Bancos têm menor rentabilidade em 10 anos com pandemia, mas BC vê melhora em 2021

Reuters

Publicado 07.06.2021 08:38

Atualizado 07.06.2021 13:35

Por Isabel Versiani

BRASÍLIA (Reuters) - A pandemia da Covid-19 derrubou a rentabilidade dos bancos em 2020 ao menor patamar em pelo menos dez anos ao forçar as instituições a aumentar suas despesas com provisões, apontou o Banco Central nesta segunda-feira, destacando que, mesmo com o aumento das incertezas, a perspectiva é de melhora este ano.

"A queda da rentabilidade foi generalizada, afetando bancos de diferentes tipos de controle, porte e segmento de atividade", afirmou o BC em seu Relatório de Economia Bancária divulgado, nesta segunda-feira, que analisou o desempenho do sistema financeiro no ano passado.

Em dezembro de 2020, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do sistema bancário foi de 11,5%, o menor da série histórica do BC, que tem início em dezembro de 2010. No ano anterior, o BC havia reportado um ROE de 16,5% para dezembro de 2019.

As despesas dos bancos com Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa saltaram 30% no ano passado sobre 2019, enquanto as receitas com serviços desaceleraram com a menor atividade econômica, crescendo 2,3% depois de uma alta de 6,7% no ano anterior.

Segundo o BC, a rentabilidade dos bancos privados, instituições que tiveram aumento mais expressivo nas despesas com provisões, caiu mais do que a dos públicos no período. Já em uma comparação que leva em conta o porte dos bancos, a queda foi similar entre os bancos grandes e médios --tradicionalmente mais rentáveis-- e os pequenos e micros.

Para 2021, o BC espera uma recuperação da rentabilidade, a despeito do que apontou como um "aumento da incerteza decorrente da pandemia", que seguirá sendo o principal fator de risco para o indicador.

"O reforço de provisões realizado em 2020 reduz a necessidade de novas provisões em montantes relevantes e a retomada da atividade econômica contribui para o crescimento e a qualidade do crédito, além de favorecer a demanda por serviços bancário", disse o BC.

CONCENTRAÇÃO

O relatório também apontou uma nova redução da concentração do Sistema Financeiro Nacional e afirmou que a queda da fatia de mercado do Banco do Brasil (SA:BBAS3), da Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a partir de 2019 foi um fator "importante" nesse processo.

Os cinco maiores bancos --Itaú, Bradesco (SA:BBDC4), Santander (SA:SANB11), BB e Caixa-- responderam por 77,6% do total de ativos do segmento bancário comercial em dezembro de 2020, ante 81% um ano antes. A concentração dos depósitos totais nessas instituições caiu para 79,1%, ante 83,4% em dezembro de 2019, enquanto no crédito passou a 81,8%, de 83,7%.

Considerando o sistema financeiro total, incluindo também segmentos não bancários, a concentração dos ativos totais nos cinco maiores bancos caiu para 67% em 2020, ante 69,8% no ano anterior.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Ao comentar a redução da concentração verificada desde 2018, o BC destacou que ela ocorreu "a despeito de, nesse período, ter havido onze atos de concentração envolvendo instituições financeiras, sendo a aquisição de 49,9% da XP Investimentos pelo Itaú-Unibanco o caso mais relevante".

O BC também chamou a atenção para a redução da parcela de mercado dos bancos públicos BB, CEF e BNDES de 41,3% dos ativos totais em 2018 para 37,5% em 2020, pontuando que esse movimento se deu em parte com aumento da participação de instituições que não estão entre as cinco maiores, "o que contribui para o incremento das condições concorrenciais".

"Pouco mais da metade da diminuição de concentração é essa realocação de bancos públicos muito grandes para bancos grandes privados, o que tende a ser positivo porque é uma desconcentração também, e metade são atores que não são os cinco maiores bancos ganhando espaço", disse o diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, João Manoel Pinho de Mello.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Ao detalhar o desempenho do crédito bancário no ano passado, que apresentou crescimento de 15,7% no estoque total, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, disse que os dados são os que melhor retratam o impacto da política pública sobre a economia na crise da pandemia.