Dólar ameaça perder suporte de R$4,90 e renova mínimas em mais de um ano com cenário de juros mais altos

Reuters

Publicado 24.06.2021 18:01

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar emendou a quarta baixa consecutiva nesta quinta-feira, ameaçando agora o suporte psicológico de 4,90 reais e fechando no menor patamar em mais de um ano, com operadores repercutindo as sinalizações de juros mais altos emitidas pelo Banco Central e o ambiente externo positivo que empurrou Wall Street a novos recordes.

O dólar à vista caiu 1,16%, a 4,9062 reais na venda. É o menor patamar desde 9 de junho de 2020 (4,8885 reais).

A moeda oscilou entre 4,9697 reais (+0,12%) e 4,9023 reais (-1,24%) nesta sessão.

Na semana, o dólar recua 3,26%, aprofundando a queda em junho para 6,11%.

Em 2021, a cotação cede 5,50%, o que faz do real a divisa de melhor desempenho entre as principais. Trata-se de uma impressionante reviravolta, já que a moeda brasileira passou boa parte deste ano na lanterna mundial e chegou a acumular depreciação de 10,38% em 9 de março, quando o dólar bateu 5,7927 reais.

Analistas voltaram a destacar que o ajuste no câmbio segue ditado pelas expectativas sobre os rumos da política monetária doméstica.

Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC precisará adotar uma política de juros mais restritiva do que a prevista pelo mercado no relatório Focus para garantir o cumprimenta da meta de inflação em 2022. As projeções do Focus incorporadas ao cenário-base do BC apontam Selic de 6,25% ao final deste ano e de 6,50% no fim de 2022.

No mercado, as expectativas já estão migrando para a casa de 7% ao fim de 2021, patamar mais de três vezes superior à mínima histórica de 2% que vigorou até meados de março.

"É o poder dos juros", disse Roberto Serra, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos. "O real vai continuar se ajustando à mudança no estoque (de investimentos). A mudança do juro de 2% para talvez 7% é importante e se junta à percepção de que o real estava muito desvalorizado."

"Essa alteração no estoque deve continuar influenciando o mercado. E as subidas do dólar agora tendem a ser mais contidas, e quando ocorrerem vão aparecer vendas", completou, prevendo que o exportador faça mais "hedge" cambial e o importador reduza a demanda por proteção na moeda norte-americana.

No mesmo evento de mais cedo, o presidente do Banco Central avaliou que a recente trajetória de apreciação do câmbio brasileiro pode ser explicada, em parte, por uma melhora do fluxo financeiro. Essa melhora, de acordo com Campos Neto, é uma reação defasada ao superciclo das commodities --evidenciada pelos números da balança comercial-- e também a uma procura de investidores por ativos que combinem crescimento com estabilidade fiscal.

A surpresa com o cenário de juros mais altos tem sido vista não só no Brasil, sinal de que mais mercados emergentes podem terminar o ano com taxas mais elevadas em meio a leituras de inflação mais altas e a temores de debandada de capital conforme cresce o risco de redução de estímulos nos EUA.

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O México elevou sua taxa de juros nesta quinta-feira, em decisão inesperada. O peso mexicano --visto por muitos como o principal rival da moeda brasileira em termos de atração de investimento externo-- saltava 1,6% nesta sessão, melhor desempenho global, com o real vindo na sequência.