BC eleva Selic em 1,5 ponto percentual, a 7,75%, e indica que deve repetir dose em dezembro

Reuters

Publicado 27.10.2021 18:43

Atualizado 27.10.2021 19:01

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) -O Banco Central aumentou o ritmo de aperto monetário diante da deterioração do cenário fiscal e promoveu uma alta de 1,5 ponto percentual na Selic nesta quarta-feira, ao patamar de 7,75% ao ano, numa tentativa de debelar as crescentes pressões inflacionárias.

Em seu comunicado, o BC também indicou que deve repetir a dose, adotando outra elevação de igual magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 7 e 8 de dezembro.

Diante do cenário mais desafiador e da força da inflação, será necessário ir mais fundo no processo de levar a taxa básica para patamar em que atua no sentido de desaquecer a economia, indicou a autoridade monetária.

"O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante", afirmou o BC em comunicado.

"Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista", completou.

O BC atualizou no documento sua leitura sobre a atividade econômica, pontuando que indicadores divulgados desde setembro mostram uma evolução "ligeiramente abaixo da esperada". E piorou suas projeções para a inflação neste ano e no ano que vem.

"A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis, mas observam-se também pressões adicionais nos itens associados à inflação subjacente", disse o BC.

Esta foi a maior elevação na taxa básica de juros desde dezembro de 2002, quando houve aumento de 3 pontos da Selic, a 25% ao ano, em uma resposta ao derretimento do mercado e à disparada do dólar por temores associados à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.

Desta vez, a subida ocorre após o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciarem que o Auxílio Brasil, como foi rebatizado o Bolsa Família, contará com um bônus extra e temporário no ano eleitoral de 2022, possibilitado por um drible na regra do teto de gastos, que é considerada a única âncora fiscal do país.

Com isso, o valor total do benefício, visto como crucial para impulsionar a popularidade do presidente, subirá a no mínimo 400 reais por família frente a uma média de 190 reais hoje.

Diante da manobra, encarada pelos agentes como um sinal inequívoco de afrouxamento fiscal, investidores que operam no mercado de opções digitais da B3 (SA:B3SA3) tinham aposta majoritária de alta de 1,50 ponto percentual da Selic no início desta quarta-feira, ao passo que economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focus previam elevação de 1,25 ponto.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Antes da decisão desta tarde, o BC havia elevado os juros em 1 ponto percentual em suas últimas duas reuniões do Copom, com a avaliação de que este ritmo seria suficiente para levar a inflação para a meta em 2022, horizonte que vinha destacando estar no foco de suas ações.

Mas para além dos novos riscos no cenário fiscal --com impacto direto no câmbio e no encarecimento de bens importados--, o avanço de preços na economia não deu trégua: o IPCA-15, prévia da inflação oficial, subiu 1,2% em outubro, maior taxa para o mês em 26 anos, acumulando alta de 10,34% em 12 meses.

O desempenho superou estimativas do mercado, apontou persistentes pressões sobre os núcleos --que desconsideram preços mais voláteis--, e levou grandes bancos e casas de investimento a esperarem um reação mais contundente do BC nesta quarta-feira.

Dando lastro à postura mais agressiva que adotou, o BC passou a enxergar uma inflação mais alta em 2022. Agora, a autoridade monetária vê IPCA de 4,1% no ano que vem, ante 3,7% anteriormente, mais distante da meta central de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Para este ano, o BC enxerga inflação de 9,5% (8,5% antes) e para 2023 a expectativa é de alta de 3,1% (3,2% antes), contra metas de 3,75% e 3,25%, respectivamente, também com margem de 1,5 ponto.