro do esperado.

'Quando o Copom iniciou o corte de juros, em agosto, comentamos que o mercado precificaria corte(s) de 75 bps e que isto exigiria do BC um discurso enfático a fim de mitigar essas assimetrias altistas. Fez boa parte deste trabalho a deterioração no front externo (rally dos juros longos e questão fiscal nos EUA, fraqueza econômica na China, eclosão da guerra em Israel e possível escalada do confronto, bem como seus efeitos sobre o petróleo). No entanto, a comunicação do BC desde aquele momento foi necessária.", avalia Maykon Douglas, analista da Highpar.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research,acredita que o ciclo de cortes irá continuar e que não vê a trajetória nas próximas decisões. No entanto, tudo irá depender do cenário externo. "Não vejo mudando essa trajetória nas próximas reuniões, mas caso seja permissivo a situação global e local para que haja uma eventual aceleração de cortes em 2024, podemos de fato ter. Agora, também existe o outro risco, a desaceleração da economia americana não vir, as taxas de juros continuarem pressionando, e se tivermos problemas no controle da inflação local, que tem convergido, ou pior, fiscal brasileiro, que é o nosso calcanhar de Aquiles", alertou o especialista.

Apesar de os resultados de atividade e inflação ajudarem o Banco Central, por outro lado, há o aumento das incertezas e tensões geopolíticas, que seguem como pontos de cautela, assim como a dinâmica das contas públicas, com possível alteração de metas fiscais temida pelo mercado.

"Houve ao longo das últimas semanas ampliação das incertezas no cenário internacional, o que deve ser destacado no comunicado, com a alta forte nas treasuries do mercado americano, com juros bastante pressionados nos EUA, notadamente os de longo prazo, o que impacta os ativos ao redor do mundo, principalmente de países emergentes, como o Brasil", afirma Rodolfo Margato, economista da XP (BVMF:XPBR31) em entrevista ao Investing.com.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

A XP espera sinalização de cortes de meio ponto na Selic nas próximas reuniões e projeta juros a 11,75% para final deste ano e 10% para ano que vem.

No documento o comitê endureceu o tom ao atualizar o balanço de riscos que absorveu maior incerteza advinda do cenário externo." Quanto aos desdobramentos domésticos, o Copom sinalizou que estes estão se desenrolando em linha com o esperado. Por último mas não menos importante, o COPOM apresentou mais uma rodada de deterioração nas projeções de inflação com o IPCA de 2024 saindo de 3.5 para 3.6 e IPCA 2025 saindo de 3.1 para 3.2. Além disso, parece haver menor visibildiade/confiança quanto a extensão total do ciclo.", completou Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.

"A expectativa que a gente tem para o próximo ano é de uma taxa de por volta de 9,5% e fica claro que, para que ocorra isso, será necessário alguns discursos que ressaltem o compromisso do governo com as metas fiscais. A ideia que passa é que o governo precisa ficar comprometido com essa questão do déficit zero. Caso os compromissos fiscais não sejam cumpridos da forma como planejado, o BC pode precisar rever a rota. Então, eu acredito que é um primeiro sinal de, caso isso não seja cumprido, possamos ter aí uma reprecificação lá na frente.", finaliza Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital.

Leia na íntegra o comunicado:

O ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, mas segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação, enquanto as medidas mais recentes de inflação subjacente ainda se situam acima da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,6%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,7% em 2023, 3,6% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,3% em 2023, 5,0% em 2024 e 3,6% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, é mais incerta do que o usual e exige cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,00, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom, conforme anunciado no Relatório de Inflação de setembro de 2023.

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações