Dólar supera R$5,65 e real tem pior desempenho no mundo com incerteza fiscal

Reuters

Publicado 01.10.2020 17:07

Atualizado 01.10.2020 17:45

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou na máxima em cerca de quatro meses e meio nesta quinta-feira, acelerando os ganhos perto do fechamento e empurrando o real ao posto de divisa com pior desempenho no dia, em sessão de novo mal-estar sobre questões fiscais.

A cotação negociada no mercado à vista subiu 0,61%, a 5,6531 reais, maior patamar desde 20 de maio (5,6902 reais).

Na mínima do dia, atingida ainda no começo do pregão, a moeda mostrou queda de 0,77%, a 5,5756 reais. Mas o alívio durou pouco, e perto das 11h o dólar já operava em alta, mantida por toda a tarde e reforçada depois das 16h30, período em que a divisa bateu a máxima da sessão, de 5,6652 reais (+0,83%).

O dia já foi de fortalecimento do dólar frente a algumas moedas emergentes, mas a performance pior do real esteve relacionada a um desconforto sobre o recente noticiário relativo à política fiscal.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, admitiu nesta quinta-feira que a criação do programa Renda Cidadã depende de corte de recursos em outras áreas ou alguma medida fora do teto de gastos, já que o governo não tem dinheiro extra, e que o Congresso terá que decidir.

Os ativos brasileiros vêm nesta semana demonstrando mais fraqueza em relação a seus pares, depois da turbulência da segunda-feira, após o governo propor que o Renda Cidadã (programa de transferência de renda que substituirá o Bolsa Família) fosse financiado com recursos para precatórios e verbas do próprio Bolsa Família (que será extinto) e do Fundeb.

Com tamanha reação negativa do mercado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu na quarta-feira o financiamento do novo programa com a junção de recursos de iniciativas que já existem --segundo Guedes, ideia original da equipe econômica--, descartando a limitação ao pagamento de precatórios para tanto. Mas os comentários de Guedes pouco fizeram para amenizar de forma substancial as preocupações.

"O desastre do Renda Cidadã coincidiu com a apreciação global do dólar contra moedas emergentes. O real depreciou mais. Nos últimos dois dias o movimento global tomou outra direção, o governo corrigiu a besteirada, mas o real continuou parado. Entramos em uma crise de confiança", comentou Luiz Fernando Alves, sócio do Fundo Versa.