Dólar tem maior alta para setembro em 5 anos em mês marcado por temor fiscal; moeda sobe 40% em 2020

Reuters

Publicado 30.09.2020 17:08

Atualizado 30.09.2020 18:05

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou a última sessão de setembro em queda, mas ainda cravou a segunda alta mensal seguida e o terceiro trimestre consecutivo de valorização, períodos marcados por recrudescimento de preocupações fiscais domésticas.

O dólar à vista caiu 0,43% nesta quarta-feira, para 5,6188 reais. O pregão foi volátil, com a cotação indo de alta de 0,49% (para 5,6705 reais) a queda de 0,73% (a 5,6015 reais).

Depois de uma manhã de vaivém ainda mais intenso, em meio à formação da Ptax de fim de mês, o dólar foi às mínimas do dia na parte da tarde depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, defender o financiamento do novo programa de transferência de renda do governo Jair Bolsonaro com a junção de recursos de iniciativas que já existem, descartando a limitação ao pagamento de precatórios para tanto.

O mercado financeiro no Brasil sofreu um chacoalhão nesta semana após o governo informar que o Renda Cidadã seria bancado com recursos para precatórios e com verbas do Bolsa Família (que será extinto) e do Fundeb. Alguns membros do governo e da equipe econômica falaram com economistas do mercado sobre a proposta em conversas privadas, mas não conseguiram acalmar os ânimos.

"Precisamos ver o quanto da fala do Guedes (de hoje) será ouvida pelo governo, se terá recepção no governo, para depois entendermos se ele estava lavando as mãos ou se a equipe econômica lutará por uma solução mais austera", disse Thomás Gibertoni, especialista da Portofino Multi Family Office.

O dólar chegou flertar com 5,68 reais nesta semana, revisitando patamares vistos pela última vez em maio, quando a moeda bateu recorde atrás de recorde. No acumulado de setembro, a divisa subiu 2,52%, o que se soma à alta de 5,02% de agosto. É a maior valorização para meses de setembro desde 2015 (+9,33%).

No terceiro trimestre, os ganhos foram de 3,29%, depois de acréscimos de 4,73% no segundo trimestre e de 29,44% no primeiro. Em 2020, a moeda salta 40,02%.

Em meio a incertezas nos próximos três meses --com a eleição presidencial norte-americana de novembro e a discussão sobre o Orçamento de 2021 no Brasil ocupando os holofotes, além da evolução da pandemia--, a perspectiva é de contínua volatilidade para uma moeda que já é a mais volátil do mundo.

O Barclays (LON:BARC) diz manter posições de "hedge" por meio de compra de dólar ante real via opções, entre outras divisas emergentes. "Esperamos que a volatilidade permaneça alta no real no próximo trimestre, conforme a incerteza sobre as perspectivas fiscais permanece", disseram analistas do banco em relatório recente.

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O JPMorgan, por ora, não mudou seu cenário-base --que assume que o teto de gastos será preservado no próximo ano--, mas reconhece que "o debate fiscal deu uma guinada perigosa para pior" depois do anúncio do financiamento do Renda Cidadã, afirmaram profissionais do banco em relatório.