ENTREVISTA-Cruz Vermelha Internacional acompanha intervenção no Rio e diz que segurança não se resolve apenas militarmente

Reuters  |  Autor 

Publicado 15.03.2018 18:54

Atualizado 16.03.2018 18:31

ENTREVISTA-Cruz Vermelha Internacional acompanha intervenção no Rio e diz que segurança não se resolve apenas militarmente

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tem acompanhado a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro e defendido junto às autoridades a necessidade de respeito aos padrões internacionais de direitos humanos e de uso da força, disse à Reuters nesta quinta-feira o diretor regional do CICV para as Américas, Stephan Sakalian.

Sakalian afirmou que esteve nesta semana no Rio e se reuniu com o interventor federal na segurança fluminense, general Walter Braga Netto, para discutir a dinâmica da operação e assuntos humanitários.

"Durante a minha última visita ao Rio, há dois dias, por exemplo, eu tive a oportunidade de fazer uma visita ao general Braga Netto e discutir uma série de questões humanitárias, compreender melhor a dinâmica e garantir que qualquer coisa que vá acontecer seja feita de forma de que as autoridades no Brasil façam seu máximo para que os padrões internacionais de direitos humanos e uso da força sejam respeitados", disse Sakalian em entrevista à Reuters, durante o Fórum Econômico Mundial para a América Latina, realizado em São Paulo.

O diretor do CICV evitou comentar o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, do PSOL, na noite de quarta-feira, e afirmou que qualquer preocupação humanitária a ser detectada pelo CICV será levada diretamente às autoridades brasileiras.

Ele disse, ao mesmo tempo, que qualquer iniciativa de segurança pública não pode ser abordada apenas pelo ponto de vista policial e militar.

O Estado do Rio está sob intervenção federal na área de segurança pública desde o mês passado, devido a uma escalada da violência e a uma profunda crise financeira que afetou a capacidade de investimento nas forças policiais.

"A segurança pública não pode ser solucionada somente por policiais ou militares. Muito é colocado sobre os ombros deles para resolverem os problemas relacionados à segurança, mas a opinião do CICV é de que, se você quer ter uma política de segurança, no geral é muito importante considerar outros aspectos, especialmente prevenção. Precisamos associar outros serviços públicos", disse ele durante a entrevista, feita em inglês.

Em meio a um crescente debate sobre controle de armas no Brasil, incluindo a movimentação de políticos que buscam facilitar o acesso a armas de fogo, o diretor do CICV defendeu um controle mais restrito ao acesso a armamentos.

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"Se armas puderem ser obtidas, devem ser somente sob aspectos internacionais muito específicos, precisa ser feito de forma que a venda e a distribuição dessas armas possam ser rastreadas e precisa ser feito de forma que essas armas não acabem em mãos erradas", afirmou.

COLÔMBIA E VENEZUELA

Sakalian disse que o CICV, que atua em locais de conflito armado e onde há violência armada, tem ações em comunidades pobres da Venezuela, especialmente na capital Caracas, diante da crise socioeconômica que afeta o país em meio à falta de alimentos básicos e manifestações contrárias ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Segundo ele, a entidade também acompanha de perto a situação de imigrantes venezuelanos que têm fugido para Roraima e que, qualquer eventual ação do CICV neste caso, será feita junto com a Cruz Vermelha do Brasil e em "total coordenação com as autoridades brasileiras".