Dólar começa abril abaixo dos R$4,70 e desvalorização no ano supera 16%

Reuters

Publicado 01.04.2022 17:10

Atualizado 01.04.2022 17:46

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar começou abril com fraqueza e caiu 2% frente ao real nesta sexta-feira, a uma nova mínima em dois anos, marcando uma quinta semana consecutiva no vermelho e aprofundando suas perdas no ano para mais de 16% diante da contínua percepção de ambiente doméstico atraente para investidores estrangeiros.

A divisa norte-americana à vista caiu 2,02%, a 4,6668 reais na venda, maior desvalorização diária desde 30 de dezembro de 2021 (-2,12%) e menor cotação de fechamento desde 10 de março de 2020 (4,6457 reais). O real teve, com folga, os maiores ganhos globais na sessão, consolidando sua liderança no ano até o momento.

Em relação ao encerramento da última sexta-feira, o dólar perdeu 1,69%, marcando sua 11ª queda semanal entre as 13 semanas de negociação completas de 2022.

No ano, a moeda acumula agora baixa de 16,27%, depois de na véspera já ter fechado seu pior trimestre desde 2009, com queda de 14,55% de janeiro até março.

Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, disse que a perda do dia, que foi se acentuando ao longo da tarde, "provavelmente é mais do que já temos visto: fluxos grandes de entrada tanto de exportadores quanto de investidores estrangeiros". Esses fluxos acabam acionando gatilhos de "stop-loss", ou ordens automáticas de negociação de ativos para redução de perdas, o que acentuou o movimento de queda do dólar, completou o especialista.

O dólar vem rompendo patamares técnicos de maneira sucessiva. Depois de na semana passada cruzar a forte barreira psicológica de 5 reais, a moeda foi abaixo de sua média móvel linear de 200 semanas, de 4,7134 reais, nesta sexta-feira, e alguns participantes do mercado enxergam ainda mais espaço para depreciação.

Em relatório, analistas do Bank of America (NYSE:BAC) disseram que as perspectivas tanto para o real quanto para o rand sul-africano "ainda parecem apoiadas e favoráveis, conforme os investidores em mercados emergentes buscam exposição a commodities, 'carry' e acesso razoável a liquidez".

Os preços de produtos do petróleo ao milho dispararam desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Nesse contexto, moedas de países exportadores de commodities, como o rand, peso chileno e peso colombiano acumulam fortes ganhos no ano. O real, no entanto, é líder global de desempenho, principalmente devido ao patamar elevado da taxa Selic.

Juros mais altos por aqui tornam o país mais atraente para estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimo num país com taxas baixas e aplicação desses recursos num país de rendimentos mais altos. O investidor, dessa forma, lucra com o diferencial de juros.