Furar teto para ganhar eleições é irresponsabilidade com futuras gerações, diz Guedes

Reuters

Publicado 02.10.2020 19:45

Atualizado 02.10.2020 23:51

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na noite desta sexta-feira que furar o teto de gastos para ganhar eleições é uma irresponsabilidade com as futuras gerações, em meio a discussões sobre a forma de financiamento do Renda Cidadã, programa de transferência de renda que o governo Jair Bolsonaro quer criar em substituição ao Bolsa Família.

"Você furar o teto para fazer política, para ganhar a eleição, para garantir isso daí, isso é irresponsável com as futuras gerações, isso é mergulhar o Brasil num passado triste de inflação alta", disse Guedes, em declaração na portaria do ministério, após ter vindo a público que o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, teria feito críticas ao titular da Economia.

Sem citar Marinho, Guedes disse que o governo vai aumentar os recursos repassados no programa, mas ressalvou que haverá limites.

"Vamos ter que dar uma turbinada neste programa sim. Agora você precisa furar o teto? Não. A arte da política, a essência da política é fazer as escolhas e as escolhas não são simples", disse.

O ministro da Economia disse que "fazer só coisinha agradável para todo mundo para ganhar a eleição é muito bonito, e depois joga o povo no inferno" e disse que cada um ponto percentual de subida dos juros em razão de uma eventual flexibilização nas despesas públicas representa 80 bilhões de reais em despesas para o financiamento da dívida, quase o custo de três Bolsa Famílias antigos, comparou.

Guedes afirmou ainda que uma coisa é furar o teto porque se estava salvando vidas na pandemia do novo coronavírus, acrescentando que, se houver uma segunda onda de Covid-19 com um recrudescimento da doença, "aí sim é o caso de furar o teto".

As declarações de Guedes ocorreram após um dia de estresse do mercado em meio a críticas que Marinho teria feito a Guedes num evento com um grupo economistas pela manhã. É mais um capítulo da disputa entre os dois ministros sobre a condução da política de despesas do governo.

À tarde, a assessoria do ministro do Desenvolvimento Regional divulgou nota negando que ele tenha desqualificado "agentes públicos" na reunião de mais cedo e destacando que a solução do governo para as famílias que dependem de auxílio respeitará as âncoras fiscais.

A nota foi uma referência à informação que circulou nos mercados de que, na reunião, Marinho teria criticado o ministro da Economia e afirmado que o programa Renda Cidadã, de transferência de renda, será lançado de qualquer forma --o que foi interpretado como uma disposição do governo de violar a regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação no ano anterior.

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Os juros futuros disparavam nesta sexta-feira, com taxas de vencimentos do miolo da curva saltando mais de 20 pontos-base, em repercussão ao rumor sobre a reunião.

"A reunião teve o intuito de reforçar o compromisso do governo com a austeridade nos gastos e a política fiscal", diz a nota do ministério do Desenvolvimento Regional.

"Em sua fala, Rogério Marinho destacou que o governo reconhece a necessidade de construção de uma solução para as famílias que hoje dependem da auxílio emergencial e que essa solução será resultado de um amplo debate com o Parlamento, em respeito à sociedade e às âncoras fiscais que regem a atuação do governo."

A nota afirma, ainda, que na reunião não foram feitas "desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos, nem tampouco às propostas já apresentadas".