BC eleva Selic a 6,25% e prevê terceira alta seguida de 1 ponto em outubro

Reuters

Publicado 22.09.2021 20:23

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual nesta quarta-feira, ao patamar de 6,25% ao ano, e indicou que irá avançar em "território contracionista" ao dar sequência ao seu agressivo ciclo de aperto monetário para domar uma inflação que tem se mostrado mais persistente e disseminada.

O BC sinalizou, em comunicado, que deverá adotar outro ajuste de igual magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em outubro. E adotou um tom mais assertivo ao frisar que sua intenção é avançar com os juros a patamar em que atuam no sentido de esfriar a economia para conseguir com isso conter a inflação.

Antes, o BC havia se limitado a dizer que era adequado levar a Selic para patamar acima do neutro.

"O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques", disse o Copom.

"Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista."

Em pesquisa Reuters, 25 dos 35 economistas ouvidos pela Reuters previram aumento de 1 ponto na Selic, enquanto oito projetaram elevação de 1,25 ponto. Os dois restantes estimaram alta de 1,5 ponto e de 0,75 ponto na Selic.

Esta foi a segunda vez seguida em que o BC ajustou a taxa básica nesta magnitude. Desde março, quando tirou a Selic da mínima histórica de 2% ao ano, o BC já subiu os juros básicos em 4,25 pontos, em cinco altas consecutivas.

Para o sócio e economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont, o BC não pareceu ter um plano para levar a taxa básica além de 8,5%, nível apontado para o fim do ciclo de aperto em pesquisa Focus.

"Se isso é verdade, já estão abandonando 2022. Acho um erro. Como temos na Quantitas mais inflação que o mercado, acreditamos que o BC terá que seguir acima do que imagina hoje e encerrará o ciclo (com juro) próximo a 10%", afirmou.

A decisão do BC desta quarta-feira veio após o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, indicar que a autoridade monetária não mudaria seu plano de voo a cada nova divulgação de dado de alta frequência, desfazendo parte das apostas no mercado sobre uma alta mais pronunciada na Selic após dados recentes de inflação terem surpreendido para cima.

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O BC pontuou que a inflação ao consumidor segue elevada e que a alta em bens industriais deve prosseguir no curto prazo. Também destacou que os preços de serviços subiram a taxas maiores, embora tenha ponderado que o movimento era esperado em meio à gradual normalização da atividade no setor.

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"Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis", destacou o BC.

Nos 12 meses até agosto, a inflação medida pelo IPCA bateu em 9,68%, se distanciando com força da meta central de 3,75%, com margem de erro de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Choques nos preços embalados por fatores como a crise hídrica e a alta do dólar frente ao real, que encarece produtos importados, têm afetado expectativas para este ano e também para o próximo.

O próprio BC passou a ver inflação de 8,5% em 2021, frente a 6,5% antes, conforme projeções divulgadas nesta quarta-feira para seu cenário básico.

Em relação aos anos de 2022 e 2023, que compõem o seu horizonte relevante para a política monetária, as expectativas do BC são agora de inflação de 3,7% e 3,2%, respectivamente, ante 3,5% e 3,2% anteriormente. A meta de inflação para 2022 é de 3,5% e para 2023 de 3,25%, sempre com banda de tolerância de 1,5 ponto.

Ao contrário do BC, que somente neste quarta-feira indicou o IPCA ligeiramente acima do centro da meta no ano que vem, o mercado há algum tempo passou a estimar esse avanço. No boletim Focus mais recente, feito pelo BC junto a uma centena de economistas, as expectativas para o IPCA eram de alta de 8,35% neste ano, 4,10% no ano que vem e 3,25% em 2023.

Para seus cálculos, o BC indicou que abandonou a hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia, passando a adotar as bandeiras tarifárias "escassez hídrica" em dezembro deste ano e "vermelha patamar 2" em dezembro de 2022 e 2023. Antes, a indicação era de bandeira "vermelha patamar 1" em todos os três anos.

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Desde agosto, o BC vinha apontado a intenção de levar a Selic para além do patamar neutro, com a taxa encerrando o ciclo, portanto, em um nível em que atuaria para desaquecer a economia.

Mas os desafios para a autoridade monetária, que também abarcam o lado fiscal e acontecimentos no cenário externo, têm ganhado novos contornos.

Se no quadro doméstico pairam dúvidas sobre o comprometimento com a sustentabilidade das contas públicas diante da pesada conta de precatórios para 2022 e do desafio de financiamento do novo Bolsa Família, na cena internacional as incertezas têm aumentado em meio ao impacto da variante Delta do coronavírus.

No comunicado desta quarta-feira, o BC chamou a atenção para dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes: projeções de crescimento menor para economias asiáticas, exatamente por causa da variante Delta, e o aperto monetário conduzido em economias emergentes em reação a surpresas inflacionárias.

"No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes", disse.

"O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes", completou.