Taxas futuras de juros têm queda firme em dia de baixa dos rendimentos dos Treasuries e realização de lucros antes do Copom

Reuters

Publicado 01.11.2023 17:24

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - Após a disparada dos últimos dias em função do risco fiscal no Brasil, as taxas dos contratos de DI fecharam a quarta-feira em queda firme, em sintonia com o recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior em dia de decisão sobre juros nos EUA e com investidores realizado lucros recentes, antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que definirá a taxa Selic.

Já no início do dia as taxas dos contratos futuros de juros oscilavam em queda no Brasil, acompanhando o recuo dos yields nos Estados Unidos.

Lá fora, o movimento era motivado por novos dados sobre a economia norte-americana: o Relatório Nacional de Emprego da ADP mostrou que foram abertos 113.000 empregos em outubro no setor privado, ante 89.000 empregos adicionados em setembro. Apesar da aceleração na margem, economistas consultados pela Reuters previam a criação de 150.000 postos de trabalho em outubro.

Os números do ADP contribuíram para uma percepção mais positiva sobre o controle da inflação nos EUA, o que pesou sobre os yields.

Além disso, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou planos para aumentar o tamanho de seus leilões de dívida, mas “gradualmente”, em movimento que não pressionou os mercados como em um anúncio anterior.

No Brasil, desde sexta-feira as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) vinham registrando fortes altas, em movimento disparado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a incapacidade de o governo atingir a meta de resultado primário zero em 2024. Nesta quarta-feira, com o recuo dos rendimentos dos Treasuries, alguns participantes do mercado também aproveitaram para embolsar os ganhos recentes.

“Há uma expectativa de que o Federal Reserve continue com o discurso de que a alta dos (rendimentos dos) Treasuries de longo prazo deve contribuir para o controle da inflação, podendo diminuir o trabalho da política monetária. Isso favorece a desvalorização do dólar no mercado internacional e o fechamento da curva de juros”, comentou durante a tarde o estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG), Luciano Rostagno.

“E no Brasil tem um pouco de realização também. Desde sexta-feira, depois da fala do Lula, houve uma alta significativa (das taxas dos DIs). Hoje (o mercado) realiza”, acrescentou.

No meio da tarde, o Fed anunciou a manutenção de sua taxa de juros na faixa de 5,25% a 5,50%, como esperado, mas deixou a porta aberta para outro aumento no futuro, se necessário. Ao mesmo tempo, destacou as condições financeiras mais restritivas enfrentadas pelas empresas e pelas famílias -- o que está em sintonia com a leitura de que o avanço dos yields pode já estar atuando para controlar a inflação no EUA, dispensando novas elevações de juros.

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A decisão do Fed renovou a pressão de baixa para o dólar ante diversas divisas e reforçou a queda dos rendimentos dos títulos norte-americanos de 10 anos. No Brasil, a curva a termo também fechou um pouco mais.

No fim da tarde, os agentes de mercado aguardavam pela decisão do Copom do Banco Central, marcada para depois das 18h30. A expectativa é de que o BC corte a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, de 12,75% para 12,25% ao ano, em sintonia com as comunicações mais recentes da autarquia.

No entanto, o fato de o risco fiscal ter crescido desde sexta-feira com os comentários de Lula -- inclusive como vem refletindo a curva a termo -- mantinha os agentes atentos a possíveis novas avaliações do Copom sobre a situação das contas públicas.

Perto do fechamento, a curva a termo precificava em 97% as chances de o corte da taxa básica Selic nesta quarta-feira ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 3%. Estes percentuais vêm se repetindo há duas semanas.