Dólar cai mais de 1% ante real com fraqueza internacional da moeda

Reuters

Publicado 19.05.2022 17:06

Atualizado 19.05.2022 18:26

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu acentuadamente contra o real nesta quinta-feira, acompanhando movimento internacional de arrefecimento da divisa norte-americana, embora alguns participantes do mercado continuassem alertando para o ambiente, no geral, menos favorável a ativos arriscados.

Depois de chegar a perder 2,03% na mínima do dia, a 4,8800 reais, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 1,24%, a 4,9194 reais, seu menor patamar para um encerramento desde o dia 4 deste mês (4,9006). Com esse desempenho, o dólar spot ficava a caminho de registrar queda semanal de cerca de 2,7%.

A divisa fechou bem perto de sua média móvel linear de 50 dias, de 4,8947 reais --nível técnico importante que, quando cruzado, pode desencadear ordens automáticas de venda do dólar, derrubando ainda mais seu preço.

O recuo desta sessão esteve alinhado ao comportamento do dólar no exterior, onde seu índice contra uma cesta de rivais fortes chegou a perder mais de 1%, indo a seu menor patamar em duas semanas.

Isso deu gás às divisas emergentes ou ligadas às commodities, com rand sul-africano, dólar australiano e peso chileno, moedas cujo movimento o real tende a acompanhar, subindo entre 1,2% e 2,0% nesta tarde.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG), disse à Reuters que houve uma disparidade entre os mercados de câmbio e de ações nesta sessão: o apetite por risco reinou entre as moedas, tendência que as principais bolsas não acompanharam. (NPT) [.EUPT]

Segundo ele, isso aconteceu porque, enquanto os mercados de câmbio focaram expectativas de que a China estimulará a economia e relaxará seus duros lockdowns de combate à Covid-19, as ações refletiram resultados corporativos decepcionantes de grandes empresas de varejo dos Estados Unidos.

Rostagno afirmou que dados fracos sobre a economia norte-americana --mostrando aumento nos pedidos semanais de auxílio-desemprego e desaceleração num índice de atividade manufatureira do Fed de Filadélfia-- ajudaram a alimentar as perdas do dólar nesta sessão, uma vez que "uma atividade mais fraca do que o esperado pode eventualmente ajudar o banco central americano na tarefa de controlar a inflação".

Embora caia 11,7% no acumulado de 2022, o dólar ainda está 6,8% acima da mínima de encerramento de 2022, de 4,6075 reais, atingida no final de abril, e alguns participantes do mercado enxergam pouco espaço para a moeda revisitar esses patamares em meio ao cenário global cada vez mais arisco.

Estrategistas do Citi notaram em relatório desta quinta-feira que "o câmbio latino-americano enfraqueceu ao longo do último mês, à medida que a aversão ao risco aumenta e o 'carry' se torna menos favorável nesses ambientes de aversão a risco".

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O termo "carry" faz referência a estratégias que lucram com diferenciais de juros entre duas economias. Elas impulsionaram o real no primeiro trimestre deste ano --período em que o dólar caiu 14,5%--, quando um longo ciclo de aperto levou a taxa Selic a dois dígitos, num momento em que o banco central dos Estados Unidos estava apenas discutindo começar a endurecer sua política monetária.

Desde então, o Federal Reserve já começou a subir os juros, a ritmo mais agressivo que o inicialmente previsto pelos mercados, o que tem despertado temores de desaceleração do crescimento global, uma vez que condições mais apertadas tendem a frear o consumo.