Congresso flerta com precatórios fora do teto, equipe econômica quer parcelamento

Reuters

Publicado 06.08.2021 15:07

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - Enquanto líderes parlamentares flertam com a exclusão dos precatórios da regra do teto de gastos, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, desaprova a ideia como solução para a pressão que essas despesas exercem hoje sobre o Orçamento, disseram duas fontes do time à Reuters.

Dentro do ministério, prevalece a ideia de que a melhor saída para equacionar a questão é dar à União aval para parcelar os precatórios, que são requisições de pagamento expedidas pela Justiça em favor de pessoas jurídicas e físicas após derrotas definitivas sofridas pelo governo em processos judiciais.

De acordo com uma das fontes, a retirada do teto eliminaria qualquer incentivo para a gestão dessa despesa, que tem crescido vertiginosamente e está estimada em cerca de 90 bilhões de reais para 2022, contra 55 bilhões de reais em 2021. A título de comparação, o orçamento do Bolsa Família para este ano se aproxima de 35 bilhões de reais.

Como os precatórios são gastos obrigatórios, sua expansão acelerada acaba comendo espaço, sob a regra do teto de gastos, para outras despesas do governo, incluindo o almejado aumento do Bolsa Família, que tem sido prometido em bases quase diárias pelo presidente Jair Bolsonaro.

A mesma fonte pontuou que a eliminação dos precatórios do teto elevaria o gasto potencial para o próximo ano de maneira muito mais expressiva. A abertura de espaço no Orçamento seria de quase 50 bilhões de reais, ante cerca de 30 bilhões de reais com a alternativa de parcelamento.

"Fazer exceção ao teto é ruim. Começa com isso e termina com o quê?", disse a fonte, em referência à regra que é considerada atualmente a única âncora fiscal do país.

A definição do caminho para diminuir a conta de precatórios em 2022 está hoje no centro de um impasse ligado à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que já tinha sido finalizada no meio desta semana pelo Ministério da Economia.

Havia a expectativa de que o texto, que propõe o parcelamento dessas despesas, fosse rapidamente enviado ao Congresso, mas a tramitação acabou sendo empacada por objeções aos pilares da proposta.

Na véspera, o líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), disse ao jornal Valor Econômico que a retirada dos precatórios do teto de gastos estava sendo discutida e que seria uma alternativa melhor para convencimento dos parlamentares.

Mas uma segunda fonte do governo apontou que a construção com a equipe econômica não fora essa.

"Fizemos o parcelamento para não furar o teto", afirmou.