Poder360
Publicado 29.02.2024 08:05
Lula comete imprecisões ao falar sobre atuação da Vale
PODER360 -- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cometeu imprecisões ao criticar a atuação da mineradora Vale (BVMF:VALE3) em entrevista à “RedeTV!” na 3ª feira (27.fev.2024). O chefe do Executivo tem aumentado o tom das críticas à atual gestão da companhia enquanto tenta emplacar um novo presidente que seja mais palatável ao governo.
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Em uma das declarações, Lula disse que a companhia está vendendo mais ativos do que produzindo minério de ferro. A Vale, no entanto, aumentou sua produção nos últimos anos. Em 2023, produziu 321 milhões de toneladas de minério de ferro, contra 308 milhões em 2022.
Desde 2019, a Vale só fez uma venda de ativos de minério de ferro (no valor de US$ 140 milhões) enquanto fez duas aquisições (que somaram US$ 682,5 milhões).
O presidente também disse que a Vale não pagou pelas “desgraças” causadas pelo rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019. A mineradora, porém, pagou 69% dos R$ 37,7 bilhões do acordo de reparação. Até agora, 15.400 pessoas já fecharam acordos de indenização.
Na entrevista, Lula afirmou que todas as empresas brasileiras devem seguir o pensamento do governo para o desenvolvimento do país. E negou que tenha participado de discussões sobre a sucessão na empresa.
“A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil. Ela não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então, o que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos”, disse.
h2 LULA E OS FATOS/h2A seguir, o que disse o presidente e o que dizem os fatos objetivos relacionados à atividade da Vale:
Vale vende ativos
Além de ampliar a produção de minério, a empresa tem investido na oferta de produtos considerados relevantes para a descarbonização de siderúrgicas. Hoje, a Vale é líder global em produtos premium. Em 2022, respondeu por 37% da demanda de pelotas de redução direta (que usa menos energia no processo produtivo), 31% do consumo de minério de ferro fino de alta qualidade e 25% das vendas de pelotas.
Sobre a venda de ativos, durante a gestão do atual presidente Eduardo Bartolomeo (de 2019 até o momento), a Vale só fez uma venda de ativos de minério de ferro, enquanto fez duas compras. O único ativo vendido foi no Mato Grosso do Sul, em 2022, por US$ 140 milhões, para a J&F. O empreendimento engloba operação de minério de ferro, manganês e também de logística.
Por outro lado, as duas aquisições somaram US$ 682,5 milhões. A 1ª foi a operação da Ferrous Resources, em agosto de 2019, por US$ 525 milhões. A compra ampliou em 4 milhões de toneladas a disponibilidade de minério de ferro de alta qualidade para a empresa com a mina Viga, em Congonhas (MG).
A 2ª aquisição foi anunciada na semana passada. A Vale comprou parte da divisão de minério da Anglo American (JO:AGLJ) Brasil por US$ 157,5 milhões. Com o negócio, a empresa receberá parte do minério de ferro produzido pela empresa canadense no Sistema Minas-Rio, o que resultará em um aumento de 3,8 milhões de toneladas em sua produção.
Mina em Moçambique
A 1ª justificativa foi a decisão da empresa de concentrar-se nos segmentos que são seu negócio principal: minério de ferro e metais para a transição energética.
O 2º componente foi o ambiental. Na época, a empresa divulgou que a venda tinha como objetivo reforçar o compromisso da empresa com as ações de redução de emissões carbono seguindo as premissas do Acordo de Paris. No início de 2021, a Vale já tinha anunciado o objetivo de não mais possuir ativos de carvão, diante da sua meta de se tornar líder na mineração de baixo carbono.
Vale e Brumadinho (MG)
Também foi implementado um programa de segurança de barragens. Desde então, foram eliminadas 13 estruturas do tipo “a montante”. Isso equivale a 43% do total das 30 que foram mapeadas pelo plano. Foram investidos R$ 7 bilhões desde 2019 no programa. Desde janeiro de 2022, já deixaram de ter níveis de emergência 11 barragens. A meta da empresa é não ter nenhuma estrutura em nível de emergência 3 até 2025.
Lula misturou na declaração as tragédias de Brumadinho e de Fundão (Mariana), da Samarco, em que a Vale e a BHP detêm cada uma 50% das ações. Quando o presidente cita a obrigação de construir casas e criação de uma fundação para reparação, se refere ao episódio da Samarco, em que foi criada a Fundação Renova (BVMF:RNEW11).
Até janeiro de 2024, foram destinados R$ 35,1 bilhões às ações de reparação e compensação da Renova. Desse valor, cerca de R$ 14 bilhões foram para o pagamento de indenizações e R$ 2,7 bilhões em auxílios financeiros emergenciais, totalizando R$ 16,7 bilhões para 440,6 mil pessoas. Foram destinados R$ 1,6 bilhão aos municípios mineiros e capixabas impactados pelo rompimento da barragem de Fundão para investimento público em educação, saúde e obras de saneamento infraestrutura.
A Fundação Renova também continua com as obras de reconstrução, recuperação e realocação das localidades do Novo Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira, em Mariana, que foram destruídas pela lama.
h2 DISPUTA POR COMANDO/h2As declarações de Lula contra a Vale são mais um exemplo da insatisfação do presidente com o atual comando da companhia. Com o fim do mandato de Bartolomeo se aproximando (termina em maio), o governo tem pressionado para ter um nome aliado na chefia da mineradora.
Embora a Vale não seja mais uma estatal e atualmente se enquadre como corporation, ou seja, uma empresa com capital pulverizado no mercado e sem grandes controladores, a gestão Lula age através da Previ, o fundo de previdência do Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), que detém 8,7% da companhia.
Lula fez uma 1ª ofensiva pressionando para que o substituto de Bartolomeo fosse o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas recuou depois da reação negativa dos acionistas e do mercado. Desde então, vem buscando outros nomes.
Um dos cotados é o ex-presidente da Vale, Murilo Ferreira, que foi levado ao comando da companhia em 2011 por influência do PT e do governo Dilma Rousseff. Também é ventilado o nome do ex-BB e Cielo (BVMF:CIEL3) Paulo Caffarelli, que também conta com a simpatia de Lula. Do lado dos acionistas, o preferido é o ex-Cosan Luis Henrique Guimarães, que integra o Conselho como integrante independente.
Também está no radar a permanência de Bartolomeo por um mandato mais curto, de 1 ano, para dar mais tempo ao processo de busca de um novo nome. A ideia não agrada o governo, mas tem o apoio de boa parte dos conselheiros.
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Escrito por: Poder360
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