Dólar dispara acima de R$5,40 com discurso vago na questão fiscal de Haddad, cotado para Fazenda

Reuters

Publicado 25.11.2022 17:09

Atualizado 25.11.2022 17:50

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou nesta sexta-feira, superando os 5,40 reais e indo a seu maior patamar em quatro meses após discurso do ex-ministro Fernando Haddad em evento da Febraban, em meio à percepção de que ele é o favorito ao cargo de ministro da Fazenda do novo governo e não deu sinalizações concretas sobre a política fiscal do novo governo ao falar em nome do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

A moeda norte-americana à vista saltou 1,84%, a 5,4079 reais. Foi sua maior valorização percentual diária desde o último dia 10 (+4,10%) e o patamar de encerramento mais alto desde 22 de julho passado (5,4976). Na semana, o dólar avançou 0,61%, a terceira seguida de ganhos.

Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:32 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,70%, a 5,4055 reais.

Haddad defendeu nesta sexta-feira a melhora da qualidade do gasto público, mas não mencionou qualquer mecanismo de controle de despesas, e ressaltou que estava no evento para falar em nome do presidente eleito.

O comentário entre investidores é de que Haddad não deu muitos detalhes sobre como será a postura fiscal do governo Lula, nem sanou dúvidas sobre como será o desenho final da PEC da Transição.

Além disso, a participação do ex-prefeito de São Paulo no evento foi entendida como mais uma evidência de que Haddad será nomeado ao cargo de ministro da Fazenda, embora ele tenha driblado perguntas diretas sobre essa possibilidade e afirmado que não foi convidado para o cargo até o momento.

"Haddad é cotado como ministro mas não deu nenhuma sinalização mais concreta, e Lula também não deu. Isso gerou certa instabilidade no mercado; a gente pode ver o câmbio se desvalorizando, mas muito mais pelas faltas de certezas, acho que é o grande ponto", disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Aos olhos de investidores, Haddad não tem um perfil muito técnico e provavelmente será inclinado a flexibilizações das regras fiscais do país caso assuma a pasta econômica do governo eleito.

Anilson Moretti, chefe de câmbio da HCI Invest e planejador financeiro pela Planejar, também citou preocupações com a PEC da Transição, notando amplo esforço da ala petista dentro do governo eleito para aprovar tetos extra-teto por tempo estendido. A proposta inicial da PEC embute gastos de quase 200 bilhões de reais fora das regras fiscais do Brasil, e por período indeterminado.

Além disso, a dificuldades de articulação do governo eleito com o atual Congresso levaram alguns parlamentares a ressuscitarem a ideia de deixar de lado a PEC e optar por uma medida provisória para liberar créditos extraordinários, no caso de não se conseguir negociar o extra-teto para o programa Bolsa Família para mais de um ano, o que Moretti citou como mais uma incerteza.

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