Reuters
Publicado 26.11.2020 15:50
Atualizado 26.11.2020 17:50
SÃO PAULO (Reuters) - A CoronaVac, vacina contra Covid-19 da chinesa Sinovac que está sendo testada no Brasil pelo Instituto Butantan, poderá ser aplicada no país mesmo que não obtenha registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que receba o aval de agências reguladoras de outros países, disse nesta quinta-feira o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em entrevista ao portal Metrópoles.
Ele disse ainda que a Anvisa está sob suspeita de interferências políticas do Palácio do Planalto e, apesar de a CoronaVac ainda não ter apresentado os resultados preliminares de seu estudo clínico de Fase 3, afirmou que não há outro caminho para a agência que não seja o de dar o registro para a vacina, que ainda não foi solicitado.
"Não há outro caminho que não liberar (a CoronaVac) dentro dos critérios que a Anvisa tem, que são os mesmos critérios de protocolos internacionais de outras agências de vigilância sanitária que também estão avaliando a vacina CoronaVac, nos Estados Unidos, na Europa, sobretudo na Ásia. Essas agências, se validarem a vacina, ela estará validade independentemente da própria Anvisa", disse ele.
No final da tarde, a Anvisa divulgou uma nota na qual afirma que "eventual aprovação de uma vacina pela autoridade regulatória da China NÃO implica aprovação automática para o Brasil".
"O registro de vacinas pela Anvisa tem como objetivo garantir à população brasileira que os requisitos técnicos necessários à fabricação e ao uso em massa da vacina sejam cumpridos", a agência na nota.
"Mesmo após o registro em algum outro país, a avaliação da Anvisa é necessária para verificar pontos que não são avaliados por outras agências internacionais", acrescentou.
O professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina Neto foi enfático ao afirmar que não existe a possibilidade de um medicamento ser aplicado no Brasil sem o aval da Anvisa.
"Sem guerra civil, quem registra medicamento no Brasil é exclusivamente a Anvisa", disse Vecina à Reuters.
No momento, a CoronaVac ainda não teve sequer um pedido de aprovação regulatória feito em qualquer país. Nesta semana foi anunciado que se chegou ao número mínimo de voluntários do estudo infectados pela Covid-19 para se fazer uma primeira leitura da eficácia do imunizante, o que deve ocorrer na primeira semana de dezembro, com a avaliação dos resultados por um comitê internacional independente.
Doria disse, no entanto, que "certamente" a CoronaVac apresentará uma eficácia de entre 90% e 95%, embora esses dados ainda não estejam disponíveis.
Indagado se a vacina poderá ser aplicada no Brasil, mesmo sem registro da Anvisa, mas com o aval de agências de outros países, Doria disse ao portal que sim.
"Pode (ser aplicada). Há um entendimento internacional e uma aceitação, aliás, chancelada pela Organização Mundial de Saúde de que neste caso, diante de uma pandemia, neste caso, sim."
Doria criticou a decisão da Anvisa neste mês de interromper brevemente os testes com a CoronaVac, após o relato de um evento adverso grave em um voluntário, que se revelou posteriormente ser um voluntário que se suicidou. O Butantan disse que o episódio não teve qualquer relação com a vacina.
O governador disse que foi "um episódio triste" na história da Anvisa e que o presidente Jair Bolsonaro, seu adversário político, "influiu" na decisão da Anvisa e afirmou que o episódio colocou a agência sob suspeita.
"Era tudo o que nós não esperávamos é que pudesse ter havido uma intervenção e, de fato, houve. Há suspeitas claras de que houve uma intervenção do Palácio do Planalto junto à Anvisa. Aliás, a melhor prova disso foi uma postagem do presidente Bolsonaro celebrando: eu venci e o Doria perdeu", disse.
"Hoje há uma suspeita de que a Anvisa pode sofrer ingerências políticas do Palácio do Planalto e não ser uma agência independente como deveria ser, como deve ser", disse Doria ao portal.
Procurada, a Anvisa não comentou de imediato os comentários de Doria.
(Por Eduardo Simões)
Escrito por: Reuters
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