Com tensão em Brasília, dólar crava novo recorde e fica a 2,3% de R$6

Reuters

Publicado 12.05.2020 17:13

Atualizado 12.05.2020 17:51

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar cravou novo recorde histórico de fechamento nesta terça-feira, abandonando queda de mais cedo e tomando fôlego na parte da tarde, embalado pelo recrudescimento das incertezas políticas locais em meio à piora nos mercados externos.

A moeda vinha em rota ascendente desde o fim da manhã, embora ainda em queda, e ganhou tração de vez depois das 14h, passando a subir no dia.

A virada ocorreu conforme o mercado reagiu a notícias sobre o conteúdo de vídeo de reunião ministerial durante a qual o presidente Jair Bolsonaro teria dito que, se não pudesse trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça.

Ao pedir demissão do governo no fim de abril, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro acusou Bolsonaro de ter intenção de interferir em inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) e obter acesso a investigações e relatórios de inteligência da Polícia Federal, por meio de interferência política na instituição.

As revelações sobre o vídeo da reunião ministerial vieram no dia em que pesquisa do instituto MDA para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostrou um salto na desaprovação ao desempenho pessoal do presidente e na avaliação negativa do governo, evidência do desgaste de Bolsonaro junto à opinião pública.

Esse conjunto de informações negativas ao governo --que dá sequência aos persistentes ruídos recentes-- afetou todos os mercados domésticos. Os DIs longos dispararam quase 60 pontos-base entre a mínima e a máxima da sessão. E o principal índice das ações brasileiras terminou nas mínimas do dia, em queda de 1,5%, depois de subir 1,6% na máxima do pregão.

"(Isso) está machucando bastante gente. Toda cautela é pouca nesse momento. A incerteza no ambiente doméstico aumentou bastante hoje", disse um estrategista de uma gestora.

No câmbio, o dólar chegou a cair 1,39%, a 5,7430 reais, pouco antes das 11h, mas se fortaleceu a partir de então até alcançar uma máxima de 5,8868 reais (+1,07%) perto do fim da sessão no mercado spot.

A moeda fechou em alta de 0,71%, a 5,8657 reais na venda, novo recorde histórico nominal para um encerramento.