Dólar avança contra real com preocupações sobre vacina e de olho em fiscal

Reuters

Publicado 13.10.2020 09:15

Atualizado 13.10.2020 10:55

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar engatava forte alta contra o real nesta terça-feira de pós-feriado doméstico, em sessão marcada pela cautela global depois que um importante estudo de uma vacina para a Covid-19 foi interrompido, enquanto os investidores continuavam de olho na saúde fiscal doméstica.

Às 10:31, o dólar avançava 1,04%, a 5,5843 reais na venda, depois de ter operado perto da estabilidade nos primeiros minutos de negociações.

Na B3 (SA:B3SA3) B3, o dólar futuro tinha alta de 0,86%, a 5,584 reais.

O movimento do dólar no mercado de câmbio doméstico acompanhava o comportamento da divisa no exterior, uma vez que peso mexicano, lira turca e dólar australiano, moedas consideradas arriscadas, operavam em queda. O índice do dólar contra uma cesta de pares fortes subia mais de 0,2%.

A onda de cautela global observada nesta terça-feira veio na esteira da notícia de que a farmacêutica Johnson & Johnson suspendeu os testes clínicos de sua candidata a vacina contra o coronavírus devido a uma doença inexplicável em um participante do estudo, adiando um dos esforços mais promissores para conter a pandemia global.

"A cautela dos investidores reflete a divulgação de balanços corporativos nos EUA, as dificuldades de um desfecho nas negociações do Brexit e as notícias sobre a paralisação de testes da vacina", disseram em nota analistas do Bradesco (SA:BBDC4).

Enquanto isso, no Brasil, a agenda fiscal continuava sob os holofotes em meio a dúvidas sobre como um programa de assistência social do governo será financiado sem furar o teto de gastos.

Diante do orçamento apertado, o atraso na agenda de reformas do governo de Jair Bolsonaro, uma de suas promessas eleitorais, segue prejudicando o apetite por risco dos investidores locais.

"As reformas estruturantes continuam cada vez mais necessárias e a insistência do Ministério da Economia e do Banco Central no tema não é à toa, pois em meio aos gastos extraordinários da pandemia, cresceu fortemente o apetite da classe política por gastos que superem o teto legal, ou mesmo que o revejam de alguma forma", escreveu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

No final da semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a chamar atenção para as preocupações fiscais como causa para a volatilidade do mercado. Sobre o atual patamar da taxa Selic, Campos Neto disse que, em razão de questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para cortar ainda mais os juros --atualmente na mínima histórica de 2%--, se existente, deverá ser pequeno.