Aversão a risco global empurra dólar para perto de R$5,60, máxima em 1 mês

Reuters

Publicado 23.09.2020 17:21

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou nesta quarta-feira, não apenas rompendo a resistência técnica de 5,50 reais como passando a flertar com 5,60 reais, num dia de fortalecimento generalizado do dólar em meio a temores sobre a economia global.

O movimento no câmbio doméstico teve como pano de fundo preocupações com o cenário para o fluxo cambial, a despeito de números positivos das contas externas, e recorrentes receios sobre a trajetória fiscal do país --ambos num contexto de juro não atrativo.

O dólar à vista saltou 2,18%, a 5,5876 reais na venda, quarta alta consecutiva e maior patamar de fechamento desde 26 de agosto (5,6124 reais).

Na máxima, a cotação bateu 5,595 reais, alta de 2,32%.

O Banco Central não interveio no mercado com venda de dólares. A última vez que o BC atuou de maneira mais incisiva no câmbio foi na segunda quinzena de agosto, quando o dólar oscilava perto dos atuais patamares.

"O que tenho dificuldade de entender é a torcida do Banco Central para o câmbio se estabilizar ao invés de subir uma barreira em algum preço, uma vez que ele já está contaminando a inflação e isso pode tirar o carro dos trilhos", comentou Luiz Fernando Alves, sócio do Fundo Versa.

A quarta-feira foi marcada por ampla aversão a risco no mundo, depois de dados nos EUA e na Europa denunciarem desaceleração expressiva no crescimento da atividade empresarial, que vem num momento em que o salto em casos de Covid-19 em algumas importantes economias e a percepção de escassez de opções de ajuda por parte de bancos centrais nublam o cenário para a economia global.

O índice do dólar frente a uma cesta de moedas saltava 0,4% no fim da tarde, batendo máximas em dois meses, com ampla liquidação de divisas emergentes. O real teve o segundo pior desempenho mundial nesta sessão, com a lista de perdas encabeçada por peso mexicano, que sofria um tombo de 3%.

A onda de risco no exterior afeta o câmbio doméstico num momento de fragilidade no campo fiscal, e o cenário para o próximo trimestre deverá seguir sendo de alta volatilidade, avalia o Barclays (LON:BARC), que vê o câmbio com desempenho inferior a seus pares até dezembro.

Mesmo depois de alguma trégua no começo de 2021, analistas do banco projetam que o real voltará a sofrer com as incertezas locais.

"Esperamos que o otimismo do mercado então se esvaia até o fim do ano (de 2021), à medida que a agenda política se tornar mais influenciada pelas eleições de 2022 (no Brasil) e preocupações com sustentabilidade da dívida, limite de gastos, etc provavelmente ressurjam", disseram os analistas.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Alguns profissionais do mercado destacam ainda que o câmbio será pressionado até o fim deste ano também por compras de bilhões de dólares por parte de bancos para ajustes relacionados ao "overhedge", que passou a ser tributado pelo governo.

A disparada do dólar nesta sessão ocorreu a despeito de dados melhores das contas externas. O Brasil registrou superávit em transações correntes pelo quinto mês seguido em agosto, levando o déficit em 12 meses ao menor patamar desde junho de 2018.

Números melhores nas contas externas em tese significam fundamentos mais robustos e menor pressão do lado de oferta de moeda, mas o câmbio contratado segue exibindo fortes saídas de recursos, especialmente na conta financeira --por onde passam fluxos para portfólio, empréstimos, remessas, entre outros.

Apenas na semana passada, o país perdeu na conta financeira 2,880 bilhões de dólares, elevando o déficit em setembro para 3,066 bilhões de dólares. No ano, o rombo chega a impressionantes 50,714 bilhões de dólares.

"Uma performance melhor do real depende bastante da diminuição de saídas pelo segmento financeiro", disse Sergio Goldenstein, consultor independente e estrategista na Omninvest Independent Insights e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.

Outros mercados brasileiros sentiram o baque da fuga de risco. As taxas de juros de longo prazo negociadas na B3 (SA:B3SA3) tiveram um rali de mais de 10 pontos-base, e o principal índice das ações brasileiras caiu 1,5%, indo abaixo de 96 mil pontos, segundo dados preliminares.

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações