Bolsonaro diz que consultou Forças Armadas sobre efetivo para conter distúrbios sociais

Reuters

Publicado 07.04.2021 13:41

Atualizado 07.04.2021 14:11

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que discutiu com as Forças Armadas se existe hoje contingente no país para conter distúrbios sociais no caso de um agravamento da crise causada pela epidemia de Covid-19 e voltou a dizer que teme problemas "gravíssimos" causados pelas restrições de circulação.

"Eu tenho dito publicamente: eu temo por problemas sociais gravíssimos no Brasil. Converso com as nossas Forças Armadas, se eclodir isso pelo Brasil, o que nós vamos fazer? Temos efetivo para conter? A quantidade de problemas que podemos ter pela frente... E outra: é uma explosão por maldade ou necessidade? O que podemos fazer para evitar isso daí, como nos preparar", disse.

Bolsonaro tem insistido na ideia de que pode haver saques e revoltas causadas pela falta de emprego e renda da população.

Em Chapecó, onde foi conhecer medidas tomadas pela prefeito da cidade, João Rodrigues, que supostamente teriam reduzido a necessidade de interação de pacientes --na verdade, de acordo com boletim da própria prefeitura hoje as UTIs estão com mais de 93% de ocupação-- Bolsonaro voltou a dizer que o Exército não será usado para obrigar as pessoas a ficarem em casa.

Dessa vez, no entanto, o presidente não usou a expressão "meu Exército", que foi muito criticada nas últimas semanas, mas "nosso Exército".

Na sequência, voltou a dizer que não decretará lockdown ou medidas de restrição como já foi pedido por governadores, prefeitos e até empresários.

"Seria muito mais fácil ficar quieto, se acomodar, não tocar nesse assunto. Ou atender como alguns querem de mim, para ter um lockdown nacional. Não vai ter lockdown nacional", disse.

O presidente lembrou que nunca foi favorável a medidas de restrição de circulação e reclamou de "apanhar" por ser contrário a elas.

"Eu acho que sou o único líder mundial que apanha isoladamente. O mais fácil é ficar do lado da massa, da grande maioria, se evita problemas, não é acusado de genocida, não sofre ataques por parte de gente que pensa diferente de mim. O nosso inimigo é o vírus, não o presidente, a governadora ou o prefeito", afirmou.

Especialistas têm repetido inúmeras vezes que medidas de restrição de circulação são necessários para conter a disseminação do vírus entre a população, como têm feito vários países ao longo da pandemia.

Por outro lado, Bolsonaro seguiu defendendo nesta quarta o chamado tratamento precoce, que prega desde o início da pandemia, com uso de medicamentos que não têm eficiência comprovada no tratamento da Covid-19, elogiando o prefeito de Chapecó, que disse, em um vídeo compartilhado por Bolsonaro, ter dado liberdade aos médicos da cidade para fazer o "tratamento precoce".

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"Por que essa campanha mundial contra métodos, médicos e quem fala pelo tratamento imediato? Vamos buscar alternativas, não vamos aceitar a política do fique em casa, feche tudo lockdown. O vírus não vai embora. Esse vírus como outros vieram para ficar e vão ficar a vida toda, é praticamente impossível erradicar. Vamos ver nosso país empobrecer?", disse.

O presidente elogiou a ação do prefeito como um exemplo de controle da epidemia sem ter apelado a medidas de restrição. Rodrigues, no entanto, impôs sim medidas que proibiram eventos, fechou bares e restaurantes, reduziu horários do comércio, a partir da metade de fevereiro.