Dólar fecha em alta após cair 1% mais cedo; ruído fiscal persiste

Reuters

Publicado 15.09.2020 17:05

Atualizado 15.09.2020 17:30

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em leve alta ante o real nesta terça-feira, abandonando queda de mais de 1% registrada mais cedo, com operadores adotando postura mais conservadora diante de novo ruído envolvendo a equipe econômica e o presidente Jair Bolsonaro, tendo de pano de fundo constantes receios sobre a trajetória das contas públicas.

O dólar à vista subiu 0,27%, a 5,2889 reais na venda. Na máxima, a moeda foi a 5,3007 reais (+0,49%), depois de na mínima (atingida ainda na primeira hora de negócios) descer a 5,221 reais, queda de 1,02%.

Na B3 (SA:B3SA3), o dólar futuro avançava 0,28% às 17h19, para 5,2880 reais.

O mercado reagiu com cautela a declaração de Bolsonaro, em tom irritado, de que o governo não irá mais criar o programa Renda Brasil e de que continuará apenas com o Bolsa Família.

A decisão de enterrar o programa veio depois de uma série de informações de medidas duras que a equipe econômica estaria analisando para tentar financiar o programa.

"Quem por ventura vier propor para mim medidas como essas eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa", disse Bolsonaro. A fala, assim, foi entendida como um recado à equipe econômica, chefiada por Paulo Guedes, que já acumula desgastes no governo, e voltou a colocar na pauta incertezas sobre a permanência de Guedes --visto como fiador de políticas de austeridade fiscal-- no cargo.

Porém, durante a tarde, Guedes tentou baixar a tensão ao atribuir a decisão do presidente de acabar com o Renda Brasil a uma posição política que considerou correta após distorção de informação feita pela mídia.

Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia defendido, em entrevista ao Estadão/Broadcast, congelamento temporário de aposentadorias, uma das propostas criticadas por Bolsonaro em vídeo no qual anunciou a desistência do Renda Brasil.

No mercado, o entendimento é que todo esse contexto agrava percepção de dificuldade para se fechar o Orçamento sem riscos a um rompimento do teto de gastos em 2021. A nova "dura" dada por Bolsonaro na equipe econômica, via redes sociais, piora a sensação de perda de força do time de Paulo Guedes nas decisões tomadas pelo presidente Bolsonaro.

Alguns operadores, contudo, lembraram que o programa Renda Brasil seria uma forma de Bolsonaro deixar um legado em termos de distribuição de renda aos mais necessitados, o que gera dúvidas sobre a real disposição do presidente de abandonar a ideia, em meio a melhora em seus índices de popularidade depois da concessão do auxílio emergencial.

O tom de maior cautela do mercado também se deu na véspera das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos, com expectativa de estabilidade nas taxas básicas em ambos os países: 2% no Brasil e zero-0,25% nos EUA.

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